domingo, 27 de janeiro de 2013

Nossas cicatrizes...


Há uns dias, saí com uma amiga e encontrei um rapaz com quem me envolvi emocionalmente há alguns anos. Nunca tivemos nenhum envolvimento físico, nenhum compromisso, nada, apenas sentimentos. Um gostava do outro, apesar disso nunca ter sido declarado abertamente. Éramos amigos, tínhamos muitas semelhanças, sonhos e jeitos parecidos, enfim. Eu inclinei meu coração para gostar dele e alimentei possibilidades. No fim, Deus disse não, nada aconteceu e ele, inclusive, abandonou a fé.

Mas, neste dia em que nos encontramos, depois de muitos anos desde que qualquer possibilidade entre nós havia desaparecido do meu coração (e, por certo, do dele também), pude perceber como estar na presença dele ainda tinha efeitos sobre mim. Não efeitos de trazer de volta aqueles antigos sentimentos, mas de trazê-los à memória a ponto de gerar um certo desconforto. Percebi minha incapacidade em ser neutra em relação a ele, e isso todas as vezes em que nos encontrávamos. Não dava pra, simplesmente, fingir que nunca houve nada diferente entre nós.

E isso me fez parar pra pensar. Pensei em cada rapaz com quem me envolvi sentimentalmente, a quem dediquei minhas emoções, por quem alimentei expectativas, cada rapaz de quem gostei. Lembrei de uns 4 com quem pensei que poderia ter algo, desde quando me converti. Nunca tive nada com nenhum deles além de amizade e alguma amostra de que havia um sentimento recíproco com, pelo menos, 3 deles. Nunca houve declarações (exceto com um - que se declarou), nunca houve contato físico, nunca houve promessas de amor nem nada disso. Eram apenas amizades ou aproximações, mas que geraram envolvimento emocional. E, pensando em cada um desses rapazes, e me imaginando encontrando com eles hoje, pude concluir o mesmo que vi acontecer nesse dia do meu passeio: a incapacidade de ser neutra em relação a eles.

Foi quando Deus me mostrou, muito claramente, as cicatrizes que nossas escolhas deixam em nossas vidas, e a seriedade de cada relacionamento que passa em nossa história. Pude ver com clareza como que, cada vez que nos envolvemos com alguém, especialmente em relacionamentos com intenções (ou práticas) românticas, nós de fato deixamos pedacinhos de nós na vida do outro, e levamos pedacinhos dele conosco. Cada vez que permitimos, inclinamos ou entregamos nossos corações e corpos em um relacionamento, entregamos partes de nossas vidas. E nunca mais poderemos tomar essas partes de volta.

Pude entender o quanto isso é sério quando parei pra pensar no tipo de envolvimento que tive com esses rapazes: não "fiquei" com nenhum deles, não namorei com nenhum deles, sequer houve uma conversa aberta sobre intenções românticas com eles, mas MESMO ASSIM, meu coração foi envolvido de tal forma que o simples fato de encontrá-los hoje gera desconfortos, uma espécie de aflição, uma sensação de perda, de coisas mal resolvidas, de algo que não deveria ter sido, não sei direito. O envolvimento foi tal que, simplesmente, não há como fingir que nunca houve nada, não há como olhar para eles como olho pra qualquer outro rapaz, pra ser indiferente, neutra, pra não sentir nada. Porque um pedaço de mim foi entregue a eles e, ainda que pareça um pedaço tão pequeno, alguns sentimentos adolescentes e bobos, parte de mim ficou lá - e parte deles ficou aqui. 

São nossas lembranças. São as cicatrizes de nossas escolhas. Não importa se tínhamos ideia ou não de que aquela situação deixaria cicatrizes, as cicatrizes ficarão. A verdade é que cada escolha que fazemos em nossas vidas deixará cicatrizes em nós, nos modificará, nos afetará, nos marcará. Cada escolha. As escolhas boas deixarão boas marcas, mas as escolhas ruins deixarão marcas duras de carregar. Sim, em Cristo, nós superamos cada escolha ruim que fazemos, nós ganhamos força para deixá-las para trás e prosseguir para novas escolhas, agora certas. Mas nós não ganhamos a capacidade de apagá-las de nossas memórias e lembranças.

Você nunca esquecerá os caras que você beijou, os caras a quem você entregou seu coração, aqueles a quem você permitiu tocar o seu corpo,  aqueles que lhe prometeram amor eterno e não cumpriram, aqueles a quem você se entregou completamente. Você pode se arrepender dessas coisas e superá-las, deixá-las pra trás, mas não esquecê-las. Sim, Deus irá esquecê-las quando elas forem lavadas pelo sangue de Cristo, mas em sua vida elas continuarão como suas cicatrizes.

E tudo isso me faz refletir em duas coisas primordiais:

1) O preço de nossas más escolhas: a Bíblia é muito clara a respeito do caráter misericordioso de Deus, mas também a respeito de Sua justiça. Deus nos perdoa, mas Ele não deixa nosso pecado impune. Nós iremos receber uma nova chance, mas também precisaremos pagar por nossos pecados. O mesmo Deus que disse que joga nossos pecados no mar do esquecimento, quando estamos em Cristo e nos arrependemos, também nos diz que não podemos zombar dEle: tudo o que plantarmos, colheremos. Isso quer dizer que cada pecado que cometemos, cada má escolha que fazemos, pode sim ser perdoada, mas também deixará marcas em nós. E esse será o preço pelos pecados que cometemos contra o Santo Deus. Deus nos deixa para lembrar qual o salário que o pecado nos paga: a morte de nossas almas. E, assim, ao nos lembrar do preço alto que nos custou nosso erro e nossa maldade, Ele nos lembra também como que Seus caminhos são infinitamente melhores.

2) A seriedade de nossas pequenas escolhas: se pararmos para pensar que CADA PEQUENA ESCOLHA que fazemos deixará marcas permanentes pelo resto de nossas vidas, nós pensaríamos com mais cuidado antes de tomar decisões e de viver nos arriscando e desafiando o abismo do pecado. Fico pensando que, no meu caso, em que não me envolvi de fato com nenhum desses rapazes, já ficaram cicatrizes que eu não posso apagar da minha vida e que não gostaria de tê-las, quão grande deve ser o fardo de quem entregou, além de seus sentimentos, o seu corpo, seu compromisso, sua vida a várias pessoas, e depois viu essas pessoas indo embora de sua vida com quebras, traumas, decepções... É fácil imaginar porque essas pessoas se tornam tão inseguras, carentes, frustradas. Elas foram entregando tantas partes suas para tantas pessoas que já nem sabem mais o quanto ainda restou em si mesmas. E o peso disso quando essa pessoa finalmente se casa com alguém? Nossa, não posso nem pensar no fardo que tantas cicatrizes devem representar!

Portanto, principalmente para nós, jovens e adolescentes, precisamos aprender a ser mais espertos, mais sábios, mais cuidadosos com a vida que o Senhor tem nos dado: com nossos corações, nossos sonhos, nossos corpos, e a forma como temos os usado. Relacionamentos não são brincadeira. Cada vez em que nos lançarmos em um, seja um mero flerte, uma mera ilusão amorosa ou, como eu costumava dizer, simples e inocentes "amores platônicos", nós estamos permitindo que estas coisas entrem para nossa história e permaneçam nela até o fim. E, com frequência, podemos estar construindo para nosso futuro fantasmas que não gostaríamos de ter por companhia. Simplesmente, porque nos deixamos ser tão negligentes e, talvez, inocentes, a ponto de achar que nada disso poderia nos afetar. Acreditem, não só pode como vai. 

Portanto, cuidemos de nossas escolhas. Não precisamos ter tantas cicatrizes assim. Não precisamos ficar distribuindo tanto de nós a pessoas que não permanecerão em nossas vidas. Não deve ser assim. Guardemos o tesouro que o Senhor nos confiou - e que ele se torne um grande motivo para a glória do nosso Rei!

Que o Espírito Santo nos ajude - convencendo, abrindo os olhos, fortalecendo a fé e nos guardando.

Para a glória de Deus, em Cristo Jesus.

2 comentários:

lobo disse...

Amor platônico é a pior coisa que pode acontecer quando se fala em relacionamentos, principalmente quando acontece mais de uma vez.

Digo isso porque mesmo que a pessoa tenha um lembranças de um relacionamento que não deu certo, pelo menos ela tem o consolo de saber que foi bom enquanto durou, já um amor platônico dá a sensação de que a pessoa amada é algo inalcançável (e realmente é) e quando você tem um histórico de muitos amores platônicos, com o passar do tempo vem aquela certeza que nunca vai passar disso, ninguém nunca vai gostar de você.

A primeira garota foi na escola, quando eu era criança, a segunda foi na igreja que eu fazia parte, as duas o máximo que eu consegui foi contemplar de longe, nunca nem troquei um "oi" com elas, e a última e mais intensa foi a que eu conhecia só por msn, passávamos horas da madrugada conversando.
Essa última foi a que deixou cicatrizes mais profundas.

Você tem razão quando diz no final que não devemos nos distribuir tanto para os outros, eu acho até que o certo é nos envolver o mínimo possível, se tornar quase uma ilha, porque como você disse no final, e por experiência própria eu posso dizer também, esses fantasmas nos assombram pro resto da vida.

Aline Ramos disse...

Oi, lobo!! Quanto tempo, hein, meu irmão! Depois de quase um ano, somente hoje li seu comentário aqui no texto! rs.

Então, essa questão de como nos envolver com o sexo oposto é tão complexa, não é? Porque vivemos em dias em que isso é tão normal, esse "apaixona e desapaixona" e os investimentos relacionados a isso se tornaram tão comuns que é difícil pensar em como viver de uma maneira diferente.

Não acho que seja impossível ou que não seja saudável uma amizade entre pessoas solteiras do sexo oposto, mas realmente acredito que precisamos aprender, em Deus, a ser mais sábios nessas aproximações, especialmente quando começarem a gerar sentimentos românticos.

Infelizmente, vivemos tempos em que os corações dos jovens são muito pouco protegidos. As pessoas de autoridade, como pais e pastores, que antes ajudavam o jovem a tomar conta de seu coração e de seus relacionamentos, hoje estão quase totalmente ausentes, e o jovem acabou ficando tendo que lutar essa batalha sozinho, em toda sua inexperiência. E assim vamos nos deixando ir a lugares que nos enchem de cicatrizes que não precisávamos ter.

Não acho que se envolver seja algo errado em si mesmo. O desejo pelo relacionamento com o sexo oposto é algo que Deus criou em nós. Acredito que a questão é mesmo saber lidar com isso de maneira sábia: nem o extremo de se obrigar a não sentir mais nada (desculpa, mas discordo da parte de "se tornar quase uma ilha"), nem o de sempre seguir seus "impulsos" ou sentimentos. Aprender a controlar o impulso, o desejo, a emoção, e entrega-los diante de Deus.

Não é nem um pouco fácil. Mas, precisamos nos dedicar a aprender. Na esperança de que as próximas gerações contem com nossa ajuda para quando forem enfrentar essas batalhas também.

Muito bom trocar ideias com você novamente, meu irmão! Que a graça do Senhor Jesus seja em sua vida, dando paz e consolação ao seu coração sempre! Abraço.