Creio porque eu estava quieta no meu canto, vivendo minha vidinha de adolescente religiosa que achava sua vida quase perfeitinha e exemplar: era uma das melhores alunas da turma, uma filha que nunca deu grandes trabalhos, tinha uma família muito bem estruturada, era uma católica praticante e bem atuante, participava de debates sobre a Bíblia, família, Deus e fé, não saía com rapazes, não ia a festas com tanta frequência, não vestia roupas indecentes, não bebia nem usava nenhum outro tipo de substâncias viciantes, visitava igrejas evangélicas e tinha amigos nelas, me achava alguém bastante espiritual e não via nada em minha vida que precisasse de grande mudança. Achava que conhecia a Deus e andava com Ele. Não pedi pra que nada mudasse – não achava que precisava mudar.
Foi quando recebi um convite pra participar de um encontro de jovens bastante famoso na cidade e o qual eu tinha muita vontade de conhecer. Lembro tão bem do primeiro dia de encontro e da metade do segundo dia, nos quais meu pensamento, ao olhar pra tantos jovens com crises familiares enormes, problemas com álcool e drogas, homossexualismo, violência e outras histórias desastrosas, era: “Como esses jovens precisam de Deus e de transformação em suas vidas! Deus fale com eles nesses dias!”. Em nenhum momento pensei que aquele encontro seria para MIM. Não achava que era um dos que “precisavam” daquele encontro, pois achava que já tinha o que precisava. Mas eu nem imaginava o que iria acontecer.
No segundo dia de encontro, após tantas palestras lindas e outras formas de anunciar o amor de Deus, após ter conhecido pessoas novas e ouvido muitas coisas, houve um momento de “ficar a sós” – nós e Deus, somente. Era um momento em que ficávamos num lugar aberto e, após uma dinâmica, todos se separaram e ficaram sozinhos, e era hora de falar com Deus. Não havia ninguém falando nada. Somente uma música de fundo e um tempo livre para você se aproximar de Deus. E foi ali que Ele se achegou a mim. Eu não pedi, Ele simplesmente chegou. E, sem que ninguém precisasse falar nada, Ele abriu meus olhos, me mostrou o tamanho de minha necessidade dEle, o tamanho de minha distância dEle, o tamanho de minha religiosidade, meu egoísmo, minha vaidade, minha vida controlada por mim mesma – e me disse que tinha outros planos para mim. Foi quando entendi que havia mais para minha vida – e abri mão de todo o resto, de todo o auto-controle, de todos os desejos e prazeres carnais, porque eu queria viver com Ele e para Ele. Com TODA minha sinceridade, posso dizer convicta que, naquele momento, eu nasci de novo. Não falei pra ninguém o que havia acontecido, apenas eu sabia, mas a minha vida jamais voltaria a ser a mesma a partir de então.
Era apenas a primeira de muitas situações como esta: eu achando que já estava “quase perfeita”, totalmente inconsciente da necessidade que eu tinha de Deus, totalmente incapaz de sequer desejar ser liberta de coisas que me escravizavam, e Ele vinha novamente, no mesmo silêncio, na mesma paciência e sutileza, tocava em meus olhos e me mostrava minha real situação. Em cada momento que pude enxergar meu pecado, meus enormes desvios do caminho, meus “erros teológicos”, minha meninice na fé, não foi porque eu simplesmente “quis” vê-los. Eu nem tinha condições de querer vê-los, tão imersa eu estava neles. Foi a Graça dEle. ELE foi lá, me alcançar no meio do caminho errado onde eu me encontrava, e ELE me trouxe de volta. Ele foi testando minha fé infantil e aperfeiçoando-a, até que o amadurecimento fosse chegando paulatinamente, firmado em cada passo dado no passado e presente.
É por isso que eu creio. Porque olho para minha vida e vejo um verdadeiro MILAGRE. Um milagre porque, ao olhar pra tudo o que já houve, não havia NADA em mim que pudesse ter me conduzido até aqui. NADA. Nem mesmo a vontade de dar o primeiro passo veio de mim mesma, quanto mais a capacidade de ser convencida e capacitada a mudar o rumo e recomeçar continuamente. Tudo o que houve foi Ele quem fez. Tudo poderia ter acabado por tantas vezes. Eu me desviei do caminho tantas vezes. Mas Ele continuava lá. Cada “coincidência” era mão dEle. Cada “desastre” era também a mão dEle – livrando-me do que estava por vir.
Não fui EU. Em momento nenhum, como não sou EU agora. Foi ELE e é ELE. Porque eu nunca fui e nunca serei capaz em minhas próprias forças. Porque eu sequer merecia a Ele, pois a verdade é que eu nem O queria de fato e rejeitava a ideia de abrir mão de meus prazeres por causa dEle. E é por essa consciência que eu creio. Sim, eu creio porque Ele me deu FÉ, porque Ele abriu meu coração e olhos, apesar de mim mesma e de minha falta de merecimento. Creio porque a história, sem Ele, seria tão trágica – a menina sem identidade, sem saber nem quem era nem para onde estava indo, a menina que queria se sentir amada e queria ter amigos. E como a história poderia ter se transformado no que é hoje sem ELE? Como poderia haver tanto amor e alegria e sonhos se tudo isso não fosse milagre DELE? Se fosse só EU na história? Não. Não poderia. Seria demais para quem não tinha forças nem mesmo para descobrir-se a si mesma. E hoje as coisas são como são. Isso é BONDADE. Isso é AMOR. Isso é GRAÇA.
Creio porque minha vida e minha história são um milagre DELE. Porque continua sendo. Porque só estou de pé ainda por causa de Sua graça tão grande, pois continuo pequena e frágil. Continuo “erva do campo”. Mas ELE continua sendo DEUS – Aquele que já ERA antes de todas as coisas, Aquele que fundou tudo o que há, Aquele que É e SEMPRE SERÁ, Aquele em cujas mãos está toda a Criação e toda a História, Aquele que é TUDO em TODOS. Ele continua sendo DEUS, e eu continuo sendo HUMANA. Mas Ele ainda insiste em continuar essa obra incompreensível e indescritível em minha vida. E Ele ainda tem tantas histórias assim para realizar em tantas vidas. Basta crer.
“Pois eu tenho por certo isto, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1.6)
É por isso que eu creio.
A ti seja a glória, Pai, por Sua tão grandiosa graça, manifesta em Jesus, e por continuar derramando-a sobre mim. Tudo é Teu!