Dividida entre a raiz e as asas. Esse amor tão grande pelo ninho construído: meu aconchego, meu porto seguro, minha história de afetos, minha certeza de pertencimento, meus laços, meus tesouros conquistados e guardados com tanto zelo, ano após ano, luta após luta, superação após superação, entre dores e prazeres, lágrimas e risos, sonhos e insônias - meu lugar para chamar de meu, para saber quem sou. E, ao mesmo tempo, essa vontade louca de voar, essa certeza tão convicta de que há mais, há mais de mim mesma para descobrir, há mais de mim mesma para viver, há mais para construir, há mais histórias de amor, há mais desafios a vencer, lágrimas a chorar, risos para rir, aventuras para desbravar, gente para abraçar, força para desenvolver, espaço para preencher, horizontes para contemplar, sonhos para sonhar, há mais... há muito mais. E esse mesmo coração que quer ir, quer ficar, nessa briga eterna aqui dentro, triste e feliz, cheio e incompleto, pleno e insatisfeito, lutando, guerreando, procurando encontrar um caminho, um lugar, um equilíbrio, tentando descobrir como ser pássaro com raízes fincadas ao chão, ou como ser árvore frondosa com asas abertas ao vento. Ah, coração! Aonde iremos nós assim? Como nos resolveremos? Não sem dores: seja por cortar asas, seja por cortar raízes - nessa dança doída de não poder ter tudo que se ama e que se é nessa vida. Porque uma vida só é pequena demais para tanto amar. Voa e permanece. Ama hoje e amanhã. Vai e volta. E tenta. E não desiste. Um dia, ah um dia!, haverá algum lugar em que contradições poderão conviver pacificamente. E, então, se ser feliz.