segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Modéstia Adolescente e o Belo







Por Douglas McManaman

Traduzido e adaptado por Andrea Patrícia

Uma batalha sempre começa quando eu lembro aos meus alunos que eles têm responsabilidade pela forma como se vestem.

Eles tendem a concordar que mostrar-se em um funeral vestindo calças suadas, tênis, e uma camiseta Nike é algo insensível e impensado, como seria vestirem roupas semelhantes em um casamento.

Mas, se admitirmos isso, então nós aceitamos o princípio de que o nosso traje expressa uma disposição interior. Obviamente eu não estou terrivelmente entristecido com a morte da pessoa cujo funeral eu optei por participar vestindo roupas de corrida, e não estou particularmente preocupado com que os parentes em luto possam ter precisamente essa impressão.

Mas é mais difícil de levar os jovens a reconhecer a responsabilidade de vestir “adequadamente” no dia-a-dia, nos feriados e fins de semana, especialmente nos dias “casuais” * da escola. Simplesmente não há qualquer acordo sobre o que é considerado inadequado e o que não é. É verdade que o que é apropriado é um pouco relativo e flexível. Então deixe-me tentar oferecer alguns princípios que não são tão relativos, de modo a mais facilmente determinar se as atuais tendências são consistentes com a virtude da modéstia.

Modéstia de vestuário é uma restrição razoável na escolha da roupa. É uma parte da temperança, que é a razão pela qual nós moderamos os prazeres sensoriais de acordo com a razão. E desde que a virtude é uma marca de excelência, a temperança é principalmente sobre os prazeres que se sobressaem**, ou seja, os prazeres mais intensos. Acontece que os prazeres mais intensos estão associados com as atividades ordenadas para a preservação da vida humana individual e da espécie como um todo. Estes, naturalmente, são comer e beber (individual) e atividade sexual (espécie).

A adolescência é sempre difícil, mas acho que ser adolescente é mais difícil hoje do que era para mim por conta da cultura global em que os adolescentes são forçados a crescer. Deixe-me explicar. O hedonismo é a escola filosófica de pensamento que se refere à busca do prazer e a minimização do desconforto como objetivo principal e único significado da vida humana. Pode-se sempre encontrar pessoas ao longo da história que foram devotas do hedonismo dentro de uma cultura largamente não hedonista. Mas hoje, a própria cultura é hedonista. Conseqüentemente, os adolescentes não podem mais contar com a atual cultura para ensinar e transmitir, mesmo em traços gerais, o que constitui um caráter nobre, ou os princípios básicos da moralidade. E a temperança é considerada inútil em uma cultura hedonista. Por que moderar os maiores prazeres, principalmente o prazer sexual, quando o prazer é o que a vida é essencialmente falando? A existência humana tornou-se uma busca do orgasmo perfeito e tudo o mais que seja propício a esse fim, então por que preocupar-se com moderação? Essa noção só pode aparecer arbitrária e arcaica.

Mas para nós, a vida humana não é uma busca do orgasmo perfeito, mas uma busca para o bem perfeito, que é o próprio Deus. Desse ângulo, a vida é uma busca de algo superior e maior do que o ser, não mais baixo, e o prazer é mais baixo e menor do que o ser. A instituição do casamento, o bem comum, e o próprio Deus, porém, são maiores. A sexualidade humana, se é que ela é plenamente humana e ainda plenamente válida, deve ser assumida e elevada para atender a esse propósito maior. Isto é feito quando o sexo se torna expressão de um casamento e da generosidade que constitui uma família.

A razão pela qual nós vemos hoje em dia cada vez menos pudor – ou, mais e mais imodéstia – na publicidade e televisão em horário nobre é que mais e mais pessoas hoje são simplesmente destemperadas, ou para ser mais específico, impuras e, como o vestuário exprime uma disposição interior, não é nenhuma surpresa que a imodéstia do vestuário tenha se tornado de alguma forma a regra. Se uma pessoa está descontrolada por dentro, ela será descontrolada por fora. O comportamento sexual promíscuo irá vestir a parte. Assim também, a moça emocionalmente insegura que tem uma necessidade de ser desejada pelos homens se veste de maneira que faça o olhar deles se voltar para ela.

A adolescente que não é sexualmente promíscua, nem tão emocionalmente insegura quanto à necessidade de ser o objeto de desejo masculino, não vai querer que seu vestuário expresse a disposição em contrário. Como os estudantes estão acostumados a dizer com relação a tudo os que os adorna, “Isso é quem eu sou.” E assim, como diz o ditado, “Se ele se parece com um pato e grasna como um pato nós temos, pelo menos, que considerar a possibilidade de termos um pequeno pássaro aquático da família Anatidae em nossas mãos.” Da mesma forma, se alguém parece, anda e soa como uma promíscua… Mas se não é isso que ela é e não há nenhuma impureza interior que corresponda ao seu vestuário imodesto, a garota deveria corrigir sua maneira de vestir, falar, e de modo particular, o seu jeito de ser a fim de que eles se tornem uma expressão mais honesta e mais exata de quem ela é.

É difícil convencer jovens garotas que não há nada bonito sobre trajes indecentes. Isso manifesta imaturidade emocional e psicológica, e fala de uma preocupação excessiva com si mesma. Aquino assinala que “a beleza do corpo consiste em um homem ter seus membros do corpo bem proporcionados, juntamente com certa clareza de cor. Da mesma forma a beleza espiritual consiste em que a conduta ou ações de um homem sejam bem proporcionadas em relação à clareza espiritual da razão”. A virtude da modéstia envolve contenção na forma como uma pessoa se veste de forma a refletir a moderação e contenção que é interior e idêntica à virtude da temperança. A temperança é bela porque se trata de um amor moderado e bem proporcionado de si mesmo. Assim também é a modéstia. O egoísmo, ao contrário, é sempre feio.

Por último, aqueles que se vestem sem modéstia irão atrair a atenção de certo tipo de pessoa. O que você tem que se perguntar é quem é que você deseja atrair: aqueles com olhos para a beleza real? Ou, aqueles em que majoritariamente têm olhos apenas para o erótico? Uma mulher vestida modestamente não é atraente para o sórdido olhar do homem destemperado, e uma mulher vestida indecentemente não é atraente para os moralmente belos. A virtude não exige que você se vista como a tia solteirona de Moose Jaw, mas se o seu umbigo está aparecendo, ou se o seu short é cortado tão curto de modo a expor uma parte de suas nádegas, ou se suas calças são tão apertadas que você tem dificuldade para caminhar e seu peito parece uma fruta embrulhada toda apertada em celofane, você pode se encontrar namorando alguém que será uma fonte de dor de cabeça constante e frustração, em suma, um perdedor. Há muitos deles por aí hoje. Caso você não tenha notado, a nossa cultura se tornou muito adepta de produzi-los em larga escala.

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O Autor:

Douglas McManaman é um professor de religião do ensino médio na York Catholic District School Board em Ontário. Ele atualmente ensina na Father Michael McGivney Catholic Academy em Markham, Ontário e mantém um site, A Catholic Philosophy and Theology Resource Page, que dá suporte aos seus alunos. Ele estudou filosofia no Colégio de S. Jerônimo, em Waterloo, e Teologia na Universidade de Montreal. O Sr. McManaman é atualmente o presidente do capítulo canadense da Fellowship of Catholic Scholars.

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Notas da tradutora:

*No original “civies”. Relaciona-se aos dias nos quais os alunos podem usar o que quiserem e não propriamente o uniforme.

**Aqui o autor faz um jogo com as palavras “excellence” (excelência, perfeição) e “excel”, (sobressair, notabilizar-se).

O grifo é meu.ida

 

2 comentários:

Agata Larsen disse...

Gosto muito de cada artigo e pensamentos deste blog.
cada dia aprendo mais um pouco. obrigada. beijinhos

Julie Maria disse...

Paz!

A Andrea realmente faz um excelente trabalho de tradução, nos presenteando com textos belíssimos!

Obrigada por divulgar!!

Em Cristo, NOsso Senhor
Julie Maria