Era uma vez uma menina.
Ela não tinha nada de especial. Não havia nada nela que não houvesse nas demais. Pelo menos, nada aparente. Era apenas uma menina desconhecida, de um pequeno povoado desconhecido, com uma história desconhecida.
Mas havia algo de estranho e, ao mesmo tempo, curioso em sua história. Há um tempo tão remoto quanto ela podia se lembrar, havia um sonho que se repetia continuamente em suas noites de sono. Noite após noite, lá estava ele, com teimosia e intensidade. Era sempre aquele mesmo sonho. Ela não compreendia de onde ele poderia ter surgido ou que sentido ele poderia fazer. Mas era o seu sonho, e ela sabia disso.
Nele, havia simplesmente uma paisagem linda e colorida, de perder de vista. Um campo vasto e longínquo, que seus olhos jamais haviam visto. Aqueles olhos acostumados com as imagens cinzentas e pálidas da rotina de seu povoado sequer poderiam imaginar haver uma paisagem assim tão bela. E eles jamais imaginariam, se não fosse aquele sonho inusitado.
Após a contemplação daquela imagem multicor, havia algo que falava com ela. Não era uma voz audível, mas uma certa certeza incompreensível que nascia num lugar profundo demais da alma para ser encontrado ou descrito. Uma certeza maluca e sem sentido que afirmava que era ali, no meio daquelas cores existentes apenas em sonho, que a menina viveria. Dia após dia, lá estava tudo isso, repetindo-se em cada noite de sono.
Mas como aquilo poderia fazer algum sentido para aquela menina, justamente aquela? Seus olhos acostumados com paisagens tão turvas, suas mãos e pés acostumados com tarefas rotineiras, seus sentidos acostumados com tão pouco para investigar e aprofundar. Ela sequer conhecia alguém que vivesse daquela maneira. A não ser nas fábulas que se contavam em sua pequena cidade, histórias de grandes homens que alcançaram mundos nunca descritos. E também naquela certeza estranha que falava em seus sonhos. Mas, na vida real?
Só aconteceu que, de tanto deparar-se com aquele repetido sonho em sua mente e, por que não dizer, em seu coração, a menina simplesmente não conseguiu mais. Como poderia deixar de desejar viver aquele impossível com todas as suas forças? Como poderia não querer passar seus dias naquelas terras que dizia-se serem suas e que eram tão encantadoras? Foi o que ela passou a ansiar – com todo o coração.
Não que sua vida real fosse assim tão ruim. Havia diversão, alegria e até uma certa satisfação nos pequenos acontecimentos de sua desconhecida vila. Havia pessoas queridas, trabalhos interessantes, boas lembranças. No entanto, ao lembrar-se da intensidade das matizes daquela paisagem dos sonhos, quão empoeiradas lhe pareciam todas essas coisas. Não eram ruins por si mesmas, mas a menina estava a descobrir algo: não foi para aquelas coisas que ela havia nascido. Para os outros, talvez fosse suficientemente bom. Mas não para ela. Não depois daqueles sonhos. Sua vida precisava de mais.
E seu dia a dia tornou-se, então, um paradoxo. Aquela luta consigo mesma para esperar por aquela certeza que lhe falava tão ressoante à alma. E, ao mesmo tempo, a necessidade de aprender a fazer da espera uma experiência de paz. Sem ignorar o hoje e as coisas boas que ele pode ter, mas também sem esquecer de que aquele não era seu porto final. Havia águas mais distantes para navegar.
E assim passou a viver a menina. Com os olhos marejados com as lágrimas que seu sonho sempre lhe rebentava. Sua esperança palpitante por, finalmente, conhecer a terra que lhe fora prometida. Sua ansiedade por chegar lá, quando ainda precisava esperar. O tempo certo. E o aprendizado de aguardar por ele. Mesmo quando não se consegue compreender ao mínimo a necessidade de permanecer na acizentada e empoeirada rotina presente ao invés de viver toda a plenitude dos sonhos por vir.
Mas ela precisaria esperar para ver. Esperar e confiar. E era o que ela iria fazer...
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(Taylor Caldwell, do livro “Paulo de Tarso – O Grande Amigo de Deus”)
"Senhor, para quem iremos? Só tu tens as palavras da vida eterna..." (João 6:68)
4 comentários:
"Fecho os olhos e vejo o meu lugar
Já que não sou daqui
Meu destino eu conheço e lá vou chegar
Eu não tarde em partir
Pra casa onde eu vou, o Pai já preparou lugar
Há muitos quartos vagos, todos têm onde ficar
O preço da hospedagem já foi pago para nós
A vida de verdade só começa LÁ...
Um lugar onde todos somos iguais
Somos um coração
Onde o choro e a dor não existem mais
Só a graça e o perdão
Pra casa onde eu vou, o Pai já preparou lugar
Há muitos quartos vagos, todos têm onde ficar
O preço da hospedagem já foi pago para nós
A vida de verdade só começa LÁ..."
[Quartos Vagos - Eduardo Mano]
\o/
A paz do Senhor !
Que lindo texto... *-*
Uaaaaaal esse texto é lindo, incrível mesmo.
Às vezes me pego pensando até com certa pressa sobre o dia em que finalmente todas as coisas estarão resolvidas e respondidas, no nosso verdadeiro lar, o dia da volta pra casa como costumo brincar com meus colegas, mas ao mesmo tempo tem tanto que Deus requer de nós ainda aqui.
Lindo texto mesmo
Owwnnn.. que bom que vc gostou!!! Um daqueles dias em que dizemos: "O que estou fazendo aqui? Sei que não é esse o meu lugar!"... mas que nos faz pensar que, se é aqui que estamos, foi aqui que DEUS nos colocou! Então, há propósito - e que este propósito se cumpra! Portanto, nosso anseio pelo nosso Lar, por cada sonho que Deus tem colocado em nossos corações, deve ser sim apaixonado e intenso, porém sem nos impedir de viver o que o Senhor tem nos dado AGORA!
Aprendendo, né, minha irmã? ;)
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