sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Amigos, esperanças e desesperanças...





Mas reservarei em Israel sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal, e cujos lábios não o beijaram.

1 Reis 19:18

 "Mas reservarei em Israel sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal, e cujos lábios não o beijaram" (1 Reis 19.18)

Mas reservarei em Israel sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal, e cujos lábios não o beijaram.

1 Reis 19:18


Tenho voltado a refletir, nos últimos dias, sobre a importância e necessidade de boas amizades em nossas vidas. 

Lembro-me da época em que os blogs cristãos explodiram na internet brasileira. Há uns 5 ou 6 anos criei o Sonhando na Contramão e, alguns anos depois, o Mulheres Virtuosas, e lembro quantos amigos preciosos fiz através desses instrumentos. Acompanhávamos as reflexões uns dos outros, nos reconhecíamos nas lutas uns dos outros, sentíamos que não estávamos sozinhos, tínhamos tanto a compartilhar, e aquilo inundava nossos corações de alegria e de desejos, de sonhos, de esperança, de vontade de participar da transformação desse mundo, da nossa geração e das gerações futuras. Que tempo incrível! Confesso que ainda olho para ele como o período áureo da minha vida cristã! Que paixão! Quando penso em Apocalipse falando do Primeiro Amor, lembro dessa fase, além da época da conversão (porém, esta, um pouco mais imatura).

Porém, 5 anos depois, lembrando das conversas tão edificantes e apaixonadas por Deus que eu tinha com tantas pessoas, meu coração entristece pois vê quão poucas delas permanecem ainda hoje. Quantas ficaram no caminho. Algumas simplesmente cansaram e acomodaram, outras foram sufocadas pelos tantos compromissos deste mundo e assim esfriaram, outras se frustraram e abandonaram a fé e escolheram o mundo... Lembro dos grandes sonhos que sonhávamos juntos, sonhos de mudar o mundo, de entregar nossas vidas, de santidade radical, de entrega... e vejo quantos desses sonhos morreram. Quantas daquelas pessoas com quem eu sonhava, hoje já não sonham mais – ou não com aquele brilho no olhar.

E eu confesso que todo esse quadro me deixou tão desanimada, mesmo desesperançosa. Quantas vezes parei para questionar se tudo isso que construí, ou que acredito que Deus esteve construindo em minha vida nos últimos anos, não é castelo de areia, que o mar vai bater e vai levar, que o vento vai acabar destruindo, porque não é castelo de verdade, é só areia. Eu me chocava ao ver jovens cristãos assustados ao saber que, aos 27, eu nunca havia namorado, mas não de uma maneira positiva, mas daquela maneira “Qual o problema dela?”. Me chocava ao vê-los tratando o relacionamento amoroso cristão de qualquer maneira. Me chocava ao vê-los não se importando em tornar-se cada vez mais parecidos com o mundo. E eu desanimei. Entristeci. Me senti só. Meus companheiros já não estavam comigo, alguns porque começaram relacionamentos e precisaram afastar, outros por causa da vida corrida de trabalho e compromissos (como eu!), outros porque simplesmente já não acreditavam no que acreditávamos no passado... o fato é que passaram. E, eu não percebia mas, é tão difícil nadar contra a maré sozinho. Parece que ela sempre será mais forte que a gente.

Mas, então, nos últimos dias, Deus me abençoou com momentos tão preciosos. Como quando Elias desesperou ao ver que os profetas de Baal só se multiplicavam, enquanto os profetas do Senhor Deus desapareciam cada dia mais, e ele se sentiu sozinho diante de uma batalha tão maior do que ele, e quis desistir, e quis ir embora, e quis abrir mão de sua própria vida, pois parecia não haver mais esperança; naquele momento, Deus o levou a uma caverna, tratou da sua dor, falou com ele e lhe revelou que ainda havia um remanescente que também não havia se rendido a Baal. Ele não estava sozinho! Mesmo que não pudesse ver.

Acho que passei por essa experiência de Elias, nos últimos meses. E dois amigos muito especiais em minha vida foram as pessoas usadas por Deus para me mostrar que eu não preciso desistir, que ainda há guerreiros espalhados por aí, crendo e lutando, e fazendo parte da minha história. Duas pessoas que começaram essa caminhada ao meu lado, há uns 5 anos, através deste blog, e que, pela graça de Deus, nunca mais saíram da minha vida – e ainda hoje são usados pelo Pai para continuar me abençoando e fortalecendo minha fé: Lívia Eller, minha mana linda e minha amiga virtuosa de Volta Redonda/RJ, e Lucas Louback, esse guerreiro de Deus, também lá do Rio de Janeiro, a quem sou grata por poder chamar de amigo e que tem me mostrado uma fé tão genuína e um exemplo de vida rendida ao Senhor e usada por Ele. Que tesouro olhar para suas vidas!

Quando estive me deixando convencer de que deveria ou poderia reduzir meus padrões de relacionamento e que poderia me aproximar sem tanto cuidado de um certo rapaz, lá estava minha companheira, Lívia, andando com Deus, ouvindo de Deus, refletindo, aprendendo e me lembrando dos padrões que juntas aprendemos do Pai e sendo minha força para decidir pelos caminhos certos e, principalmente, para realmente crer que eles são os melhores – infinitamente melhores – caminhos. Lembro quando nos conhecemos e lá estava ela pedindo conselhos sobre relacionamento. E hoje é minha conselheira linda e inspirada por Deus! Sua perseverança, seu amor por Cristo, seu desejo de honra-Lo com sua vida, de ser guiada por Ele e de sempre optar pelos caminhos que vêm dEle foram a inspiração que eu precisava! Me fizeram desejar todas essas coisas de volta para minha vida e não desacreditar do valor precioso de ser uma Mulher Virtuosa. Ela tem sido meu exemplo de Mulher Virtuosa - lutando para sê-lo. Essa é a parte tremenda dos relacionamentos cristãos: quando um está fraco, o outro está forte, e assim fortalecemos um ao outro. Graça.

E quando eu passei um ano quase inteiro questionando sobre meu chamado, minha missão, tentando entendê-la e ter fé suficiente para seguir a direção do Pai, seja ela qual for, olho para a vida do Lucas, enfrentando algumas dificuldades tão grandes, que poderiam ter afetado sua fé, e o vejo tão firme, crescendo em Deus, tendo seu chamado tão confirmado e sua vida tão direcionada, sendo usado de maneira tão bonita pelo Pai e, poxa vida, como isso alegra e enche de esperança meu coração! Olho para sua vida e minha fé no futuro é fortalecida, de que o Senhor também me guiará rumo à Sua vontade!

Que preciosas são as boas amizades! Aquelas amizades que refletem a Cristo, à graça de Deus, ao Seu poder, soberania, santidade, pureza; que nos aproximam dEle, que nos fazem deseja-Lo mais e amá-Lo mais; que O tornam mais precioso aos nossos olhos e corações! Ah... elas são oásis em meio ao deserto desta vida! São instrumentos pelas quais Deus se torna nosso refúgio e nossa fortaleza! Precisamos delas! Lutemos por elas! Tiremos tempo para cultivá-las e desfrutá-las, tempo para conversar com pessoas assim, para ouvi-las, para nos confessarmos, para deixar Deus trabalhar em nós. Precisamos disso! 

E meu desejo é estimular a cada um que, no meio deste mundo louco em que vivemos, das vidas corridas e dos tempos sempre tão preenchidos por coisas que nos cansam, nos abatem e esfriam nossa fé, a encontrar essas pessoas de Deus, cristãos genuínos e apaixonados pelo Senhor, inconformados com este mundo, e a ter tempo com eles. Abrir mão de uma noite de trabalho para ouvi-los. Porque assim estava minha vida, corrida e estressante e, assim, quase sem esperança, mas encontrar essas pessoas, mesmo a distância, mesmo com menos tempo do que realmente gostaria, e saber de suas vidas, foi um dos grandes instrumentos que o Senhor usou para fortalecer a minha fé!

Nosso Pai nos dê amigos-irmãos, para Sua glória!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

La vie...


Ai, ai... a vida, a vida...

Parando pra olhar pra trás, sempre me pego contemplativa sobre a vida. Quantas coisas.

Quanto já se passou, quanto já mudou, quanto já mudei. Quanto minhas convicções, minhas crenças, meus sonhos, meu eu já foram testados, e continuam sendo, nessa estrada cheia de curvas que é a vida. Quanto de mim já ficou pelo caminho, e quanta coisa nova se acrescentou. Pessoas que eu pensei que ficariam pra sempre, hoje já não estão e, mesmo continuando a fazer falta, passaram, como a vida passa. Mas gente nova também se achegou. E a verdade é que eu vivo assim, nessa labuta de perder e ganhar, sem querer abrir mão de tanta coisa, cheia de saudade, em minhas paradas nostálgicas, relembrando e desejando voltar. Tenho parado por aqui para relembrar de mim mesma, aquela menina sonhadora e sempre cheia de inspirações e coisas para contar. Sinto saudade dela, muitas vezes, nos dias de hoje. Acho que ela chegou na adolescência e/ou juventude, e aquela fase sempre barulhenta e corrida de se definir aonde se vai. E, nessa correria, às vezes precisa mesmo se obrigar a aquietar e ser menina de novo. Vou e volto a este canto, para reaprender o que já havia aprendido, relembrar o que não pode ser esquecido, olhar novamente para o mapa e manter o foco no plano. E isso é tão bom... Ainda vivo esperando ansiosamente o porvir, mas talvez com mais calma agora, com mais paciência. Ver alguns sonhos se aproximando mais e mais e poder sentir paz, no lugar das antigas palpitações e dilatações da pupila, é algo muitas vezes estranho, mas também é bom, eu acho. Tô tentando aprender isso também. Acho que tenho dificuldade em compreender essa nova fase, esse processo de transição e quanto se deve lutar pelas coisas dos passos iniciais. Mas acho que, um dia, vou acabar entendendo. O fato é que o rio continua correndo, e a vida também. E a melhor conclusão que posso ter, sempre e sempre, depois de todas as minhas meditações, no outono ou no inverno, na primavera ou no verão, é que Ele continua aqui. Ah, meu grande alívio! Minha grande esperança! Minha força sobre todo e qualquer tempo! No fim, Ele tem me feito concluir, por graça, essa graça infinita e quase inacreditável, que Ele continua aqui. E continuará. Sempre. Sempre. E como Ele me ajudou a dar os primeiros passos, como Ele me ensinou a andar e, depois, a correr, Ele é quem continuará me ensinando os passos, grandes e pequenos, para prosseguir. Meu guia a me mostrar para onde dobrar. Meu protetor na hora do perigo. Meu sustentador na hora da fraqueza. Meu consolador e meu amigo. Meu Pai e meu Salvador. Sempre. Sempre. Ele esteve no meu passado. Ele está agora. E Ele já está lá na frente, em qualquer que seja o futuro que me espere. Ele estará lá. E que tesouro mais precioso eu poderia ter? Ele estará lá! Posso descansar. Eu posso me alegrar! Posso ter a certeza de que serei feliz – pois Ele estará lá!

Eu não sei o que virá. Não sei quantos dos tesouros que hoje me são tão valiosos permanecerão. Não sei quanto de mim mesma permanecerá. Mas de uma coisa eu tenho certeza: meu Senhor estará lá esperando por mim, preparando tudo para mim. E é assim que meu coração encontra paz, e fé, e força para ir em frente. E ser feliz.


Vamos caminhar...

sábado, 5 de abril de 2014

Continuo por aqui! ^^

Olá, meninas queridas, companheiras fiéis do Mulheres Virtuosas! (E aos rapazes também! ;])
 
Resolvi passar para dar notícias a vocês, muitos dos quais se tornaram verdadeiros companheiros dessa jornada cheia de mistérios e desafios que é ser um jovem cristão! Eu ainda nem posso vislumbrar o fim do caminho, e quanto mais acho que já sei algo, mais percebo quanto há infinitamente mais pra aprender! Mas isso também é bom demais de viver.
 
Bom, hoje quero dizer pra vocês que continuo aqui: os 27 anos se aproximando, meu coração de passarinho sempre sonhando com romper os limites e voar rumo ao horizonte ou à montanha mais alta, ainda esperando para ver o que o Senhor está reservando para os próximos capítulos dessa história e em qual virada de página o cavalo branco aparecerá (rs), mas confesso pra vocês que estou em um tempo bem gostoso da vida.
 
Gostaria de dizer a vocês que estão enfrentando aqueles anos "maravilhosos" em que a ansiedade pelo futuro vive puxando a beira da nossa saia e pedindo toda a nossa atenção: há esperança para vocês! Mantenham a calma, respirem fundo e continuem caminhando! rs.
 
Talvez muitas moças, ao se aproximarem dos 30, fiquem ainda mais ansiosas e amedrontadas com o porvir, parecendo que a areia do reloginho está acabando e nada da cena mudar... mas afirmo a vocês que não precisa ser, necessariamente, assim. Pessoalmente, tenho vivido um tempo bem diferente.
 
Como muitas de vocês, acredito eu, já tentei resolver essa equação matemática quase impossível - encontrar o cônjuge ideal - com minhas próprias pernas e minha "super-hiper-mega inteligência" muitas vezes, mas tenho um Pai tão perfeito e amoroso que Ele sempre corta minhas asinhas antes que alguma tragédia aconteça. Ele é tão cuidadoso conosco! Então, depois de tanto tempo, acho que a gente vai aprendendo mesmo. Louvo ao meu amado Senhor pela paciência em me ensinar. E esse tempo de ver que o coração está aprendendo é um tempo tão agradável!
 
Aprender a descansar, de verdade, sempre foi um desejo muito forte em meu coração, e um desafio também, tamanha sempre foi minha ansiedade de ver as coisas acontecendo. Mas acho que, finalmente, a coisa está se consolidando. No entanto, devo compartilhar com vocês aquilo que eu acredito ser a chave - ou uma das - para esse momento de maior quietude: descobrir, no fundo do coração, que existem coisas ainda maiores de Deus para nossas vidas do que um casamento.
 
Ah, meninas, como é bom descobrir isso! Como compartilhei no penúltimo post, em novembro do ano passado fiz minha primeira viagem missionária, para o Senegal/África, e como isso modificou minha maneira de ver a vida! Relembrei que temos uma missão nesse mundo, não estamos a passeio e, mais do que nunca, compreendi que viver isso é a coisa de maior valor que podemos ansiar para essa vida. Muito, muito mais do que ansiar por um casamento!
 
Desde então, o Senhor tem colocado meus olhos em lugares mais altos, em sonhos mais altos: representa-Lo, sinalizar Seu amor e fazer parte do estabelecimento do Seu Reino nessa terra! E, por mais que eu continue sonhando ardentemente com aquele com quem dividirei esse caminho, tenho plena convicção de que participar da Missão que Deus está realizando nesse mundo é infinitamente melhor do que ter alguém ao meu lado. Hoje falo com toda a sinceridade que, se precisasse escolher entre um e outro, por mais difícil que fosse tomar essa decisão, eu não hesitaria em abrir mão de um casamento. Ainda sonho com ele, com o companheiro que sonhará e viverá esses sonhos junto comigo, e ainda creio que ele chegará - mas seguir a voz de Deus que me chama para trabalhar em Sua Seara, hoje, aqui onde estou, e no futuro, nos confins da terra, enchem muito mais o meu coração de alegria!
 
Então, talvez esse seja um dos segredos que precisamos aprender para lidar com as expectativas de nosso coração pela chegada do tão esperado casamento: descobrir, ou relembrar, que existem sonhos ainda mais elevados e ainda mais belos! Nosso tempo solteiros não é à toa e, de maneira nenhuma, é tempo perdido! Como tenho louvado ao Senhor por ainda estar solteira, desde que voltei da África, pois sei que não poderia estar investindo minha vida nas direções que o Senhor tem me dado hoje, da maneira como tenho feito isso hoje, se eu estivesse casada. Infelizmente, tenho visto amigas que sonhavam a missão junto comigo e que, hoje, casadas e com filhos - com um de meus grandes sonhos realizados - deixaram o chamado do Pai se perder e se acomodaram. E como agradeci a Deus porque isso não aconteceu comigo! Graça infinita dEle. Tenho percebido tão claramente o valor de estar solteira, e como Paulo estava certo quando falou que, estando solteiros, podemos nos dedicar mais fervorosamente a Deus! Que verdade! Por isso devemos usar da maneira mais profunda possível, com a maior entrega possível, o tempo que o Senhor ainda tem nos dado como solteiros!
 
Se essa ainda é a sua situação, não se queixe por isso - aproveite! Viaje, estude, se capacite pra obra que o Senhor tem pra tua vida, rompa barreiras, invista tempo na obra do Senhor, dedique seus dons a Ele e dedique-se a aperfeiçoa-los. Chegará o tempo em que precisaremos, necessariamente, desacelerar, para investir em outras coisas. Que, quando este tempo chegar, não tenhamos do que nos arrepender, por não termos dado o melhor de nossas energias enquanto jovens e solteiros, ao Pai!
 
Espero ter notícias de vocês também! Nosso MV caminha em seu 5º ano, e quantas coisas mudam em nossas vidas em 5 anos! Sinto-me extremamente feliz por ver que o Senhor continua usando esse espaço para Sua glória e a edificação de Sua Noiva, e que os sonhos que Ele plantou há mais de 5 anos neste coraçãozinho aqui continuam cheios de vida e também amadurecidos. Espero que assim esteja sendo com vocês também! Espero vocês por aqui, para esse compartilhar de experiências, de como está sendo a caminhada, das dúvidas, dos medos, das alegrias e vitórias, dos aprendizados. Isso é ser Corpo. E espero que este lugar continue a ser benção em nossas vidas. Obrigada por compartilharem dele comigo!
 
Que a Face de Cristo continue a resplandecer sobre nossas vidas - e através das nossas vidas - cada dia mais!
 
Ah, e aos cariocas de plantão (ou os das proximidades!), fica o convite para um super evento sobre Vocação aí no Rio de Janeiro/RJ, nos dias 01 a 03 de Maio/14: SIM, TODOS SOMOS VOCACIONADOS - VOCAÇÃO 4D, na PIB do RJ. Quem sabe não nos encontramos por lá, não é? :D \o/ [http://www.vocacao4d.com.br/]
 
 
Paz e amor do Pai reinem sempre em nossas vidas!
 
Com amor, esta irmã de sempre... ^^
 
 

Desacelerar...

 
Coisa boa na vida é mesmo desacelerar. Boa e necessária. Que ritmo frenético nos impomos, a tal ponto que vamos perdendo aquele doce dom de contemplar. Deitar numa rede, olhar as estrelas - ou mesmo o céu escuro - ouvir o silêncio da noite. Não falar, não precisar pensar em nada especial, só parar e contemplar. Talvez, até mesmo em nosso caminhar com Deus, tenhamos sido infectados pelo utilitarismo e pragmatismo de uma maneira tão sutil e gradual que fomos nos tornando ativistas sem perceber. Sempre preocupados, sempre com tanto a fazer que, como Marta, pelo muito zelo, tendo o Mestre ao seu lado, não conseguiu entregar o coração: quase perde a melhor parte. Como precisamos aprender com Maria, que sentou e adorou: e foi o Mestre quem falou que ela havia escolhido a melhor parte. Fazer silêncio, aquietar, cobrar menos, fazer menos. Só ouvir, sem precisar falar. Sem saber a coisa certa a falar. Se deixar amar e cuidar. Receber. Estar. Eis um dom que preciso aperfeiçoar. Desacelerar. Simplificar. Viver o que é essencial. Viver o que vale a pena. Concede-me, Senhor.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Outra visão sobre a missão...



Meus queridos amigos e irmãos companheiros do Mulheres Virtuosas, quanto tempo! É com tristeza e pedidos de perdão (a vocês e a Deus!) que lembro que já faz quase 1 ano desde minha última publicação aqui no blog, mas também com alegria e esperança que posso dizer que o Senhor continua falando e ensinando a esta sua irmã aqui dos extremos do Brasil.
 
Aqueles que acompanham o blog com alguma frequência e há algum tempo devem lembrar de minhas menções sobre meus sonhos com o chamado missionário e minhas reflexões sobre missões. Pois é com todo louvor e gratidão a Deus que venho compartilhar com vocês um grande passo na realização destes sonhos antigos e ainda tão presentes: minha primeira viagem missionária.
 
Em novembro de 2013, participei de uma caravana de voluntários da Junta de Missões Mundiais (JMM) da Convenção Batista Brasileira (CBB), denominada Com.Vocação JMM. Eu e mais 5 jovens profissionais das áreas da saúde, educação e esportes fomos apoiar um trabalho missionário realizado em Dakar, capital do Senegal (noroeste da África), chamado Fábrica de Esperança. Durante 12 dias, realizamos atendimentos à comunidade através da fisioterapia, odontologia, orientação para professores pré-escolares, orientação vocacional a filhos de missionários e escolinha comunitária de futebol, conhecemos a Igreja de Cristo naquele lugar e nos alegramos com nossos irmãos e a fé tão forte e fiel a Cristo, contemplamos o poder e fidelidade do nosso Senhor aos Seus filhos naquele lugar de tantos desafios espirituais, e tivemos o privilégio, proveniente apenas da graça do Pai, de participar do que Ele tem feito ao redor deste mundo. Foram dias inesquecíveis!
 
Eu tenho tantas coisas que gostaria de compartilhar com cada um sobre o que vivi e aprendi nesses 12 dias, coisas que até hoje ainda estão se revelando mais à minha mente e coração e aprendizados que ainda estão se aperfeiçoando, depois destes quase 3 meses, mas é sobre a visão a respeito da obra e vida missionárias que gostaria de falar mais especificamente hoje.
 
Acho que um dos maiores presentes que recebi de Deus nestes dias de viagem ao Senegal foi a forma como Deus me fez enxergar missões de uma maneira diferente. Uma outra visão sobre a missão. Muito disso me chocou bastante, no início, mas cada dia mais tenho entendido que esse é um choque necessário para cada cristão genuíno. No decorrer destes 3 meses, juntando tudo o que vivi lá em Dakar com tudo o que tenho podido conversar com outras pessoas que viveram experiências cristãs transculturais e tudo o que continuo lendo, ouvindo, vendo sobre a obra missionária, tenho percebido que missão não é sempre igual.
 
Historicamente, temos sido "ensinados" (ou habituados) a ver e pensar a obra missionária transcultural a partir dos campos mais sofridos, das tragédias,  das histórias de mais pobreza ou violência físicas, dos missionários que são perseguidos e arriscam suas vidas diariamente para levar Cristo a um povo fechado, enfim, de um panorama pesado e triste. Temos entendido que "isso é missão", de tal maneira que dificilmente se pensa num missionário rindo, descansando, contando piada, tirando férias, comendo um churrasco, andando de carro próprio ou morando numa boa casa. Quase posso ouvir alguém pensando: "Isso não é vida missionária!".  
 
Essa visão  que construímos a respeito de missões tem gerado, na maioria das pessoas, uma resistência muito grande à vida missionária. Basta um jovem falar para alguém que quer "ser missionário na África" para ver as caras de espanto se multiplicando e as expressões de "Como assim, meu filho? Por que você iria querer uma coisa dessas pra sua vida?". É como se apenas pessoas meio "loucas" pensassem em uma vida "tão dura" como a vida de um missionário. E talvez seja por isso que temos a ilusão do missionário como um quase "super-herói": somente os mais espirituais, os mais fortes, os mais tudo podem seguir essa vida.
 
E tenho entendido que, de muitas maneiras, talvez essa visão histórica sobre missões tenha muito a ver com a necessidade de comover o povo de maneira que este se levante para contribuir e sustentar a obra missionária. É como conquistar o apoio do povo de Deus através da pena por aqueles que estão morrendo lá "nos campos" pois, sem essa "pena", sem esse cenário árduo, ninguém contribuiria. É verdade que, no passado, nos primórdios da obra missionária mundial, as histórias deveriam ser prioritariamente duras e repletas de riscos de todos os tipos, porém não acredito que podemos continuar dizendo o mesmo em nossos dias atuais. De certo, ainda há inúmeros campos missionários com este perfil, de povos que são abertamente contrários ao Evangelho e imersos em necessidades físicas gritantes, porém tem-se entendido cada vez mais que não são apenas lugares assim que necessitam da obra missionária, o que tem ampliado bastante o campo de missões. No entanto, a abordagem acerca do assunto continua sendo praticamente a mesma: convencer através do sofrimento. E acho que a justificativa disso ainda ser assim não tem a ver apenas com as agências missionárias e os próprios missionários que constroem sua publicidade em cima disso, mas tem a ver com a própria igreja, com nós mesmos, que realmente aprendemos a só nos importar com o sofrimento aparente e extremo - e ignorar o sofrimento escondido e interior.
 
E estar no Senegal me fez ver o outro lado de missões. É claro que a vida no campo transcultural é muitas vezes extremamente difícil e os desafios externos são inimagináveis aos que estão distantes, porém não é sempre assim. Não precisa ser sempre assim. Conheci uma África que não é só miséria, apesar das grandes dificuldades financeiras de grande parte da população. E, nesta África, descobri o peso da escravidão espiritual - muito maior do que o peso da fome física. Vi com meus próprios olhos que a vida missionária não é uma tragédia, que o missionário não precisa passar fome para ser missionário, que ele não precisa andar sempre de semblante pesado para ser missionário, que ele não precisa ter sempre lágrimas nos olhos. Conheci os missionários dos quais sempre ouvi falar e descobri que eles são, simplesmente, gente, como eu e você, que não são super-heróis nem super-espirituais, que eles riem como nós rimos, contam piadas como nós contamos, sentem cansaço, fome, alegrias e tristezas como qualquer ser humano sente... descobri que somos iguais. Que eles precisam, sim, de férias, de uma boa cama pra dormir, de dar uma boa educação para seus filhos, de ir pra academia cuidar do corpo, de uma roupa nova para se vestir, de fazer supermercado, de um fogão, uma geladeira e (pasmem!) até mesmo de uma boa internet! Assim como eu e você precisamos.
 
Foi quando Deus me fez entender que a obra missionária não é apenas dar comida ao que está morrendo de fome, ou dar um remédio ao que está morrendo enfermo sem nenhuma assistência médica, ou alguma dessas outras circunstâncias emergenciais e trágicas às quais associamos a vida missionária. É muito além disso. A missão é sinalizar Quem é Deus ao mundo, e ensinar ao mundo o Seu amor, Sua graça, Sua misericórdia, Seu caráter, através da pessoa de Jesus Cristo. Dar o alimento, a educação, a assistência em saúde e todos os outros tipos de apoios às comunidades são maneiras de realizar isso, de sinalizar o Reino e o Amor do Pai pelo ser humano. Porém, não são apenas os que estão morrendo nas situações mais críticas que precisam disso: todas as nações, povos, tribos, lugares precisam conhecer a Deus e ao Seu amor, em Cristo. E, assim, a missão acontece em todo lugar. E não é por ser "menos sofrida" (aparentemente), que ela é "menos importante".
 
Finalmente, entendi que não existem "vários mundos" para Deus. Ele não vê o mundo dividido, como nós vemos: "A África", "A Ásia", "A América", "A Europa"... sempre achando que um lugar é mais importante para Deus do que o outro. Entendi que a África não é mais importante para Deus do que o Brasil, assim como o Rio de Janeiro (e suas cracolândias) não é mais importante para Ele do que o Amapá (e nossas cracolândias!). Ele não vê lugares, Ele vê pessoas - e elas estão em todos os lugares, precisando da manifestação de Cristo de todas as maneiras possíveis. Como somos egoístas ao pensar que um missionário que está na China é mais importante do que um missionário que está na Europa - somente porque as comunidades isoladas da China passam mais fome do que os italianos ou espanhóis. Como nossa visão é estreita e superficial. Olhamos o exterior, enquanto Deus olha tão além.
 
É certo que existem milhares de lugares em nosso mundo hoje que estão esquecidos de nossas igrejas e clamando por uma voz que lhes possa anunciar as Boas Novas de salvação, enquanto continuamos anunciando essas Boas Novas aos mesmos lugares e às mesmas pessoas durante décadas a fio. É uma urgência sair da nossa zona de conforto e ir ao encontro dessas pessoas. Porém, esses lugares não precisam, necessariamente, estar do outro lado do mundo. Eles podem estar bem pertinho de nós. A grande questão é somente uma: onde Deus nos quer. Qual a minha missão? Qual o meu lugar dentro do Projeto de Deus para a humanidade? Onde devo trabalhar? O que devo fazer? Essa é a questão. Ouvir a voz de Deus dando a direção e segui-la. Glórias ao Senhor por Ele chamar cada um de nós para assumir um lugar estratégico em cada canto deste mundo: a uns Ele chama para cuidar de Sua Igreja local, fortalecendo e amadurecendo a fé dos crentes, de maneira que eles possam ser os sustentadores da obra mundial; a outros, Ele leva para as periferias de sua própria cidade ou estado; a outros, Ele chama para a "África e a Ásia brasileiras": nosso sertão nordestino, nossos ribeirinhos, nossos indígenas; a outros, Ele chama para nossa "Europa brasileira": os ricos e "autossuficientes" de nossa própria nação; e a outros, Ele chama para os confins da terra, os lugares mais distantes, sejam eles ricos ou pobres.
 
Que o Espírito Santo nos ajude a compreender, da forma correta, o que o Senhor pensa a respeito da missão, e nos faça enxergar a cada um de nós como os MISSIONÁRIOS que somos chamados a ser. Que, com Sua ajuda, possamos descobrir qual a nossa missão pessoal e a lutar para viver essa missão. Ele abra nossos olhos e corações e transforme nossos entendimentos, cada dia mais, para aprender e ensinar o Seu jeito de trabalhar neste mundo, de maneira que nossas vidas sejam úteis em Sua mãos e vividas para glória de Deus. Abramos nossas mentes para a visão dEle sobre a missão.

Enfim, que possamos entender a obra missionária de Deus nesse mundo a tal ponto de poder dizer apenas uma coisa a respeito dela, seja onde for que ela esteja acontecendo: quão grande privilégio é poder fazer parte disso! Seja orando, seja ofertando, seja doando seu tempo e talentos nos mais diversos cantos deste mundo, que cada um de nós possa chegar ao ponto de só poder sentir e expressar: "Não mereço participar de algo tão grande e tão esplêndido - os Planos Eternos de Deus para a humanidade - mas que grande honra é fazer parte disso!". Que não seja mais por pena, mas por amor - a Deus, em primeiro lugar, e ao nosso próximo em seguida. Com alegria, com júbilo, com gratidão, como os verdadeiros missionários certamente vivem - quer na tranquilidade ou na tribulação. Cada um de nós missionários: descobrindo nosso campo, descobrindo nosso chamado e vivendo para glória de Cristo!
 
Compartilho com vocês um vídeo com alguns momentos desse tempo lindo vivido no Senegal. Que um pouco da alegria que o Senhor me proporcionou através de tudo o que aconteceu lá possa alcançar suas vidas também! Paz, graça e amor do Mestre!