quinta-feira, 7 de maio de 2020

O cristianismo que só sabia sorrir



Cristão chora sim. Cristão sente medo, fica preocupado, se sente ansioso, fica cansado, exausto. Cristão muitas vezes perde a esperança e, sim, se desespera. Por que? Porque quando Deus nos deu, em Cristo, uma nova natureza, espiritual, ele não nos fez deixar de ser humanos. Ele nos libertou da escravidão do pecado, o que significa que há um novo caminho para tomarmos, podemos, no fim de todas as crises, no fim de todo dia mau, ter esperança e encontrar descanso. Mas ainda assim, haverá crises, dias maus, medo da tempestade, dor. Jesus e cada homem que Deus levantou como Sua voz nesse mundo nunca esconderam isso.

Lembro de Elias, Jó, Davi, Jeremias e quantos dos seus lamentos profundos, quantos de seus momentos de desespero a ponto de pedir a própria morte! O que os fez diferentes dos que não conheciam ao Eterno? Seus desesperos foram vividos aos pés de um Redentor, confiando nAquele que podia livra-los!

Vejo o próprio Jesus, chorando por Lázaro, chorando com desespero tal pela cruz que se aproximava a ponto de transpirar sangue! Jesus, o próprio Deus. Mas o Deus que tornou-se homem e nos mostrou que homens choram. Ele não escondeu a angústia de sua alma. Não nos queria fazer acreditar que homens verdadeiramente espirituais não sentem dores ou aflições. Não. Deus fez questão de deixar registrado o momento de intensa dor de Seu próprio Filho. E é por conhecer a noite escura da alma que Jesus pode ser nosso sacerdote perfeito, nosso advogado que intercede incessantemente por nós diante do Pai. A diferença? Sua angústia foi vivida diante e em entrega confiante à bondade, ao amor e à fidelidade de Seu Pai.

Preciso confessar que estou cansada do evangelho triunfalista do Brasil. Desse evangelho que diz que cristão precisa estar sempre rindo e confiante. Que chorar e angustiar-se é falta de fé. Que pessoas verdadeiramente espirituais não se preocupam diante das adversidades. Que se declararmos as palavras poderosas com muita força e fé, Deus vai sempre atender aos nossos pedidos e as coisas serão conforme a nossa vontade.

Não é nada disso. Precisamos falar de sofrimento, porque a verdade é que sofremos e vamos sofrer, porque vivemos num mundo mau, numa carne má, cercados pelo inimigo de Deus. Vamos sofrer! E não vai ser fácil! Deus não vai sempre fazer nossa vontade não! Ele não poupou Seu próprio Filho de beber o cálice de morte que Ele mesmo tinha pedido, em meio a lágrimas de muito sofrimento, para não beber. Porque a vontade de Deus nem sempre é a nossa: e, com certeza, a dEle sempre é melhor!

Nesse tempo de tanta dor no mundo, não precisamos mais desse discurso triunfalista da teologia da prosperidade que, sem nem percebermos, deixamos entrar em nossa forma de entender a fé cristã. Precisamos de cristãos que chorem com os que choram, que se assumam seres humanos, em nada melhores do que ninguém senão em nossa confiança que, falhos e fracos como somos, temos ao nosso lado um Deus que é Eterno, poderoso, consolador, cheio de graça, misericórdia e compaixão, sempre disposto a ser refúgio às nossas almas cansadas.

Então, quando seu coração cansar e a dor vier, chore sim! Mas chore aos pés dAquele que conhece suas dores e não o julga por isso! Pelo contrário, o chama para Seus braços e lhe oferece o alívio e descanso que só Ele pode dar.

"Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo". (Jesus Cristo, Filho de Deus, no Evangelho de João, cap. 16, v. 33)

"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas" (Jesus Cristo, Filho de Deus, no Evangelho de Mateus, cap. 11, v. 28-29)

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