Domingo passado estava participando da classe de jovens da EBD (Escola Bíblica Dominical) de minha igreja e iniciou-se um estudo sobre o livro de Salmos. Já no finalzinho da classe, um jovem pastor que a estava visitando fez alguns comentários sobre os Salmos, que os mesmos eram, na verdade, manifestações pessoais de indivíduos a respeito de momentos que eles estavam passando. Não era sobre ou para os outros, era sobre eles mesmos.
E, então, começamos a conversar sobre como estes escritos, ainda que de cunho pessoal de seus compositores, se aplicavam às nossas vidas e às da maioria das pessoas. Como é fácil nos identificarmos com os Salmos. E isso, principalmente, porque eles refletem os mais diversos momentos pelos quais passamos: os bons e também os ruins.
E falamos sobre Davi, o escritor de grande parte destes livros. Davi era rei de Israel, tinha um alto posto e era conhecido por todos. Mas, mesmo assim, permitiu-se ser tão honesto e transparente consigo mesmo, com Deus e com os outros, que foi capaz de compor Salmos que expressavam extrema tristeza e pedidos de ajuda desesperados. Ele não tentou fingir que estava tudo bem todo tempo, porque ele era o rei e por isso não podia mostrar-se fraco para com seus súditos. Davi foi real. Apenas um ser humano.
E ele foi Davi, o homem segundo o coração de Deus. Aquele a quem tantos de nós querem imitar. Um grande homem. E essa é uma das belezas do livro de Salmos: nos identificarmos com estes homens, pessoas como Davi, e vermos quantas semelhanças existem entre nossas realidades pessoais.
O jovem pastor que estava conosco comentou que sua maior dificuldade enquanto pastor era exatamente o fato de as pessoas sempre o enxergarem como “o pastor fulano”, e não como uma pessoa normal, que tem momentos bons e maus, de força e de fraqueza, que tem momentos nos quais pode oferecer algo bom e outros nos quais não pode. Falou do trabalho, de dias em que não estava bem, não queria falar com as pessoas e, então, as pessoas vinham perguntar a ele se estava com raiva delas, e ele tinha que inventar desculpas para justificar o seu dia ruim. E essa é a realidade que a maioria de nós vivemos. De ambos os lados da situação.
De um lado, parece haver uma determinação absoluta de que ninguém pode ter dias ruins. Ninguém tem o direito de não ser legal, de não querer muito relacionamento, de querer ficar sozinho. Precisamos ser sempre os políticos da boa vizinhança. Todo tempo estamos sendo cobrados a estar sempre fortes, alegres e esbanjando felicidade e boas maneiras. Do outro lado, com mais freqüência do que percebemos, nós somos essas pessoas que cobram todas estas coisas dos outros.
Mas acontece que não é essa a realidade constante de nossos corações. Ninguém está sempre bem, sempre com tudo muito bem organizado em sua vida, naquela nuvem de paz e satisfação. Todos temos momentos difíceis, dolorosos, cheios de dúvidas, com medo, sem forças, com pouca disposição para se relacionar ou fazer qualquer outra coisa. E isso é normal! O livro de Salmos nos mostra isso. O capítulo 3 de Eclesiastes também fala sobre isso: tempo para chorar e tempo para se alegrar. Mas quão difícil é para o ser humano entender isso. Ou melhor, entendemos para nós, mas não para o outro.
Há um tempo, uma amiga muito querida estava passando por um desses momentos turbulentos em que parece que todas as dificuldades surgem ao mesmo tempo. E ela me mandou um e-mail pedindo desculpas porque não estava sendo “a amiga que deveria ser”. Ela se sentia culpada por não estar sendo forte como deveria, porque não sentia vontade de conversar com ninguém e, assim, achava que me devia desculpas, e a todo mundo.
Onde nós chegamos? A ponto de um amigo ter que pedir desculpas a outro porque não consegue estar todo tempo bem, porque não tem sempre vontade de conversar, porque nem sempre pode rir e se alegrar junto com o outro, porque não pode ser perfeito? E, infelizmente, muitas vezes, mesmo sem percebermos, nós temos sido os amigos que cobram que os outros sejam assim. Esquecemos que eles são apenas seres humanos.
Queremos transformar os seres humanos em deuses: infalíveis, onipotentes. E esse é um dos maiores erros que cometemos. Vivemos nos frustrando com relacionamentos exatamente porque esperamos perfeição do outro. E o pior é que comumente somos rígidos ao extremo com o outro, e negligentes conosco mesmos.
A vida não é assim. Não é um conto de fadas onde todos vivem “felizes para sempre”, o que não inclui nenhuma dificuldade, tristeza ou dor.
Precisei dizer para a minha amiga que ela não precisava se sentir culpada por ter falhas e por estar fraca. Deus não espera que estejamos sempre fortes. Os salmistas nos mostram isso. Cada profeta, apóstolo ou discípulo de Cristo que deixou seus registros na Palavra nos mostra isso. Foram apenas seres humanos, capacitados pela graça de Deus, lutando um Bom Combate com risos e dores, mas sempre perseverantes. Nosso próprio Salvador teve momentos de aflição, de lágrimas e de medo. Por que deveríamos esperar que fosse diferente conosco ou com aqueles com quem nos relacionamos?
Não somos super-heróis, nem deuses. E os outros também não são. Precisamos nos lembrar sempre disso. Somos humanos alcançados pela graça de Deus, mas ainda apenas seres humanos.
Criei o vídeo dessa música num desses momentos em que o mundo nos cobra que sejamos super-heróis. E quando entendi que não preciso ser. "Se eu quiser chorar, não ter que fingir, sei que posso errar e é humano se ferir..."
2 comentários:
A paz do Senhor Aline...
Parabéns pela reflexão de hoje.
Engraçado, a maioria das pessoas leem bastante o livro de Salmos,não é ?Talvez veja como você mesmo nos escreveu,um livro onde as pessoas não precisavam esconder seus medos,falhas ou fraquezas.Eu particularmente gosto muito,há alguns que levo sempre em meu pensamento...
Todos tem dias fáceis,alguns nem tanto...porém nos dias não tão fáceis temos a certeza que Deus é conosco e que tudo se torna mais fácil quando dividimos com nosso Pai os nossos fardos.Desculpe a carta...rs
Muito abençoado esse blog!
É, Thay! Acho que o pior é que com frequencia cobramos dos outros que eles estejam sempre bem para conosco, ou nos decepcionamos quando descobrimos alguma falha, nos sentimos traídos e achamos que isso destrói o relacionamento.
Mas a verdade é que o estranho seria se nunca descobríssimos um erro, um pecado, um momento ruim das pessoas com quem temos relacionamentos, né? Porque a verdade é que todos temos problemas. Não somos super, nem heróis.
E a beleza do amor é justamente transpor qualquer fraqueza e fazer-se maior. Como diz uma frase bem popular (cujo autor não lembro): "Amigo é aquela pessoa que sabe tudo sobre você e ainda continua te amando". É isso!
[Fica à vontade pra escrever! Já viu como que eu nunca consigo escrever apenas 2 pequenas frases, né? rsrs.. Beijos, querida!]
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