quarta-feira, 23 de março de 2016

Quaresma – Dia 36 – Vida cristã, ciladas e o exemplo de Jesus



“Observando-o, subornaram emissários que se fingiam de justos para verem se o apanhavam em alguma palavra” (Lucas 20.20a)

Definitivamente, ao olhar para a Bíblia, precisamos desenvolver o olhar de identificar em Jesus, e em todas as coisas que Ele viveu, o exemplo para nossas vidas e todas as coisas que nós também viveremos.

Estive pensando nesse episódio da vida de Jesus. Escribas e sacerdotes armando uma cilada para pegar Jesus em um erro e entrega-Lo às autoridades romanas e destruí-Lo – e em como isso existe em nossas vidas cristãs também. E eu nem estou falando de como sofremos ciladas e perseguições injustas em nossos relacionamentos com os descrentes – estou falando das ciladas que sofremos dentro do próprio meio religioso, originadas daqueles que deveriam ser defensores da fé junto conosco. E era isso o que Jesus estava vivendo. Enquanto publicanos e pecadores sentavam ao Seu lado para ouvi-Lo e aprender com Ele, os líderes religiosos do grupo ao qual Jesus pertencia (os judeus) armavam armadilhas para derrubar Jesus.

E como é triste viver algo assim. Tenho certeza que nenhuma decepção nessa vida é maior do que sermos enganados, ou descobrirmos que estão armando para nosso mal, no meio daqueles em quem mais confiamos. No meio dos que chamamos de irmãos. No meio dos que nos abraçam. No meio do que chamamos de “igreja”. Isso é muito duro. Tão duro a ponto de fazer muitas e muitas pessoas desistirem dessa coisa de “igreja” – de participar de um grupo e dedicar-se a ele. Porque nos frustramos e nos ferimos, e essas feridas são mais profundas do que a maioria que podemos experimentar. Assim, muitos desistem.

Contudo, olhamos pra vida de Jesus e toda ela era repleta desse tipo de coisas. Do início ao fim de Seu ministério. Até o dia mais difícil de Sua vida – enganado e abandonado pelos Seus. Como sempre, nós não paramos para mensurar quanto aquilo era duro pra Jesus. Aqueles escribas e fariseus e sacerdotes eram, para a religião judaica, a religião “do povo de Deus”, o grupo dentro do qual Deus determinou que o Messias fosse trazido ao mundo, como nossos pastores, líderes de ministérios, mestres da Palavra. Estamos acostumados com o fato desses homens estarem sempre perseguindo a Jesus, e por isso tendemos a achar que Jesus lidava tranquilamente com isso, sem nenhum problema – afinal, Jesus sabia o que se passava no coração deles, né? No entanto, aqueles homens eram os líderes do “Povo de Deus”, aqueles que deveriam estar ensinando os caminhos de vida ao povo, aqueles que deveriam ser os exemplos e ajudar o povo a conhecer a Deus e amá-Lo... mas eles faziam exatamente o contrário. E, certamente, o coração de Jesus doía por conta disso. Ele era homem como nós.

Mas Jesus não desistiu. Ele não abandonou os judeus por causa disso. E Ele também não agiu de forma negligente, não se importando com o que aqueles homens pensavam e faziam, falando o que quisesse e fazendo o que quisesse, de qualquer forma, independente do resultado que aquilo teria, principalmente proveniente daqueles que armavam ciladas para Ele. Não. Jesus identificava as armadilhas, com a ajuda do Pai, e respondia a elas com sabedoria. Ele não precisava justificar-se àqueles homens pecadores e maus. Mas, Ele fazia, na medida do possível. Ele não precisava medir Suas palavras por causa do julgamento daqueles homens, mas Ele o fazia, na medida do possível.

Nesse episódio, especificamente, vemos isso. Os emissários enviados perguntam a Jesus se é lícito pagar tributos a César – porque eles esperavam que Jesus fosse pregar revolução contra Roma ou algo assim, e então diria que não se deve pagar tributos a César, já que boa parte desses tributos era cobrado de maneira injusta e opressiva. E Jesus sabia que aquela pergunta era uma cilada. E Ele poderia nem ter se dado o trabalho de responder. Mas Ele age com sabedoria, e com sabedoria responde: “Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição? [...] Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (v.24-25). E a conclusão da narração é que: “Não puderam apanhá-Lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua resposta, calaram-se” (v.26). E esse versículo 26, pra mim, resume todo esse ensino.

Não adianta nos enganarmos e esperarmos que nossa vida cristã seja sempre linda, com pessoas lindas, honestas e bem intencionadas, que se dedicarão a nos ajudar e ao nosso bem. Não será assim. Muito mais do que imaginamos, nós encontraremos, dentro do nosso meio cristão, pessoas más, líderes maus, que procurarão puxar nosso tapete, nos enganar, nos apanhar em erros para conseguir nosso mal diante de outros... nós vamos viver isso. Por que posso afirmar isso? Porque Jesus viveu. E Sua vida é o nosso exemplo – para as coisas boas de se viver, e também para as difíceis. Porém, a grande questão para nós é como iremos enfrentar essas situações. E nossa resposta é a mesma: seguindo o exemplo de Jesus. Nós sempre teremos duas opções na hora de decidir como responder a algo que acontece em nossas vidas. Contudo, a Palavra de Deus nos chama a escolher o exemplo do Cristo – porque somos Seus seguidores e imitadores. E como Jesus agia diante dessas situações? Com sabedoria. Com domínio próprio. Com temor a Deus. Honrando o Nome do Senhor. De uma forma que se podia dizer a Seu respeito: “Não puderam apanhá-Lo em palavra alguma”. Jesus procedia de forma que não se tinha do que acusa-Lo. Suas palavras eram medidas, controladas e baseadas em amor. Ele não pagava mal com mal. Ele pagava mal com bem. E então, mesmo os seus acusadores, ao Lhe ouvir, saíam “admirados da sua resposta”, e calavam-se. Esse é nosso Jesus. Esse é nosso modelo. Alguém que poderia ter expressado toda Sua condenação e ódio por tudo aquilo que aqueles homens faziam, enquanto líderes religiosos do povo, mas não fazia assim. Respondia equilibradamente e com sabedoria. E era assim que até mesmo Seus inimigos O admiravam.


Esse é o chamado para nossas vidas. Que, mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo quando formos enganados, quando forem armadas armadilhas para nos fazer cair – por aqueles que deveriam ser nossos irmãos e apoiadores da fé – que nossos olhos possam voltar para Jesus e lembrar de Sua sabedoria, domínio próprio e de Seu segundo maior mandamento: amar ao nosso próximo – e amar o nosso inimigo. Jesus viveu assim enquanto esteve em nosso meio, como homem. E nos convida a viver assim também. A sofrer as dores com longanimidade. Paciência. E fé em Deus. A não desistir. A perseverar. Porque nosso caminho é o caminho do amor, da misericórdia, do perdão, da compaixão, da GRAÇA – o mesmo caminho que Jesus escolheu e viveu. Porque Ele é o nosso exemplo, e sempre será. Porque as dores que Ele sofreu são e serão as nossas dores – mas a sabedoria, o amor e o temor a Deus com os quais Jesus decidiu reagir a essas dores também devem ser os nossos. Quando, na vida cristã, tivermos que ser expostos às piores ciladas, provenientes daqueles de quem menos esperávamos, que lembremos do exemplo de Jesus. E o sigamos. De forma que todos os que nos perseguem possam olhar para nossas vidas e “não podendo apanhar-nos em palavra alguma diante do povo; admirados da nossa resposta, calem-se”. Essa é nossa maior arma. E é assim que venceremos. Para a glória do nosso Pai e do Nome de Jesus. Ele nos ajude. Amém.

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