quarta-feira, 4 de maio de 2011

As muralhas que construímos


Muralhas são estruturas construídas para oferecer proteção a um determinado lugar contra os perigos externos.

Nós vivemos em tempos de grandes perigos, em todos os aspectos. Principalmente nós, cristãos. O padrão da sociedade e das pessoas em geral cada vez mais se distancia do padrão que nós devemos viver, e isso torna nossa vida aqui neste mundo uma constante luta pela manutenção do que é correto e verdadeiro. Uma constante luta. É quando, no meio desta batalha, percebemos a necessidade de levantar muralhas.

Levantar muralhas é algo bom e necessário. Estabelecer limites, cercas de proteção para nossas mentes, corações, corpos e espíritos. Nos guardar dos perigos que nos cercam constantemente. No entanto, com mais facilidade e sutileza (e mais vezes) do que imaginamos, investimos demais na altura do muro e este, ao invés de servir para nos proteger, acaba nos isolando completamente e limitando ou excluindo nosso campo de visão do que está lá fora. Criamos o nosso mundinho e passamos a ver tudo a partir das poucas coisas que ficaram dentro de nossas tão elevadas cercas. É o perigo das muralhas.

Os rabinos judeus eram conhecidos como “os construtores de cercas”, ou algo assim. Sua missão era garantir que todos os judeus obedecessem a todos os mandamentos da Torá – e isso era uma missão boa e correta, afinal, dizia respeito a dedicar-se ao cumprimento da vontade de Deus. No entanto, nesta ânsia tão grande por só fazer o que era certo, eles passaram a ampliar os mandamentos. Não pregavam mais apenas o que a Lei mandava, mas aumentavam as exigências para que ninguém corresse o risco de vir a pecar. Um exemplo muito claro era a guarda do sábado – encheram o sábado de regras: é proibido dar mais do que tantos passos, é proibido fazer mais esforço do que isso, é proibido sair de casa, e muitos outros “é proibidos” que nunca estiveram na Lei. Eram as muralhas construídas além da medida que era devida.

Existem muitas áreas nas quais fazemos isso com as “cercas” que precisamos construir, mas eu gostaria de abordar apenas duas: visão teológico-doutrinária e relacionamentos.

1. Religião, Teologia, Doutrina...

Vivemos numa realidade religiosa e, principalmente, teológico-doutrinária muito difícil, quase caótica. A própria Palavra nos adverte que, quanto mais os últimos dias se aproximassem, mais os falsos profetas e os falsos ensinos se multiplicariam. E nós temos visto isso acontecer em nossos dias. Absurdos teológicos que usam o nome de Deus e de Cristianismo para fazer coisas totalmente contrárias às Escrituras. 

Muitos de nós, provavelmente, já estivemos neste meio, já fomos enganados e caímos nas ciladas das mentes astutas que sabem como nos ludibriar. Eu mesma me converti em um meio repleto de sentimentalismo, centrado em homens, com pouca base doutrinária e bíblica, e foi isso o que aprendi e vivi durante muitos anos da minha vida cristã. Um dia meus olhos foram se abrindo e Deus, em Sua graça, foi me ensinando a analisar os caminhos e procurar pela verdade. Foi quando passei a ser mais atenta e não aceitar qualquer coisa que se fala dentro de uma igreja – aquela atitude “bereianos”. Entendi que precisava procurar compreensão e sabedoria para não cair tão facilmente nas ciladas dos falsos mestres, pois já caí em MUITAS. 

Eis o momento em que percebemos a necessidade das muralhas. Olhamos para nossas vidas e vemos com que facilidade temos sido enganados, e que não pode continuar assim. As muralhas aqui, então, são o conhecimento e o entendimento da verdade. Estudos, leituras, análises, discussões, pontos de vista... Precisamos disso! Este é um passo importante para nosso amadurecimento na fé. ["Julgai todas as coisas, retende o que é bom" (1 Ts. 5:21) / “Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro" (Efésios 4:14)]

No entanto, este mesmo bem também oferece riscos. O mesmo risco dos rabinos e fariseus. Passamos a compreender um pouquinho só da verdade e, a partir de então, achamos que já sabemos tudo e que somente o que funciona de acordo com nossa própria visão está certo. É quando esquecemos o momento de parar a construção do muro e o estendemos mais do que deveríamos. É quando deixamos de nos preocupar com aquilo que fere a essência do Evangelho, a verdade bíblica, e passamos a nos preocupar com opiniões humanas. Quando nossa preocupação não está no fato da igreja estar centrada na cruz, pregando o Evangelho genuíno, mas na forma como a igreja organiza o culto, nos tipos de música que ela toca, na linguagem que o pregador usa, se batem palma ou não, se as pessoas se vestem desse jeito ou daquele... Passamos a julgar o trivial, o exterior, o método. É quando nossos muros nos cegam e achamos que podemos ser juízes dos outros.

É pouco provável que algum de nós nunca tenha conhecido alguém que, imerso em estudos teológico-doutrinários e na dedicação de compreender a verdade bíblica e a vontade de Deus, tornou-se fechado em seus próprios entendimentos, cheio de preconceitos para com quem pensa diferente e que acabou desenvolvendo uma postura de “eu tenho a verdade”. Olhamos para o que é diferente do que entendemos ser a verdade com julgamento, menosprezo ou, até mesmo, desprezo. É quando os muros de doutrina e verdade tornam-se muros de religiosidade e legalismo, e deixam de nos proteger para nos aprisionar.

      2. Relacionamentos

E, aqui, queria falar sobre relacionamento com o sexo oposto, não necessariamente romance, pois também construímos muralhas de prisão neste aspecto.

Lá vamos nós, novamente, olhar para a realidade caótica em que estamos imersos. Relacionamento com o sexo oposto é uma dessas áreas em crise total em nosso século. Nem sei por onde começar para falar disso, pois é tão óbvio: maldade de mentes e corações, falta de respeito, libertinagem, sexualidade à solta, sensualidade todo tempo evidenciada, ausência de limites, imoralidade no olhar, no falar, em tudo... Tudo isso tem tornado extremamente difícil para um jovem cristão sentir-se seguro e despreocupado ao relacionar-se com pessoas do outro sexo.

Posso falar como mulher: é MUITO difícil ter uma aproximação despreocupada com rapazes diante de toda essa realidade. Esse é um assunto que converso com muitas amigas cristãs e a maioria mostra a mesma dificuldade. Após anos e anos convivendo com rapazes cheios de malícia, que sempre se aproximam com segundas intenções, que não querem ser apenas seus amigos, mas olham, analisam, falam com interesses sexuais, é muito complicado sentir-se segura.

É quando entendemos a necessidade de elevar nossas muralhas – nos guardar, tomar cuidado, definir limites. Então, deixamos de ser tão legais quanto gostaríamos, porque os rapazes sempre confundem as coisas, mantemos a distância, o “pé atrás”. Precisamos manter nossa pureza e isso precisa de cercas. Como as demais, estas cercas são boas e imprescindíveis.

Porém, novamente temos mais problemas do que gostaríamos para determinar a altura certa e a hora de parar de construir. Ficamos tão frustradas, decepcionadas e amedrontadas com as experiências ruins que passamos que acabamos por nos fechar completamente. “Ninguém pode se aproximar!”. Aquelas atitudes de cavalheirismo, educação e verdadeira masculinidade que todo rapaz deveria ter foram tão distorcidas, e atualmente são tão usadas com malícia apenas para atrair uma “mocinha ingênua” ao engano, que passamos a desacreditar que elas possam ser utilizadas com sinceridade e pureza. Então, um cumprimento cordial, um elogio, uma delicadeza, um sorriso, um convite, uma aproximação gentil acabam sempre causando receio. É como se o botão “Cuidado! Ele está com segundas intenções!” fosse imediatamente acionado, e nossa reação é “Opa! Um passo para trás!”. Nos fechamos como ostras!

Sinal de que construímos nossas muralhas além do que deveríamos. Com o fim de nos proteger dos ladrões, passamos a olhar todos como se fossem ladrões e nos tornamos sempre desconfiados e com medo de aproximações.

ENTÃO, O QUE FAZER?

É hora de fazer o caminho inverso: desconstruir nossas muralhas. Pedir que Deus nos mostre os excessos que acabamos edificando e, então, começar a desfazê-los. Relaxar um pouco e lembrar que, ainda que precisemos vigiar atentamente contra os ladrões da madrugada, nem todos são ladrões. Podemos manter o devido cuidado sem nos tornamos obsessivos. Podemos (e devemos) respeitar e viver bem com nossos irmãos cujas doutrinas ou metodologias são diferentes das nossas, mas que permanecem fiéis a Cristo e ao Seu Evangelho. Podemos nos aproximar de nossos irmãos do sexo oposto com alegria e também com pureza, e desenvolver amizades desinteressadas e sinceras.

Isso ainda é possível. Só precisamos tomar cuidado com as muralhas que construímos.

5 comentários:

Kesley Siqueira disse...

Alineeee simplesmnete tudo que tenho refletido durante essa semana; não apenas essa semana como a algum tempo Deus tem me despertado para o diferente. Aquele que pensa diferente, são para eles que devemos nos abrir, não deixando as verdades centralizadas no Evangelho; mas nos despindo da falsa religiosidade, sendo capazes de comunicar tamanha Luz que é o Evangelho aqueles que pensam o posto de nós Muitas vezes não é a verdade de Jesus que carregamos , mais as nossas próprias verdades; como bem relatou no texto. Criamos regras e viramos juizes dos outros, afastando desta forma as pessoas de nós e do Maior amor que alguém pode encontrar que é Cristo Jesus.

Não pude evitar escrever ahauahuah
Seu texto foi de encontro as escamas que Deus tem tirado dos meus olhos.

Deus continue a te abençoaaa
Beijoss

Bruna Porto disse...

Olá flor a paz de Cristo...

Olha tem selinhos pra você no meu blog...

BjoO

Fique na paz...

http://princesadapureza.blogspot.com/2011/05/selinhos.html

lobo disse...

dá pra perceber que não é de hoje que os humanos inventam regras a partir de um mandamento, como certos temas polêmicas, como ouvir "música do mundo", alguns são tão paranóicos que tampam os ouvidos quando uma música "não gospel" está tocando em qualquer lugar que ele esteja

existem muitas outras coisas que os humanos inventam regras, coisas que não tem na Bíblia, mas ainda assim afirmam que é pecado

por isso o excesso de teologia faz mal, mas por outro lado, a libertinagem também faz mal
eu não "construí muralhas" com idéias teológicas, na verdade construí contra a teologia, essa deixa o ser humano soberbo e inventam "mandamentos" absurdos, mas também não sou libertino


foi bom ler sobre o sexo oposto, como eu não tenho contato com mulheres, sempre achei que quando uma me tratava bem tinha segundas intenções, talvez pela idéia de que não existe amizade entre pessoas do sexo oposto, eu mesmo nunca tive amizade com mulher

Aline Ramos disse...

Kesley, minha companheira fiel!! ^^ Obrigada por sua presença e comentário! Mais uma vez Deus tratando de forma similar em nossas vidas, né? rs. Essas palavras foram primeiro para mim, sabe? Antes do que para qualquer pessoa. São coisas que Deus tem me mostrado precisarem ser tratadas. Tenho o péssimo hábito de construir muralhas, de querer me proteger demais, somado ao meu perfeccionismo... não dá um bom resultado. =/ Mas a graça de Deus é maior e já me fez vencedora em Cristo! Ele completa a obra em nós!

Lobo, estas são as minhas muralhas, sabe? Ou algumas que já identifiquei. Mas existem muitas outras. Todos os extremos são muralhas elevadas além da conta e que precisamos desconstruir. Não se conforme com as suas! A teologia é uma benção se for usada com discernimento, com os olhos em Cristo e com direção do Espírito Santo! Eu vejo, sim, os prejuízos que ela traz, mas também a acho essencial - nossa fé precisa se tornar madura. Da mesma forma a convivência com o sexo oposto. Somos tão injustos com outras pessoas por causa desses nossos julgamentos generalizados muitas vezes, por causa de nossos medos, receios... Eu tenho muita dificuldade pra ter uma amizade sólida e profunda com rapazes, mas, graças a Deus, tenho o privilégio de ter um grande amigo e irmão em Cristo, e ele é uma das primeiras pessoas a quem sempre recorro quando preciso compartilhar algo. É uma grande benção e uma sensação maravilhosa a segurança que isso traz, viu! Então, deixa Deus tratar suas muralhas e tirar os excessos em sua vida também! Precisamos disso pra provar a liberdade que Cristo conquistou para nós! Abraço!

Izabel disse...

P E R F E I T O.
As vezes tenho a impressão de que estamos na cozinha daqui de casa conversando sobre coisas absolutamente minhas, hehehe.

Já falei com algumas pessoas que estão vivendo dentro de muralhas gigantes, e que se tornaram intolerantes e tal. Paulo fala que a letra mata, e muitas pessoas confundem tudo, mas creio que a letra mata quando perde a essência e passa a servir de base para nossas julgamentos desmedidos.

Mas foi muito boa sua abordagem sobre relacionamentos, eu não tinha pensando sobre isso, e vejo que minha muralha está enoooooooooorme, obrigada.