terça-feira, 27 de março de 2012

Um caminho para trilhar juntos...



Havia uma trilha antiga, já bastante esquecida e abandonada, mas cuja beleza e claridade jamais se apagavam. A singularidade daquele caminho, por mais difícil de ser encontrada, ainda atraia andarilhos. É verdade que não eram muitos. De fato, era bem escasso encontrar alguém por lá. Mas, certamente, ainda havia alguns.

Dentre estes, havia um rapaz, caminhando só, meditando em belas preces e se comprazendo no fim ao qual aquela trilha levava, aprendendo a amar a trilha e cuidar dela tanto quanto pudesse, até alcançar o fim.

Em um trecho um pouco distante, sem jamais imaginar haver outro caminhante por ali, havia também uma jovem. Seus passos também eram sós, mas ela andava e cantarolava a alegria de ter encontrado aquela vereda de vida, de flores e montes, e também ansiava profundamente alcançar os tesouros que estavam preparados no fim daquele caminho.

O caminho era a alegria daqueles dois corações. Mas, após um longo peregrinar, o Senhor do caminho, Aquele que a tudo via e a todos guardava, olhou e viu aqueles dois corações alegres, porém sós. E Sua voz ressoou, dizendo: “Não é bom que o homem esteja só... melhor é serem dois do que um, porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro... se dois dormirem juntos, eles se aquentarão... e, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se quebra tão depressa”.

A voz alcançou o coração dele, cujos passos foram se tornando mais lentos e permitindo-o atrasar-se mais no prosseguir. A voz também alcançou o coração dela, que passou a andar mais dedicada e apressadamente, acelerando a caminhada. Foi assim que, sem que um ou outro pudesse imaginar encontrar companhia para seus passos solitários, aqueles dois jovens se encontraram.

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É assim que vejo o casamento hoje: um caminho para trilhar juntos. Encontrar aquela pessoa que está indo aonde você está indo, que, assim como você, ama o caminho e deseja fervorosamente seu desfecho glorioso, mas que, assim como você, caminhava só. Até que a voz do Senhor do caminho ressoa e os une. E o caminhar que antes se fazia sozinho, passa-se a fazer junto. As alegrias da caminhada, antes explodindo apenas dentro de seu próprio coração, agora podem ser compartilhadas. Os sonhos agora podem ser divididos e sonhados, alimentados e vividos também por outra pessoa. O cansaço e as dificuldades agora contarão com uma companhia, uma conversa, um conselho, uma mão cruzada à sua para não lhe deixar desistir. O que antes era individual, passa a ser comunhão – e, então, o que se deseja é andar juntos até o cumprimento da jornada.

É assim que vejo a escolha de um cônjuge hoje: alguém que escolheu o mesmo caminho, procura chegar ao mesmo glorioso lugar, se alegra com a jornada na qual se está empenhando e deseja compartilhar essa caminhada com você. Alguém com quem você deseja compartilhar a sua caminhada. Alguém pra sonhar seus sonhos e cujos sonhos também se tornarão os seus. Alguém para dar as mãos, abraçar e caminhar – até o fim. Alguém para lhe ajudar a amar ainda mais o Senhor do caminho, a não desviar os seus passos das veredas de vida, a manter os olhos no fim que se espera, e a quem você também poderá ajudar em todas essas coisas.

Talvez, e muito provavelmente, meu entendimento sobre o casamento ainda tenha muito o que mudar e amadurecer, como tem sido até aqui. Mas hoje há mais paz, mais segurança de que um dia a voz do Senhor, que tudo vê e a todos os caminhantes ama, irá ressoar dizendo: “Não é bom que o homem esteja só...”. E unirá os andarilhos, para peregrinar juntos. E é essa consciência, de que se está junto para algo muito maior do que nós mesmos, para compartilhar propósitos e alegrias muito superiores, que manterá essa união até o fim – juntos para completar a jornada, rumo Àquele que une e ama.

Por isso, a importância de quem se escolhe para estar ao lado – vocês realmente estão caminhando para o mesmo Lugar? Vocês realmente amam o caminho e desejam cuidar dele e alcançar o seu ápice com semelhante sinceridade? Você realmente poderá compartilhar sua vida, sonhos, propósitos, tribulações, dúvidas com o outro, e receber como suas a vida, sonhos, propósitos, tribulações dele?

Mas, acima de tudo: foi realmente a voz do Senhor que ressoou em seus corações e os uniu, e é o amor a esse Senhor que os faz querer andar juntos – até o fim. É esta a convicção que precisamos para, quando o sol se por e a trilha se fizer escura, quando o canto dos pássaros silenciar e o cansaço seu e do outro chegar, lembrar para quê se está junto e para onde se vai – e permanecer.
 
Um caminho para trilhar juntos – até o fim.