Cresci ouvindo essa música, e lembro bem da primeira vez em que eu realmente parei para ouvir o que ela dizia. Eu estava no carro com meu pai, e então ela começou a tocar. E eu comecei a chorar. Lembro tão bem de como fiquei envergonhada por estar chorando dentro do carro, e como tentei esconder isso do meu pai. Provavelmente não consegui, mas esse foi o impacto que essas palavras tiveram em mim.
Hoje, essas palavras são cantadas em tantos lugares por aí, mas não sei se as pessoas realmente têm parado para ouvi-las e refletir sobre o que elas falam.
O que elas falam a mim é sobre o real valor de uma família, esta “utopia” para a nossa “sociedade moderna”. Um valor que não está no conforto que se pode oferecer aos filhos, na qualidade da casa, das roupas, dos imóveis, dos empregos... Mas um valor que pode ser encontrado na mais simples moradia, nos mais humildes trabalhos, nas maiores dificuldades financeiras. Um valor que está nos relacionamentos, no amor mútuo, na alegria da companhia, nas lembranças dos momentos felizes que ficarão...
Lembro bem que, desde criança, e principalmente durante a adolescência (e já falei disso por aqui pelos blogs), eu e meu pai costumávamos tirar noites e noites para deitarmos juntos em uma rede e conversarmos sobre a vida. Meu pai contava sobre sua infância e adolescência, cheias de dificuldades materiais, mas também cheia de lembranças lindas. Minha avó nunca trabalhou, somente meu avô, e ele nunca havia completado sequer o ensino médio. Eu não tento ignorar quantas situações ruins meu pai teve que enfrentar por causa disso, o que o faz se preocupar muito com nossa formação hoje, mas sempre me surpreendi muito com a quantidade de lembranças alegres que meu pai tinha pra compartilhar. Seus momentos nos interiores do Pará, com seus primos e tios, onde não havia nem luz elétrica; seus momentos brincando na rua com o irmão e os amigos da vizinhança, com algum brinquedo inventado por eles mesmos, correndo, se sujando, rindo muito juntos; seus momentos curtindo um simples pastelão que o vovô trazia para alegrar a criançada; os banhos de chuva, de poças de lama, de igarapé e de tantas coisas simples, que até hoje fazem parte da sua vida...
Todas essas coisas me marcaram muito. Porque me fizeram pensar em minha infância, e principalmente na infância das crianças de hoje, e como falta todo esse sentimento de “Vida”. Faltam amigos, faltam brincadeiras, risadas, relacionamento. Faltam corridas, chuvas e poças de lama. Faltam choros, brigas com os colegas, planos infalíveis para fugir de casa e encontrar com “a turma”. Faltam lembranças. Num mundo em que os pais tem se dedicado a dar tudo aos seus filhos, as crianças nunca estão satisfeitas com o que têm, nunca realmente entendem o valor do que ganham. E vejo o enorme contraste desta imagem com as coisas tão simples que alegravam a vida difícil de meu pai e seus irmãos, há alguns anos atrás.
Lembranças... Coisas que guardamos vivas de nosso tempo de crianças. Que coisas são essas? São bons momentos vividos juntos, ou são montes de brinquedos, vídeo-games super potentes e os maiores lançamentos das empresas de modernidades que ficam amontoados em um quarto e nunca são usados por ninguém?
Eu posso me lembrar de como era divertido ter um álbum de figurinhas, daquelas revistas sem nenhum atrativo “moderno”, mas sair pra ir na vendinha na rua de trás de casa para comprar os envelopes de figurinhas, pegar uma cola branca para colá-las na revista e descobrir se eu ia ganhar algum brinde! rs. Não tinha nenhum brinde valioso, mas era o máximo saber se os colegas da rua já tinham a figurinha que eu ainda não tinha! Lembro da vez em que fugi de casa, pulando o portão da frente, pra poder ir brincar de Barbie na casa da minha “melhor amiga”, que morava na frente de casa! rs (e de como acabei passando a tarde fora de casa, sem ter dito pra ninguém onde estava! E como meus pais quase morreram de preocupação com isso e me deixaram de castigo umas quantas semanas!! rsrs). Lembro de como era emocionante ter a permissão de meus pais pra ir nas casas de minhas amiguinhas da rua, e brincar com as bonecas delas, ou assistir um filme da Disney, ou cantar e dançar alguma música de “Sandy e Júnior”!! rsrs. Lembro de nossas fotos bem pequenininhos, deitados nos braços da mamãe ou do papai em uma rede, no meio da sala, naquela casa bem pequenininha e sem atrativos, e lembro das músicas que mamãe e papai nos cantavam, e de como elas permanecem na lembrança até hoje.
São lembranças que dinheiro nenhum pode comprar! As tardes pulando o muro de casa pra andar de patins, achando graça das quedas que um e outro tomavam, entrando na construção da casa do vizinho escondidos para fazer uma “análise investigatória” do terreno, correndo do cachorro que se soltou da casa do fulano, juntando um dinheirinho pra ir à mercearia comprar salgadinho... Enfim, lembranças de infância.
Uma época em que nossa casa ainda era simples, em que meus pais batalhavam juntos para estabilizar a situação, andando em nosso fusquinha, depois num chevete, depois em um golzinho velho... rs. Mas foram momentos que jamais serão esquecidos! As idas ao parque, à praça, ao circo... as visitas semanais à locadora, para pegar sempre o mesmo filme: “Turma da Mônica” pra mim e minha irmã, e “Cavaleiros do Zodíaco” pro meu irmão! Hehehe.. E o melhor de tudo: meu pai deitava do nosso lado, e todos assistíamos o filme juntos! Isso sem falar das férias juntos, em nossa praia, andando descalços na lama, atravessando pontes velhas de madeira, caçando conchas e carangueijos, pulando ondas, enterrando um e outro na areia, correndo e dando altas gargalhadas...
Ahhh!! Graças a Deus, eu tive uma boa infância! Com tantas lembranças que não haveria espaço para falar de todas elas. E como é bom tê-las! Hoje vejo tantas crianças que tem tudo, mas não tem nada. Que só sabem falar dos brinquedos que querem ganhar de presente, mas que não tem um sorriso sincero e alegre nos lábios, e que vivem tão carentes de afeto. Crianças que não sabem o que é ter um vizinho com quem brincar. Crianças que passam meses e meses sem deitar junto com seus pais, ou sair com eles, para fazer algo divertido juntos. Crianças que não aprenderam a ser crianças. Que não aprenderam a enxergar que a vida é feita de coisas simples.
São estas coisas simples, sem pompa, sem exagero que espero oferecer aos meus filhos quando for a vez deles de vive-las também. Não espero ter muito dinheiro, espero ter muitas lembranças a deixar. Coisas que o tempo não destrói, e dinheiro nenhum compra. Que meus filhos aprendam a ver a beleza das coisas simples, e alegrar-se nelas. E, assim, entendam que vivem não para “ter”, mas para “dar”, para “ser” aos outros e a Deus! Que nossas lembranças não sejam computadores e televisões de 42 polegadas, mas dias de chuva, dias de rede, de risadas, de amizades, de dominós, de amor...
Dias vividos em Deus!
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