sexta-feira, 25 de março de 2011

Vivendo em dois mundos...



É como, comumente, me sinto. Cada dia que estou em minha igreja, ouvindo meu pastor ensinar as verdades do Evangelho, olhando para meus irmãos e reconhecendo neles o corpo de Cristo, me unindo a eles para louvar o Senhor e render glórias a Ele, meu espírito se maravilha e fica em êxtase. As realidades espirituais são tão claras e tudo fica tão evidente que a gratidão aflora em meu coração.

Mas, então, o culto acaba e é preciso voltar pra casa. Voltar para “o mundo”. E a sensação é de estar saindo de um mundo para entrar em outro. Não poucas vezes, na própria saída da igreja, ao entrar o carro, surgem os motivos de briga, as pequenas discussões, uma música que desonra ao Senhor, um comentário contra a santidade de Deus. Saímos do meio da Igreja de Cristo para entrar em um mundo que despreza a Cristo. Que abismo profundo!

E assim é dia após dia de nossas vidas. É como se, repetidamente, entrássemos em uma geleira e, ao sairmos dela, caíssemos diretamente em um vulcão. Choque térmico! É a sensação que tenho em muitos e muitos momentos de minha vida, nessa transição constante entre a revelação tão clara das verdades bíblicas e este mundo completamente indiferente a elas.

Algumas vezes, nem é preciso sair da igreja. Estamos em nosso quarto, orando, lendo a Palavra, tendo nossos olhos abertos por Deus e, de repente, abrimos a porta do quarto e saímos. E lá está o outro mundo nos esperando, um mundo que não quer saber de absolutamente nada disso.

Eis uma grande batalha. Se vivemos em um lar cristão, com pessoas que buscam compreender e viver a vontade de Deus, que estão crescendo junto conosco, as coisas são mais fáceis. Somos igreja juntos em cada momento do dia. Porém, se vivemos em um lar sem essas características, quão difícil é. A confusão que se cria entre cada dia de nossa semana longe de nossos irmãos em Cristo, e os momentos em que podemos estar junto deles, é imensa. Passamos a maior parte do nosso tempo em um mundo ao qual não pertencemos – e que quer nos convencer que pertencemos a ele.

Jesus já sabia que seria assim. Aliás, Ele mesmo viveu isso. Saiu de Seu mundo, do lado do Pai, da suprema santidade, para vir viver aqui nesta terra, no meio da suprema depravação. E Ele também soube que viveríamos assim, pois orou ao Pai: “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; [...] Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para ti. [...] Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17: 9,11,15-17).

Mas, ainda assim, Jesus conseguiu AMAR. Ele se irou com este mundo, com a falta de fé de seus próprios seguidores, com a cegueira espiritual deles, com a imaturidade, a ponto de dizer: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?” (Mateus 17:17). Mas, ainda assim, foi capaz de amar. A oração de João 17 é uma expressão clara de quanto Jesus amou aqueles homens, e amou a nós, que ainda viríamos a crer nEle. Ele não era deste mundo caído, mas da santidade plena. Mas, mesmo assim, escolheu viver neste mundo, suportando-o e indo infinitamente além disto: sendo capaz de amá-lo.

Não foi fácil para Jesus. Ele chorou, se irritou, se irou com este mundo, e com seus próprios discípulos. Da mesma forma como não é nenhum pouco fácil para nós. Não é fácil, a cada dia, em nossos trabalhos, escolas, vizinhanças, muitas vezes em nossas próprias famílias nos depararmos com um mundo totalmente indiferente a Deus e inimigo dEle. Nos iramos, nos decepcionamos, nos revoltamos e queremos uma chance de fugir deste mundo, pois não somos dele. Mas não foi isso que Jesus fez. Ele ficou aqui e cumpriu a vontade do Pai, até o tempo que o Pai havia determinado que assim fosse. Não fugiu ao ver todo o pecado que se contrapunha à santidade do Pai. Ao invés disso, enfrentou as dores e foi capaz de amar.

É por isso que o amor é, no final das contas, o maior desafio de nossas vidas cristãs. Porque não é nem um pouco fácil. Minha vontade era poder me isolar com meus irmãos que vivem como eu, pensam como eu e, juntos, passarmos a vida inteira somente apreciando a glória de Deus, nos alegrando nela e rendendo louvores a Ele. No entanto, não é para isso que Deus tem me dado fôlego de vida dia após dia neste mundo. Ele o tem feito para que eu siga o exemplo de Seu Filho e aprenda a cumprir a vontade dEle aqui, em amor. Não sou deste mundo, mas estou nele, porque o Senhor o quer assim. Haverá o tempo de sair dele, mas ainda é aqui que devo estar. Que se cumpra o propósito para este mundo, então.

Não, ainda não aprendi a viver assim como Cristo viveu. Ainda sinto vontade de fugir muitas vezes, sim! Ainda é difícil ter de suportar a incredulidade e cegueira deste mundo muitas vezes. Mas quero muito aprender a ser como Jesus. Viver o amor a Deus sobre todas as coisas e o amor ao meu próximo como o de Cristo por mim. Como disse Paulo: “Não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:14).

Que o Senhor me ensine!


“Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne. E, convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé”
(Filipenses 1: 23-25)

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Aline excelente texto, explicou com perfeição aquilo que enfrentamos em nossa realidade, infelizmente, e que bom que corações como o seu tem conseguido perceber e se incomodar com isso, pois muitos nem sequer se dão conta dessa realidade e vivem como se tudo estivesse "normal"...
Grande Abraço

Aline Ramos disse...

Obrigada, Danny! Que Deus nos ajude!

Abraços! ;)