sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Recomeços...




Vivo uma fase de descoberta do tempo.
Quando crianças ou adolescentes, até mesmo no início de nossa juventude, não queremos saber muito do "tempo". Tudo parece estar instantaneamente pronto e sempre nos sentimos muito mais espertos do que realmente somos. E é muito interessante quando vamos nos distanciando dos 18, 19 ou mesmo 20 anos. Tudo se torna tão diferente!

Muito dos meus recentes aprendizados têm a ver com o tempo e a necessidade do agir progressivo, mas também paulatino, de Deus através do passar do tempo em nossas vidas. Não de maneira instantânea, mas lentamente. É quando precisamos aprender a diminuir a frequência cardíaca, sentar e esperar. Exatamente o que nenhuma criança gosta de fazer, não é? Ficar quieto, observar e aprender.

Mas essa é uma fase muito gostosa e interessante da vida. A vida passa a ter novas matizes, mais racionais talvez, mais serenas, menos agitadas, mas com uma beleza ímpar. Deve ser a preparação para um futuro de muitas responsabilidades, que se tornam cada vez mais sérias.

Refletindo sobre minha jornada como cristã neste mundo, a "Peregrina" do John Bunyan, uma nova palavra tem ressoado em minhas novas experiências: Recomeços.
Enquanto, antigamente, eu pensava que a vida cristã era de caminhos sempre novos, com paisagens que não se repetiam mas se tornavam cada dia mais iluminadas e belas, tenho descoberto muito mais voltas e retornos nestas estradas. Não retornos contínuos para o zero onde estivemos no passado, mas recomeços. Idas e vindas que muitas vezes nos fazem precisar voltar à práticas antigas que vamos perdendo nos passos em frente que damos.

Acho que o fato é que a vida cristã tem muito menos segredos e metodologias do que costumamos pensar. Nosso mapa não se renova a cada dia: ele permanece o mesmo desde o princípio. E, de fato, me tem parecido correta a conclusão de que as coisas são mais simples do que costumamos pensar, nós é que complicamos.

O que quero dizer é que nossas práticas de perseverança na vida cristã são simples e normalmente não muito variáveis. Facilmente, em momentos de frieza espiritual, podemos perceber que precisamos voltar a práticas que deixamos para trás e que nos levaram ao despertar do espírito e à intimidade da vida com Deus.

"Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras" (Apocalipse 2:5a)

Sim, quedas fazem parte da vida cristã. Momentos de frieza espiritual, dos olhos e ouvidos parecerem fechados. Mas esses momentos geralmente tem um motivo comum: o distanciamento das primeiras obras. O nosso afastar do caminho da vida. E é quando precisamos voltar e recomeçar.

Tenho passado, de um período pra cá, um momento que parece de estagnação. Parece que as coisas pararam de prosseguir, ou pelo menos da forma como eu esperava que ocorresse. E isso tem acontecido com muitas pessoas de meu convívio cristão. E, quando isso ocorre, é como estar empolgado pedalando a bicicleta e achando que irá "ao infinito e além" sob as duas rodas e, de repente, tomar um tombo grande e se machucar inteiro. Não tem como não chorar e se lamentar. Nós fazemos isso. Mas a questão central é: o que acontecerá depois disso.

Todos passamos e continuaremos a passar por momentos difíceis em nossa jornada cristã. Nesses momentos, o brilho do mundo terá uma força de atração muito maior sobre nós e seremos muito mais tentamos a desejá-lo e seguí-lo. Na mesma proporção do crescimento deste brilho, vivenciamos o decréscimo da beleza do Evangelho, da Palavra de Deus, da oração, do avançar espiritual. E, ao sermos confrontados pelo Espírito Santo, lamentaremos e choraremos por isso. Mas não podemos estagnar aí.

É quando precisamos dar ouvidos às palavras de Deus no livro de Apocalipse: lembrar de onde caímos, nos arrepender e voltar atrás, às primeiras práticas que antes buscávamos e vivíamos e que geravam em nós a vida de Deus. É verdade que a vida do Espírito não vem por nossas obras, mas pelo agir de Deus, mas existem instrumentos que o Senhor usa para trazer Sua vida a nós - e estes instrumentos, essas práticas, é que somos instigados a procurar.

Hoje estou recomeçando. Olhando para trás e vendo quantos bons hábitos, que antes geravam desejo de Deus em meu coração e mente, acabei abandonando: tempo para leitura de bons livros cristãos, para ouvir pregações de grandes homens de Deus, para ouvir a Palavra e meditar nela, para ter boas conversas espirituais com meus irmãos em Cristo, para parar e conversar com Deus... coisas que, à medida que as vivemos, vamos nos acostumando e, assim, tendendo a nos tornar menos sensíveis à capacidade de despertamento que elas tem sobre nós.

É necessário, então, olhar para trás e descobrir onde caímos, porque sempre existe um ponto específico. Em que curva nos desviamos da estrada principal. O que abandonamos. E voltar até lá - e recomeçar de onde paramos. Não mais como éramos quando estivemos lá pela primeira vez. Não começando do zero de novo, pois nunca saímos os mesmos depois dos ensinos de Deus em nossas quedas ou desvios. Recomeçamos novos, para uma nova jornada, mesmo que pelos mesmos caminhos. As estradas permanecem as mesmas, mas o andarilho é diferente - e isso muda tudo.

Nossos recomeços são, então, de fato, novos começos - sempre melhores. Resta descobrirmos isso e Aproveitarmos.

Ficam as palavras do Palavrantiga:

"Quando espero a chuva chegar, Tu vens com Teu vento.
Quando espero Tua voz estrondar, Tu vens com o silêncio.
Eu espero em Ti, embora sem saber como Tu dirás
Eu não sei, mas esperarei...

Quando espero o mar se abrir, vejo meus pés sobre as águas.
Quando espero o fogo arder, ouço a brisa suave.
Eu espero em Ti, embora sem saber como Tu dirás
Eu não sei, mas esperarei...

Mesmo sem saber como Tu dirás,
Dentro de mim reinará a Tua paz
Que me faz saber: esperar em Ti é sempre caminhar...

Caminhar contigo..."

[Esperar é caminhar - Palavrantiga]