Estou cada dia mais convencida de
que maturidade tem muito mais a ver com lágrimas do que com risos, com
decepções do que com encantos, com frustrações do que com vitórias, com dores
do que com conforto, com tempestades do que com bonanças, com desertos do que
com jardins...
Pois é na dor, na fornalha, na
pressão, nos tempos contrários, quando nada do que esperamos acontece, quando nenhuma das nossas expectativas é suprida, quando nossos
sonhos se frustram, quando os sentimentos são abafados e a empolgação passa que
iremos mostrar a real força de nossas convicções – a real força de nossa fé.
Pois maturidade tem a ver com
força. Não é sobre a intensidade com que começamos, mas com nossa capacidade de
permanecer, enfrentando cada estação, cada inverno pesado, cada outono em que
as folhas todas caem e as árvores ficam todas desfolhadas e secas... e ainda
continuar de pé. É poder cantar como cantaram “Os Arrais”: “Como as árvores, eu
permaneço no mesmo lugar; no outono, no inverno, eu espero primavera chegar...”.
É sobre saber esperar.
É sobre ser testado e aprovado.
Sobre sobreviver ao dia mau. Sobre conseguir atravessar as noites escuras sem
deixar o coração endurecer e perder a esperança. É sobre não desistir de amar,
mesmo sem receber amor. É sobre não desistir de dar, mesmo sem nada em troca. É
sobre decidir pelo que se é, pelo que é verdade, não pelo retorno que teremos. É
sobre escolher continuar dizendo sim à missão de salvar a outrem, ainda que
nosso único pagamento seja uma cruz.
Estou cada dia mais convencida de
que maturidade tem a ver com suportar as demoras da vida e ainda acreditar.
Sobre abalar-se e não desistir. Sobre ainda poder olhar com compaixão, graça e
misericórdia mesmo para aqueles que mais nos feriram. Sobre morrer, mas ainda
assim escolher doar-se. Sobre injustiças, sobre “nãos”, sobre feridas, sobre solidão,
sobre diminuir, pois, como também cantaram “Os Arrais”, “somente uma fé que se
abalou inabalável é”.
Porque é tão fácil ter um sorriso
nos lábios, um coração grato, um olhar compassivo, braços estendidos, serviço
disposto, vontades firmes, convicções inabaláveis quando os tempos nos são
favoráveis, quando o caminho está cheio de companheiros, quando nosso sonho é
compreendido e apoiado, quando encontramos suporte e cuidado, quando está
confortável e bonito o trajeto à frente, quando há luz e certezas... e como são
bons e abençoados estes tempos de bonança que o Senhor nos dá!
Porém o dia mau chegará. E não
nos enganemos: ele chegará! O inverno. Depois de viver as belezas do verão e da
primavera, precisamos estar preparados para o inverno, pois ele sempre chega.
Quando não haverá mais tantas companhias, quando nossos sonhos e visões serão
considerados loucos, quando não haverá a mão estendida ou o abraço esperado,
quando seremos julgados e condenados, quando uma cruz nos esperará no fim do
caminho, quando vai doer e sangrar e pareceremos enfrentar tudo isso
sozinhos... e é então que saberemos a real força de tudo que achávamos ter e
ser. É então que saberemos o real material do qual nossa casa era construída.
Quando o vento bate forte. Quando a tempestade cai.
E esse é o propósito dos nossos
invernos. Não apenas nos testar e provar, mas nos amadurecer. Nos mostrar
nossas fragilidades e nos convidar a cuidar delas e deixa-las ser cuidadas, e
nos fortalecer. Pois quando conseguimos vence-los – ah! quando conseguimos
vence-los! – descobriremos que havia em nós uma força que jamais imaginaríamos,
e descobriremos que nossa paz e satisfação não são construídas e determinadas
pelo que está acontecendo lá fora, mas pelo que está acontecendo aqui dentro.
Até chegar aquele dia em que, esteja frio ou calor, claro ou escuro, silêncio ou barulho, repleto de gente ou sem ninguém, continuaremos encontrando
motivos para sorrir e confiar e, finalmente, descansar. Maturidade.
Por isso, também “nos gloriamos
nas tribulações, porque aprendemos que a tribulação produz perseverança; a
perseverança produz um caráter aprovado; e o caráter aprovado produz confiança.
E a confiança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos
corações, por meio do Espírito Santo que Ele mesmo nos outorgou” (Romanos
5.3-5), porque “Ele me declarou: “A minha graça te é suficiente, pois o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Sendo assim, de boa vontade me gloriarei nas
minhas fraquezas, a fim de que o poder de Cristo repouse sobre mim. Por esse
motivo, por amor de Cristo, posso ser feliz nas fraquezas, nas ofensas, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias. Porquanto, quando estou
enfraquecido é que sou forte!” (1 Coríntios 12.9-10).
Porque Ele é a nossa força. Ele é
nossa fonte de paz e alegria. Ele é nosso motivo e esperança. Ele é nosso
propósito e herança. Ele é nosso conforto e abrigo. Ele é nossa segurança e
nosso amigo sempre presente.
“Porque dELE, e por ELE, e para
ELE, são todas as coisas; glória, pois, a ELE eternamente. Amém.” (Romanos
11.36)
E, seja verão ou inverno, outono
ou primavera... Ele nunca nos faltará!
Nele podemos descansar e confiar.
Amadurecer...
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