Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
“Um dia Sarai disse a Abrão: – Já que o Deus Eterno não me deixa ter filhos, tenha relações com a minha escrava; talvez assim, por meio dela, eu possa ter filhos…” (Gênesis 16.2).
Sarai e Abrão tinham recebido uma promessa da parte de Deus. Para que ela se cumprisse, eles deveriam ter um filho. Sarai era estéril e o tempo avançava. Um filho, só por milagre. Mas ela não conseguiu esperar e fez aquilo que muita gente ainda faz em nosso tempo: decidiu ajudar Deus. Decidiu “fazer o milagre”. Não sem antes culpar Deus: “Já que o Deus Eterno não me deixa ter filhos…”. Quando um crente começa a culpar Deus vai se envolver em enrascadas, sem dúvida alguma. A racionalização culpabilizante é indício de que a vida espiritual vai mal. E que mais problemas surgirão.
Sua solução foi fácil. O escravo era uma coisa, propriedade do dono. O filho que Agar tivesse com Abrão não seria filho de Agar, mas de Sarai. Ela era dona da escrava e o filho da escrava também seria sua propriedade. Simples, não? Nós temos algumas soluções tão simples que nos impressiona que Deus não veja como deve fazer as coisas.
Deu errado, como era de se esperar: “Quando descobriu que estava grávida, Agar começou a olhar com desprezo para Sarai, a sua dona” (v. 4). Logo Sarai precisou encontrar alguém para culpar. Desta vez culpou o coitado do marido: “Aí Sarai disse a Abrão: -Por sua culpa Agar está me desprezando. Eu mesma a entreguei nos seus braços; e, agora que sabe que está grávida, ela fica me tratando com desprezo. Que o Deus Eterno julgue quem é culpado, se é você ou se sou eu!” (v. 5). Mais uma vez ela envolve Deus na sua embrulhada. Antes ele era o culpado e agora é o juiz que deve decidir (mas ela já decidiu quem está errado). E foi em frente. Além de culpar Abrão, maltratou Sarai: “Abrão respondeu: – Está bem. Agar é sua escrava, você manda nela. Faça com ela o que quiser. Aí Sarai começou a maltratá-la tanto, que ela fugiu” (v. 6). E mais tarde ainda aumentou a carga sobre a escrava: “Certo dia Ismael, o filho de Abraão e da egípcia Agar, estava brincando com Isaque, o filho de Sara. Quando Sara viu isso, disse a Abraão: – Mande embora essa escrava e o filho dela, pois o filho dessa escrava não será herdeiro junto com Isaque, o meu filho” (Gênesis 21.9-10).
Sarai, mais tarde conhecida como Sara, não era uma pessoa fácil de se viver. Faz poucas intervenções, no relato bíblico, e sempre intervenções que não a elevam muito. Parece ter sido uma pessoa de temperamento difícil. Mesmo assim tornou-se uma das heroínas da fé. Na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11, só duas mulheres são mencionadas nominalmente. Ela e Raabe. Deus a usou e se agradou dela apesar daquilo que podemos julgar serem defeitos de temperamento. Longe de ser um estímulo a não procurarmos ser pessoas melhores, isto nos mostra o que é graça. Deus usa pecadores imperfeitos, cheios de falhas, e glorifica seu nome na vida delas.
O grande problema de Sarai, mais que seu temperamento, foi não saber esperar. É o problema de muitos crentes. Como um irmão que orava: “Ó Deus, dá-me paciência! Mas eu quero agora!”.
Jesus soube esperar. Satanás o tentou para pedir pão, quando ele teve fome: “Então o Diabo chegou perto dele e disse: -Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras virem pão” (Mateus 4.3). Sabemos como Jesus reagiu. Mas o mais enriquecedor é como a história terminou: “Então o Diabo foi embora, e vieram anjos e cuidaram de Jesus” (Mateus 4.11). O socorro já estava a caminho, quando Satanás se apresentou. Era saber esperar. Tivesse cedido à sua fome, o Salvador teria caído e com ele todo o propósito de Deus. Muitas vezes Satanás chega primeiro. É preciso prestar atenção.
Na cruz ele também soube esperar. Aqueles momentos de dor e de vergonha pareciam intermináveis. Mas a cruz era necessária. “Desça da cruz e creremos nele!”. Creriam nada! Não havia atalhos para o plano de Deus. O caminho da fé passa pela cruz. Este é o grande problema de muitos crentes. Eles querem atalhos, caminhos abreviados, têm pressa. Querem tudo sem sofrimento. O Salvador foi obediente, cumprindo tudo, e esperando a ação do Pai. O resultado é conhecido: “Por isso Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é mais importante do que todos os outros nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai” (Filipenses 2.9-11).
Nossas soluções podem ser as mais fáceis (aos nossos olhos). Satanás pode chegar primeiro. Não que seja prestativo, mas porque é voraz. A ação de Deus vem no tempo certo. Saiba esperar. “Ponha a sua vida nas mãos do Deus Eterno, confie nele, e ele o ajudará” (Salmo 37.5). Deus faz as coisas certas no tempo certo.
2 comentários:
Uau que post maravilhoso...
Nunca vi a história de Sara por esse ângulo...
Interessante como vemos muitos cristãos repetindo as ações de Sara, tentando dar um jeito naquilo que era só pra Deus fazer, e depois que as coisas dão errado colocam a culpa em Deus como se Deus tivesse alguma culpa por serem tão impacientes....
Muito bom...
Que cada dia venhamos pedir paciência pra Deus e assim esperarmos o tempo dEle pra nós...
Deus te abençõe flor...
Fique na paz
Nossa Aline...!!!
O estudo de hoje foi muito edificante.Meu Deus! Quantas vezes eu não dei aquela ajuda a Deus, quando o que Ele mais esperava de mim era obediência e confiança.Já ouví também de alguns crentes que temos que dar passos pra Deus poder agir...mas ao meu ver ha coisas que só nos resta esperar e confiar no Senhor,que ao seu tempo trás aquilo que é nosso.
Um grande abraço irmã !
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