sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando o tempo passa...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. "


[Fernando Pessoa]


 Hoje fui buscar minha irmã na faculdade e, em nossa volta, fiquei pensando em como as coisas mudam em nossas vidas. Minha irmã está cursando a segunda faculdade, de enfermagem. A primeira, nós cursamos juntas, de fisioterapia. Entramos na faculdade de fisio por volta dos 17, 18 anos. E hoje, ela já está com 24, e está numa segunda faculdade. E ela sempre me fala sobre como é diferente lá. A forma de lidar com as coisas, a maturidade, a seriedade, como as preocupações são diferentes... e, ao olhar pras pessoas na faculdade onde ela está estudando (federal do estado), fiquei pensando em como nós mudamos no decorrer do tempo...

Lembrei de minha adolescência, início de juventude. Como meu olhar sobre a vida era diferente.

Lembro do meu primeiro dia na faculdade. Minha preocupação era "estar bonita"! rs. Tirei foto pra registrar como me arrumei naquele dia! E, durante os primeiros anos dao curso, como me preocupava com isso. Então, o tempo foi passando. Hoje, olhando pra minha irmã já em seus 24 anos, percebi como as coisas acontecem de forma similar para a maioria. Ela estava com uma camisa qualquer, com uma calça jeans, não muito preocupada em estar "super arrumada" para chamar atenção de qualquer um. E assim eram outras pessoas por lá. E assim me vejo na maioria dos momentos hoje. Não que tenhamos deixado de nos preocupar com o visual, ou deixado de nos cuidar, ainda nos preocupamos com isso. Mas é tão diferente. Quando adolescentes, levamos tanto em conta o que os outros pensam ou falam sobre nós. Crescemos, e passamos a entender que mais importante é quem nós somos e o que nós pensamos sobre nós mesmos.

Quando adolescentes, nosso maior desejo é "popularidade"! Queremos fazer parte de uma "Galera", estar no meio de todo mundo, entrosados com todos. Queremos "aparecer"! (mesmo que discretamente!) rs. Toda oportunidade é boa para estar na rua, fazendo alguma coisa com os amigos, e não existe semana sem um bom programa a ser executado! Estamos em todas - e a energia nunca acaba! Lembro de um encontro de jovens em que comecei a trabalhar quando tinha 16 anos. No encontro, havia equipes de trabalho "de frente" e "de fundo". As equipes de frente, eram as equipes que todos viam: de música, teatro, lanche, etc. As equipes de fundo, ninguém via, eram coisas como cozinha, limpeza, oração, etc. E lá estava eu nos meus 16, 17, 18 anos, desejando com todas as forças estar em qualquer uma daquelas "equipes de frente"! Acho que os olhos podiam chegar a brilhar! rs. Eu cantava e dançava durante horas, sem cansar, toda enfeitada, mais do que feliz e animada.

Então, vieram os 20 e poucos anos. E o "pique" foi diminuindo. Minha vontade, então, era ficar quieta. Nas reuniões, quando antes eu ia pra frente cantar, pular e dançar, eu já queria ficar nos fundos, batendo um papo com algum amigo ou simplesmente pensando. Na hora de trabalhar, me batia quase um pavor ao pensar em ficar em uma equipe "de frente", queria mesmo era ficar escondidinha e trabalhar sem ninguém me ver. Pensei se o problema estava em mim, mas ainda bem que tenho minha irmã com quem me comparar! rs. E a mesma coisa acontecia com ela.

Quando, antes, queríamos estar no meio da bagunça, da "galera", agora nossa vontade era ficar bem mais sozinhas. Uns 4 ou 5 bons amigos já são mais do que suficientes. Nada de "multidões". Incrível como desenvolvi um certo problema com multidões. E engraçado como parece que entramos numa fase meio "anti-social". Isso é realmente bastante engraçado. Quantas vezes eu e minha irmã não morremos de rir, nos escondendo de alguma visita ou de algum compromisso em que precisemos ficar no meio de muita gente! rsrs. Não que não gostemos mais de estar com as pessoas. Tem alguns momentos em que isso é muito bom. Mas, antes isso era tão vital.

Antes, a rua parecia tão convidativa. Hoje, nosso cantinho quieto parece tão mais atraente! Isso é outra coisa engraçada. Eu nunca fui muito de estar na rua, por isso não mudei muito nesse aspecto. Mas minha irmã, sim. rs. Ela era toda "rueira", e agora me faz morrer de rir quando alguém liga pra ela sair e ela não atende o celular pra poder ir dormir! rsrs. Nós mudamos.

E em relação aos "meninos"? rs. Puxa, às vezes fico pasma ao olhar pras adolescentes ao meu redor e me ver nelas! Como o tempo nos faz mudar. Falo, agora, especificamente de mim. Antes, quando pensava no "cara certo", imaginava aquele cara lindo, com quem eu desfilaria e faria com que todas as minhas amigas babassem! rsrs. Não, essas não eram minhas intenções "explícitas", mas lá no fundinho eu sabia que elas existiam. Vaidade. Como a adolescência é cheia dela. O pensamento era: "O que minhas amigas irão pensar dele?". rs. Hoje o "cara certo" parece tão diferente. Precisa de tanto além de uma "carinha bonitinha". Não vou dizer que o que os outros irão pensar deixou de ter qualquer importância, mas hoje minha preocupação é "o que eles vão pensar depois que o conhecerem". O que será 5, 10, 20 anos depois.

E o entendimento sobre o "Amor"? Antes, o "verdadeiro amor" era algo que tinha a ver com "sentimentos". Aquela coisa intensa, coração batendo mais forte, ansiedade, nervosismo... Sentimentos. Chamávamos de Amor o que é apenas Paixão, Atração. E, então, entendemos que o verdadeiro Amor é tão diferente. Tem a ver com coisas muito mais duradouras, com decisões, com vida, com futuro e coisas que permanecem. Não coisas que mudam a cada vento que bate.


Então, em tudo isso, me lembro de tantas coisas que meus pais ou outras pessoas mais velhas me falavam quando eu era uma adolescente. Eles me alertavam sobre como as coisas mudam com o tempo, como eu passaria a ver a vida de um jeito diferente. Me falavam sobre os riscos que eu corria com as visões que tinha da vida, e de todas essas coisas que hoje estou descobrindo. Mas eu não aceitava. Não podia acreditar que as coisas seriam tão diferentes do que eu pensava quando tinha meus 15 ou 16 anos. Isso é incrível! Hoje olhos pras minhas primas em seus 15, 16 anos e fico me perguntando como elas podem não entender. Mas eu também não entendia. E hoje posso imaginar um pouco de como é exercer o papel de pai ou mãe. E como deveríamos prestar mais atenção no que nossos pais, ou as pessoas mais velhas, nos dizem. Evitaríamos tantas crises e tempo jogado fora.

E assim é no decorrer de toda nossa vida. Como seria mais fácil se olhássemos com mais cuidado para as vidas daqueles que já passaram pelo momento que passamos, e pudéssemos aprender mais com eles. É claro que pra isso precisamos de muita sabedoria, a qual pode vir unicamente do Senhor. Afinal, vivemos em um mundo com pessoas tão frustradas que seus objetivos são nos convencer de que a última coisa que vale à pena nessa vida é acreditar em sonhos, nas pessoas ou nos padrões de Deus. Então, precisamos saber ver quando seus conselhos os comentários são baseados em suas decepções provindas de suas decisões erradas, para não sermos convencidos por eles. No entanto, até mesmo essas frustrações e decepções podem nos ensinar muitas coisas.

Não precisamos aprender apenas através de nossos próprios erros, ainda que eles nos ensinem muito. Podemos, e devemos, também aprender olhando os erros dos outros. E, assim, evitar feridas desnecessárias em nossas próprias vidas.

Que o Senhor nos dê essa sabedoria.

4 comentários:

Agata Larsen disse...

Fiquei espantada ao ler sobre este tema! Gostei imenso da tua abordagem tão profunda e sábia, ao falares sobre a vaidade da juventude! Sim, todos nós passamos por ela, mas aquela passagem de Eclesiastes também se aplica aqui: "Há um tempo para todo o propósito debaixo do sol". Agora que vamos crescendo, os nossos alvos de vida vão sendo alterados, a nossa visão é mudada...e considero isso muito bom!! É bom ser criança, é bom ser jovem, é bom ser adulto e velho!! Que possamos aprender a desfrutar cada um desses momentos da nossa existência!

Parabéns pelo post! Gostei de ler ^^

Aline Ramos disse...

É verdade, mana! Cada fase tem sua beleza individual, a qual nenhuma outra - passada ou futura - pode ter da mesma forma. Por isso, o importante é sabermos viver da melhor maneira cada fase, aprendendo com ela, mas principalmente descobrindo qual a vontade de Deus para ela, bem como o Seu padrão de vivê-la!

É lindo lembrar do que passou. Mas também o é viver o presente, e pensar no futuro. Para cada tempo seu propósito, né?

Beijos, querida!!! ;)

Izabel disse...

Meu Deus!!!! embora eu não tenha irma parece até que eu estou falando rs!
realmente o tempo nos mostra tantas coisas graças a Deus

Aline Ramos disse...

rsrs.. Hey, Izabel! Às vezes é assustador a forma como podemos nos identificar com outras pessoas, especialmente nossos irmãos em Cristo, né? :P É a unidade que o Senhor gera entre nós, membros do Seu corpo! Nos identificamos com as histórias uns dos outros e, assim, nos tornamos Um, e crescemos juntos!

Deus te abençoe, linda! ;)