terça-feira, 10 de abril de 2012

Vontade de crescer...


“Quero ser como a criança, te amar pelo que és, voltar à inocência e acreditar em ti. Mas, às vezes, sou levado pela vontade de crescer, torno-me independente e deixo de simplesmente crer...”

Há um momento na vida de cada criança, logo depois que ela aprendeu a dar passos mais firmes e um pouco mais apressados, em que ela acha que já está suficientemente pronta para andar sem a ajuda dos pais. O filho, que antes pedia a mão do pai para dar um só passo que fosse, inseguro e com medo de cair, de repente ganhou segurança e, agora, quer largar a mão do pai a qualquer custo. O pai, experiente, sabe que os passos do filho ainda são cambaleantes demais para subir escadas sozinho, descer uma ladeira correndo ou andar sobre pedras ou caminhos tortuosos. Mas a criança fica brava a cada vez que o pai pega suas mãozinhas, contra a sua vontade, e a segura forte, limitando a velocidade de sua corrida pela liberdade ou dos caminhos para onde deseja correr. É a sua primeira vontade de crescer e se tornar independente.

Assim somos nós com Deus, nosso Pai, muitas vezes. Vivemos, um dia, um tempo em que tínhamos consciência de nossa incapacidade de andar sozinhos – não sabíamos nada, nem aonde estávamos indo, nem como faríamos para chegar a algum lugar, nem como as coisas aconteceriam, mas tínhamos o nosso Pai, e só queríamos segui-Lo. Então, segurávamos em Suas mãos e simplesmente andávamos com Ele. Éramos crianças, conscientes de nossa dependência de Deus. Um tempo de inocência, simplicidade, entrega, sem vergonhas, sem matemática, “simplesmente crer”.

Mas, toda criança cresce, e também somos chamados a nos tornarmos adultos na fé, maduros espiritualmente. E é quando começamos a conhecer o caminho, o rumo aonde vamos, os passos que daremos, os mistérios que ele guarda. Nosso Pai vai nos ensinando, assim como aquele pai, pacientemente, ensina seu filho pequeno a dar os primeiros passos e a ganhar confiança para caminhar. E é quando essa confiança chega e, tão erroneamente, como aquela criança, achamos que podemos largar a mão de nosso Pai e andar sozinhos. Achamos que crescemos e, mesmo que de uma maneira muito imperceptível, começamos a viver como se fossemos independentes.

A maioria de nós deve lembrar de seus primeiros anos com Deus – quando nossa mente sabia tão pouco, e então vivíamos com aquele amor que impulsionava nosso coração a busca-Lo e ama-Lo e andar com Ele, falar com Ele, aprender dEle. Pedíamos a mão do nosso Pai para tudo o que fazíamos, simplesmente porque não sabíamos fazer nada sozinhos. Ele, então, começa a revelar-se a nós, senta conosco com muita paciência e nos ensina verdades, abre nossos olhos e começa a preparar nossa mente para o entendimento da verdade. Nesse momento, somos como a criança que descobre um mundo novo, cujos olhos brilham de emoção, empolgada com seus novos aprendizados, com o coração pulsando intensamente dentro do peito e aquela admiração indescritível pela sabedoria do Pai.

Porém, após alguns anos ou meses ouvindo os ensinos do Pai, nossas mentes vão desenvolvendo e o raciocínio se tornando mais ágil, as verdades vão sendo compreendidas com mais facilidade, vamos nos tornando mais maduros, e aquele brilho nos olhos, aqueles batimentos cardíacos acelerados e aquela admiração intensa pelo Pai que ensina vai diminuindo e diminuindo. É quando começamos a achar, ainda que inconscientemente, que podemos soltar a mão do nosso Pai e caminhar sozinhos. Começamos a achar que já aprendemos o suficiente para avançar no aprendizado sozinhos, que já estamos maduros o suficiente para não precisar da mão do Pai toda hora segurando a nossa. Tornamo-nos independentes. Progressivamente, a inocência, a simplicidade, a dependência vai sendo substituída por um sentimento de capacidade, um certo distanciamento, uma necessidade de coisas mais complexas, ao invés das simples que antes aqueciam o coração.

De fato, chega um momento na vida de cada ser humano, em que estamos prontos para sair da casa dos nossos pais e viver nossas próprias vidas, sem precisar de suas intervenções e conselhos permanentes e de suas mãos segurando continuamente as nossas. Aprendemos o bastante para caminhar por nós mesmos. Chegamos, inclusive, ao ponto de sermos nós os que passamos a segurar as mãos dos nossos pais para que eles não caiam, orienta-los e aconselha-los em alguma decisão a tomar, cuidar deles.

Mas não é assim com Deus. Não importa quanto cresçamos, quanto aprendamos, quanto conhecimento ganhemos, quanto saibamos explicar as verdades do Pai, quanto tenhamos amadurecidos na fé... em um ponto sempre seremos como crianças: nós SEMPRE dependeremos do nosso Pai! Não parcialmente, não em algumas circunstâncias, mas em todo tempo. E, ainda que a Palavra do Pai nos estimule ao crescimento e amadurecimento na fé, ela também nos diz que se não formos como crianças, de modo algum entraremos no Reino dos céus, porque o Reino dos Céus é das crianças. Portanto, há uma criança que precisamos sempre ser. Não crianças na falta de maturidade, entendimento, compreensão, mas crianças na inocência, na capacidade de admirar-se no Senhor, na confiança sem limites, na entrega incondicional, na alegria de estar com o Pai... Essa é a criança que deve permanecer em nós, mesmo quando já estejamos caminhando para nos tornarmos adultos na fé.

É como aquele aviador que conheceu e apresentou-nos o Pequeno Príncipe: adulto, sim, cheio de conhecimentos e capacidade de fazer coisas espantosas aos olhos dos homens, mas lembrando que a maioria dos homens preocupa-se com coisas de pouco valor e sem verdadeiro sentido e que, portanto, é preciso lembrar que o essencial é invisível aos olhos – só se vê com o coração. Então, aquele adulto resolve manter vivo e cultivar o seu bom lado criança – de enxergar além do raciocínio, de ter emoções fortes e reais, de olhar com inocência, de admirar as coisas simples, de sorrir e se satisfazer com o que os grandes homens dizem ser pequeno...

Essa é a criança que devemos cultivar em nós: aquela que volta ao Pai, todo tempo, com amor e admiração nos olhos, com um sorriso de alegria por estar com Ele, consciente de que não pode fazer muita coisa sem a Sua mão segurando-a, de que nem perto está de saber o bastante, de que é dependente e assim desejando permanecer. Uma fé que nos permita “simplesmente crer”...

Quero ser como a criança...

Ensina-nos isto, Senhor.

2 comentários:

Luciana DeVito disse...

Adorei seu blog irma! Seguirei-o. Tenho um em ingles e um em portugues. Em Cristo!

Juliana disse...

Ei irmã ! Também gostei muito do blog! Um beijo !