quinta-feira, 14 de julho de 2011

Aguentar um pouquinho mais...



Há dois dias comecei a caminhar. Nem sei quanto tempo faz que estou parada na prática de exercícios físicos. Mas resolvi voltar. E o começar de uma atividade física é um processo sempre bastante doloroso. Caminhei no primeiro dia, na orla da cidade, contemplando o grande Rio Amazonas, ouvindo uma boa música (obs: Aeroilis! =D), numa noite gostosa, tranquila, com o calçadão cheio de gente. Ah, que sensação maravilhosa! Voltei pra casa realizada por ter voltado a me exercitar! Fiquei tão animada e feliz por estar cuidando da minha saúde que até passei a me alimentar melhor! Ótimo, fui dormir cheia de energia.

Mas, então, precisam chegar os “dias seguintes”. Imaginei que iria acordar, no outro dia, sem nem conseguir me mexer, já que andei mais de 6 km em uma hora e meia, mais ou menos! Porém, não foi assim tão dramático! Senti algumas dores na coluna, apenas, mas nada que me impossibilitasse de andar ou fazer as coisas normalmente. “Uffa”, pensei, “me livrei daqueles dias cheio de dores do pós-exercício!”. Que nada! O próximo dia (hoje) chegou e trouxe com ele uma dose extra de dores musculares! A coluna continuava doendo e, agora, os tornozelos estavam com uma dor bem pior. Era até difícil pra andar, precisei fazer muitos alongamentos pra ver se melhorava. E, pior: hoje era o dia de voltar a caminhar!

É quando muitas pessoas que resolvem praticar exercícios físicos acabam parando. A dor consegue paralisá-los, afinal, como voltar a exigir do seu corpo quando ele está num estado de dor enorme? Pois é, mas o fato é que o necessário a se fazer para que esse estágio doloroso passe de vez é exatamente forçar um pouquinho mais, ou: aguentar um pouquinho mais. Se paramos a atividade, aumentando o espaço entre um dia de exercício e o outro, o corpo nunca acostumará com o esforço que lhe é exigido – e nós nunca chegaremos no potencial físico que poderíamos ou gostaríamos de chegar.

Quando saí de casa pra caminhar hoje, fiquei bem preocupada se iria conseguir andar os 5 ou 6 Km que andei no primeiro dia – e se ia conseguir voltar pra casa! rs. Mas, fui lá, com a fé e a coragem! Alonguei bastante os músculos e coloquei-os para trabalhar! Comecei a andar e meus tornozelos doíam demais. Em cada passo que eu dava, parecia que a dor aumentava. Mas eu sabia que precisava insistir se eu quisesse passar desse estágio. Então, continuei. Apertei o passo e fui andando tão rápido quanto eu conseguia, tentando manter o ritmo da caminhada anterior. E foi incrível como, mais rápido do que eu esperava, meus tornozelos e pernas começaram a se adaptar ao ritmo e à força exigida, e a sensação de dor foi passando. Menos de 20 minutos depois do início da caminhada, eu já não sentia nada, inclusive tinha a sensação de que estava exigindo pouco demais das articulações e deveria andar mais rápido.

Eu realmente fiquei surpresa com a capacidade do corpo se adaptar às necessidades que lhe são cobradas. Quando cheguei em casa, revigorada e ainda mais animada, fui fazer os alongamentos do final do exercício. Aliás, abramos um parêntese: alongamento é outro momento terrível para pessoas sedentárias (como eu!). Sabem aquele movimento de se abaixar e tentar tocar os pés sem dobrar os joelhos? É o alongamentos dos músculos de trás da panturrilha. Terrível! Hoje, quase eu peço socorro ao ter que fazê-lo. Poucas pessoas tem a flexibilidade adequada desses músculos. E essa foi uma outra grata surpresa depois de meu segundo dia de caminhante: ao fazer esse alongamento, no fim da caminhada, minha flexibilidade tinha aumentado significativamente! Eu já conseguia tocar os pés com tranquilidade e sentindo uma dor tolerável. Foi mesmo uma alegria!

Já estão querendo saber por que estou falando sobre minha vida de “quase esportista”?rs. Porque o Senhor trouxe um daqueles “estalos” sobre minha mente hoje, dizendo: “Assim é também com a vida espiritual!”. Quando você está crescendo, “passando de fase”, se desenvolvendo em sua vida espiritual, também há momentos como este: primeiro, toda a empolgação pela fase em que se entra, pelas novas responsabilidades e capacidades que começam a ser desenvolvidas. Então, a gente dorme e o “próximo dia” chega. Começamos a sentir a dor, o cansaço e a cobrança de tudo o que recebemos. Começa devagar, ficamos aliviados pensando “Ah, pensei que ia ser pior”, até que fica pior mesmo! A dor se espalha, aumenta, pois estávamos, mesmo sem saber, exercitando áreas de nossas vidas das quais cobrávamos muito pouco até então. E é quando achamos que não vamos conseguir dar mais nem um passo, tamanha é a dor que sentimos. É quando queremos parar – dar um tempo, aumentar o espaço entre os exercícios e exigências para esperar a dor passar. Mas é exatamente quando o que devemos fazer é exatamente o contrário.

Esse é o momento em que precisamos “aguentar um pouquinho mais“. É quando precisamos lembrar que essa dor VAI passar, que ela é natural dos novos aprendizados, que trazem novas cobranças, de nossa caminhada espiritual. Da mesma maneira que nossos músculos e articulações se acostumam, gradativamente, com o esforço que lhes é imposto, ainda que eles não queiram recebe-lo, assim nossas vidas (mente, alma, espírito) vão se acostumando com as provas pelas quais precisam passar. Mas, para isso, precisamos INSISTIR um pouquinho mais. Continuar andando, mesmo quando achamos que não dá mais.

Sabe o que há de lindo nisso? Nós podemos ter a CERTEZA do que nos espera se continuarmos caminhando. Assim como é CERTO que os músculos vão se adaptar e a dor vai passar, assim também podemos ter TOTAL convicção de que as dores de nossas provações VÃO PASSAR. Elas vão! E, mais ainda: depois desse tempo de adaptação, ficaremos muito mais fortes, flexíveis e preparados para novos desafios. Assim é com nosso corpo físico, e assim é também com nosso espírito. Começamos devagar, para depois irmos aumentando o passo.

É claro que também precisamos do tempo de descanso. Na atividade física, indica-se, principalmente para iniciantes, que haja um tempo de repouso de 24h, para o corpo se recuperar dos esforços do exercício. Portanto, não adianta também querer insistir além da conta. Há um grau de insistência sadio, aquele que compreende o tempo correto para o descanso e o momento correto para voltar a se exercitar. Do mesmo modo ocorre com nossa vida espiritual. Existem momentos em que precisamos parar, de forma sadia. Ficar quietos, descansar, esperar um pouco a dor passar. Porém, se delongarmos demais este tempo, ele deixará de fazer bem e passará a fazer mal – nos fará perder a oportunidade de capacitação que o continuar caminhando iria nos trazer.

Também é claro que a dor não passará de vez se continuarmos insistindo no exercício. Minhas dores musculares não acabaram. Eu suportei bem o tempo de caminhada hoje, mas já estou sentindo as dores novamente. E sei que elas ainda estarão incomodando amanhã, e na próxima semana, e provavelmente na outra também. A adaptação não ocorre como mágica, mas vai aumentando a cada dia, a cada novo esforço vencido. O fato é que, cada vez que resolvermos ir um pouco além, alcançar metas maiores, o corpo sentirá, como o espírito também sentirá em nossa caminhada cristã. Como disse Jesus: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.” (Lucas 12.48b). Quanto mais recebermos, maior será a cobrança sobre nós e, portanto, precisaremos provar de dor, dificuldades, labuta.

Minha meta futura é começar a correr. Nunca corri, mas tenho vontade de fazê-lo, exigir mais do meu corpo. Mas sei que não posso tentar fazer isso no meu terceiro dia de “caminhante”. Primeiro, preciso acostumar meu corpo ao ritmo mais lento, em uma distância pequena, para, então, ir aumentando a distância, o passo, até que chegue à capacidade de correr. É um processo. Como fisioterapeuta, sei que não adianta tentar começar do 100%, pois o corpo não conseguirá. Vamos evoluindo com o tempo.

É o mesmo que ocorre em nossas vidas espirituais. Estamos numa corrida. Já prestaram atenção nos corredores de longas distâncias? Qual a estratégia deles? Colocar 100% da sua potência nos primeiros metros? Não. Eles começam correndo lentamente. Como dizem os nortistas: “vão na manha”.rs. Com o tempo, vão aumentando gradativamente o passo, até que, nos últimos e decisivos metros, quando os “apressados” já estão cansados e desistindo, eles investem toda a sua energia e preparação física, afim de alcançar o 100%, a velocidade máxima, e ultrapassar os demais competidores. Essas são lições para nossas vidas.

Nós, enquanto jovens, temos a tendência de ser “afobados” demais. Queremos começar um treinamento físico na corrida! Isso é algo que, como fisioterapeuta, sempre observo (não consigo evitar!): aquelas pessoas que chegam super empolgadas no calçadão, não querem saber de perder tempo com alongamento ou aquecimento, nada disso! Querem logo é correr, porque elas são “poderosas”! Colocam todo o fôlego e começam a correr em ritmo frenético. Não duram mais do que 10 minutos! Logo vão diminuindo o ritmo, param e começam a andar, totalmente cansadas. Sinto vontade de pará-las e dizer: “Não é assim que você deve fazer! Isso tudo não vai adiantar nada!”. Porque essa é a verdade. A pessoa apenas se cansa, mas não treina, não capacita o corpo para nada. O verdadeiro treinamento é paulatino, superando as barreiras, elevando as dificuldades de forma gradual, até que se alcance estágios maiores.

Esses são os dois ensinos que tiro de toda essa história e que gostaria de compartilhar com vocês: 1) Ao entrarmos em uma nova fase de treinamento espiritual, vamos sentir dor! Não estamos acostumados com a cobrança e, por isso, a sensação de empolgação passará e deixará lugar ao desconforto e, até mesmo, ao desespero e vontade de parar tudo. Mas devemos lembrar que, para se evoluir, é preciso superar isso e “aguentar um pouquinho mais”. Continuar andando, exigindo, e logo tudo terá passado. 2) Não somos super-heróis! Não podemos, nem precisamos, saber tudo e viver no 100% agora. Estamos em processo de fortalecimento, de treinamento, até que cheguemos ao céu. Portanto, é preciso ter cuidado com a empolgação, para não começarmos com todo o fôlego e, no meio do trajeto, pararmos porque não calculamos nossa real capacidade e a energia que precisaríamos para completar o percurso.

Sejamos sábios. Confiemos no Senhor! Ele não nos dá tentação maior do que possamos suportar. As provas que nosso Deus nos dá são para nos fortalecer, e elas irão fazê-lo se não desistirmos e se continuarmos lutando. Logo perceberemos que o Senhor nos dá, através disso, força além da medida, além de nossa imaginação – força emocional, maturidade, paciência, sabedoria. E também calculemos adequadamente aonde estamos indo, aonde queremos chegar, e o quanto nos custará chegar até lá. Há um longo percurso pela frente e o que queremos não é apenas dar toda a nossa força neste caminho – queremos completa-lo, firmes, fiéis. Para isso, é preciso muito mais do que entusiasmo, é preciso sabedoria.

Que o Senhor nos dê essa sabedoria de que tanto precisamos.


“É possível que vocês fiquem tristes por algum tempo, por causa dos muitos tipos de provações que vocês estão sofrendo. Essas provações são para mostrar que a fé que vocês têm é verdadeira. Vale muito mais que o ouro. Precisa ser provada para que continue firme.” (1 Pedro 1.6,7)


“Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado.” (1 Pedro 1.6,7)


“Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.” (Tiago 1.12)


“Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.” (Romanos 5. 3-5)


"Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: 'Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar'.” (Lucas 14.28-30)


“Antes de entrar numa batalha, é preciso planejar bem, e, quando há muitos conselheiros, é mais fácil vencer.” (Provérbios 24.6)

Um comentário:

lobo disse...

realmente as coisas são assim, no conversão eu já sonhava em ser um grande pastor ou evangelista, mas com o passar do tempo bateu um desânimo, estou ainda nessa fase de "aguentar um pouco mais"

esse post me lembrou meus primeiros dias na academia, depois do primeiro dia usando aparelhos sentia dores horríveis, nos dias seguintes tinha que malhar com dor, e só com o passar do tempo fui acostumando até parar de sentir dor

mas o que é mais dolorido nessa caminhada espiritual é a mudança do pensamento e das atitudes