segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Outra visão sobre a missão...



Meus queridos amigos e irmãos companheiros do Mulheres Virtuosas, quanto tempo! É com tristeza e pedidos de perdão (a vocês e a Deus!) que lembro que já faz quase 1 ano desde minha última publicação aqui no blog, mas também com alegria e esperança que posso dizer que o Senhor continua falando e ensinando a esta sua irmã aqui dos extremos do Brasil.
 
Aqueles que acompanham o blog com alguma frequência e há algum tempo devem lembrar de minhas menções sobre meus sonhos com o chamado missionário e minhas reflexões sobre missões. Pois é com todo louvor e gratidão a Deus que venho compartilhar com vocês um grande passo na realização destes sonhos antigos e ainda tão presentes: minha primeira viagem missionária.
 
Em novembro de 2013, participei de uma caravana de voluntários da Junta de Missões Mundiais (JMM) da Convenção Batista Brasileira (CBB), denominada Com.Vocação JMM. Eu e mais 5 jovens profissionais das áreas da saúde, educação e esportes fomos apoiar um trabalho missionário realizado em Dakar, capital do Senegal (noroeste da África), chamado Fábrica de Esperança. Durante 12 dias, realizamos atendimentos à comunidade através da fisioterapia, odontologia, orientação para professores pré-escolares, orientação vocacional a filhos de missionários e escolinha comunitária de futebol, conhecemos a Igreja de Cristo naquele lugar e nos alegramos com nossos irmãos e a fé tão forte e fiel a Cristo, contemplamos o poder e fidelidade do nosso Senhor aos Seus filhos naquele lugar de tantos desafios espirituais, e tivemos o privilégio, proveniente apenas da graça do Pai, de participar do que Ele tem feito ao redor deste mundo. Foram dias inesquecíveis!
 
Eu tenho tantas coisas que gostaria de compartilhar com cada um sobre o que vivi e aprendi nesses 12 dias, coisas que até hoje ainda estão se revelando mais à minha mente e coração e aprendizados que ainda estão se aperfeiçoando, depois destes quase 3 meses, mas é sobre a visão a respeito da obra e vida missionárias que gostaria de falar mais especificamente hoje.
 
Acho que um dos maiores presentes que recebi de Deus nestes dias de viagem ao Senegal foi a forma como Deus me fez enxergar missões de uma maneira diferente. Uma outra visão sobre a missão. Muito disso me chocou bastante, no início, mas cada dia mais tenho entendido que esse é um choque necessário para cada cristão genuíno. No decorrer destes 3 meses, juntando tudo o que vivi lá em Dakar com tudo o que tenho podido conversar com outras pessoas que viveram experiências cristãs transculturais e tudo o que continuo lendo, ouvindo, vendo sobre a obra missionária, tenho percebido que missão não é sempre igual.
 
Historicamente, temos sido "ensinados" (ou habituados) a ver e pensar a obra missionária transcultural a partir dos campos mais sofridos, das tragédias,  das histórias de mais pobreza ou violência físicas, dos missionários que são perseguidos e arriscam suas vidas diariamente para levar Cristo a um povo fechado, enfim, de um panorama pesado e triste. Temos entendido que "isso é missão", de tal maneira que dificilmente se pensa num missionário rindo, descansando, contando piada, tirando férias, comendo um churrasco, andando de carro próprio ou morando numa boa casa. Quase posso ouvir alguém pensando: "Isso não é vida missionária!".  
 
Essa visão  que construímos a respeito de missões tem gerado, na maioria das pessoas, uma resistência muito grande à vida missionária. Basta um jovem falar para alguém que quer "ser missionário na África" para ver as caras de espanto se multiplicando e as expressões de "Como assim, meu filho? Por que você iria querer uma coisa dessas pra sua vida?". É como se apenas pessoas meio "loucas" pensassem em uma vida "tão dura" como a vida de um missionário. E talvez seja por isso que temos a ilusão do missionário como um quase "super-herói": somente os mais espirituais, os mais fortes, os mais tudo podem seguir essa vida.
 
E tenho entendido que, de muitas maneiras, talvez essa visão histórica sobre missões tenha muito a ver com a necessidade de comover o povo de maneira que este se levante para contribuir e sustentar a obra missionária. É como conquistar o apoio do povo de Deus através da pena por aqueles que estão morrendo lá "nos campos" pois, sem essa "pena", sem esse cenário árduo, ninguém contribuiria. É verdade que, no passado, nos primórdios da obra missionária mundial, as histórias deveriam ser prioritariamente duras e repletas de riscos de todos os tipos, porém não acredito que podemos continuar dizendo o mesmo em nossos dias atuais. De certo, ainda há inúmeros campos missionários com este perfil, de povos que são abertamente contrários ao Evangelho e imersos em necessidades físicas gritantes, porém tem-se entendido cada vez mais que não são apenas lugares assim que necessitam da obra missionária, o que tem ampliado bastante o campo de missões. No entanto, a abordagem acerca do assunto continua sendo praticamente a mesma: convencer através do sofrimento. E acho que a justificativa disso ainda ser assim não tem a ver apenas com as agências missionárias e os próprios missionários que constroem sua publicidade em cima disso, mas tem a ver com a própria igreja, com nós mesmos, que realmente aprendemos a só nos importar com o sofrimento aparente e extremo - e ignorar o sofrimento escondido e interior.
 
E estar no Senegal me fez ver o outro lado de missões. É claro que a vida no campo transcultural é muitas vezes extremamente difícil e os desafios externos são inimagináveis aos que estão distantes, porém não é sempre assim. Não precisa ser sempre assim. Conheci uma África que não é só miséria, apesar das grandes dificuldades financeiras de grande parte da população. E, nesta África, descobri o peso da escravidão espiritual - muito maior do que o peso da fome física. Vi com meus próprios olhos que a vida missionária não é uma tragédia, que o missionário não precisa passar fome para ser missionário, que ele não precisa andar sempre de semblante pesado para ser missionário, que ele não precisa ter sempre lágrimas nos olhos. Conheci os missionários dos quais sempre ouvi falar e descobri que eles são, simplesmente, gente, como eu e você, que não são super-heróis nem super-espirituais, que eles riem como nós rimos, contam piadas como nós contamos, sentem cansaço, fome, alegrias e tristezas como qualquer ser humano sente... descobri que somos iguais. Que eles precisam, sim, de férias, de uma boa cama pra dormir, de dar uma boa educação para seus filhos, de ir pra academia cuidar do corpo, de uma roupa nova para se vestir, de fazer supermercado, de um fogão, uma geladeira e (pasmem!) até mesmo de uma boa internet! Assim como eu e você precisamos.
 
Foi quando Deus me fez entender que a obra missionária não é apenas dar comida ao que está morrendo de fome, ou dar um remédio ao que está morrendo enfermo sem nenhuma assistência médica, ou alguma dessas outras circunstâncias emergenciais e trágicas às quais associamos a vida missionária. É muito além disso. A missão é sinalizar Quem é Deus ao mundo, e ensinar ao mundo o Seu amor, Sua graça, Sua misericórdia, Seu caráter, através da pessoa de Jesus Cristo. Dar o alimento, a educação, a assistência em saúde e todos os outros tipos de apoios às comunidades são maneiras de realizar isso, de sinalizar o Reino e o Amor do Pai pelo ser humano. Porém, não são apenas os que estão morrendo nas situações mais críticas que precisam disso: todas as nações, povos, tribos, lugares precisam conhecer a Deus e ao Seu amor, em Cristo. E, assim, a missão acontece em todo lugar. E não é por ser "menos sofrida" (aparentemente), que ela é "menos importante".
 
Finalmente, entendi que não existem "vários mundos" para Deus. Ele não vê o mundo dividido, como nós vemos: "A África", "A Ásia", "A América", "A Europa"... sempre achando que um lugar é mais importante para Deus do que o outro. Entendi que a África não é mais importante para Deus do que o Brasil, assim como o Rio de Janeiro (e suas cracolândias) não é mais importante para Ele do que o Amapá (e nossas cracolândias!). Ele não vê lugares, Ele vê pessoas - e elas estão em todos os lugares, precisando da manifestação de Cristo de todas as maneiras possíveis. Como somos egoístas ao pensar que um missionário que está na China é mais importante do que um missionário que está na Europa - somente porque as comunidades isoladas da China passam mais fome do que os italianos ou espanhóis. Como nossa visão é estreita e superficial. Olhamos o exterior, enquanto Deus olha tão além.
 
É certo que existem milhares de lugares em nosso mundo hoje que estão esquecidos de nossas igrejas e clamando por uma voz que lhes possa anunciar as Boas Novas de salvação, enquanto continuamos anunciando essas Boas Novas aos mesmos lugares e às mesmas pessoas durante décadas a fio. É uma urgência sair da nossa zona de conforto e ir ao encontro dessas pessoas. Porém, esses lugares não precisam, necessariamente, estar do outro lado do mundo. Eles podem estar bem pertinho de nós. A grande questão é somente uma: onde Deus nos quer. Qual a minha missão? Qual o meu lugar dentro do Projeto de Deus para a humanidade? Onde devo trabalhar? O que devo fazer? Essa é a questão. Ouvir a voz de Deus dando a direção e segui-la. Glórias ao Senhor por Ele chamar cada um de nós para assumir um lugar estratégico em cada canto deste mundo: a uns Ele chama para cuidar de Sua Igreja local, fortalecendo e amadurecendo a fé dos crentes, de maneira que eles possam ser os sustentadores da obra mundial; a outros, Ele leva para as periferias de sua própria cidade ou estado; a outros, Ele chama para a "África e a Ásia brasileiras": nosso sertão nordestino, nossos ribeirinhos, nossos indígenas; a outros, Ele chama para nossa "Europa brasileira": os ricos e "autossuficientes" de nossa própria nação; e a outros, Ele chama para os confins da terra, os lugares mais distantes, sejam eles ricos ou pobres.
 
Que o Espírito Santo nos ajude a compreender, da forma correta, o que o Senhor pensa a respeito da missão, e nos faça enxergar a cada um de nós como os MISSIONÁRIOS que somos chamados a ser. Que, com Sua ajuda, possamos descobrir qual a nossa missão pessoal e a lutar para viver essa missão. Ele abra nossos olhos e corações e transforme nossos entendimentos, cada dia mais, para aprender e ensinar o Seu jeito de trabalhar neste mundo, de maneira que nossas vidas sejam úteis em Sua mãos e vividas para glória de Deus. Abramos nossas mentes para a visão dEle sobre a missão.

Enfim, que possamos entender a obra missionária de Deus nesse mundo a tal ponto de poder dizer apenas uma coisa a respeito dela, seja onde for que ela esteja acontecendo: quão grande privilégio é poder fazer parte disso! Seja orando, seja ofertando, seja doando seu tempo e talentos nos mais diversos cantos deste mundo, que cada um de nós possa chegar ao ponto de só poder sentir e expressar: "Não mereço participar de algo tão grande e tão esplêndido - os Planos Eternos de Deus para a humanidade - mas que grande honra é fazer parte disso!". Que não seja mais por pena, mas por amor - a Deus, em primeiro lugar, e ao nosso próximo em seguida. Com alegria, com júbilo, com gratidão, como os verdadeiros missionários certamente vivem - quer na tranquilidade ou na tribulação. Cada um de nós missionários: descobrindo nosso campo, descobrindo nosso chamado e vivendo para glória de Cristo!
 
Compartilho com vocês um vídeo com alguns momentos desse tempo lindo vivido no Senegal. Que um pouco da alegria que o Senhor me proporcionou através de tudo o que aconteceu lá possa alcançar suas vidas também! Paz, graça e amor do Mestre!
 
 

Um comentário:

Gil Santos disse...

Grata a Deus por sua vida! linda mensagem que Deus continue te inspirando e abençoando.