segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 13: Na contramão do mundo



“Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes...” (Lucas 6.20)

Que fantástico olhar para a Bíblia e ver quantas coisas novas ela sempre tem para nos ensinar. O texto de Lucas 6.20-38 é como o de Lucas 5.17 a 6.11: apesar de dividido em vários tópicos, é contínuo e está falando a mesma coisa e procurando nos passar o mesmo ensinamento: os padrões de Deus são opostos aos padrões do mundo. E que oposições fortes Jesus faz aos padrões do mundo, neste texto, em ensino aos Seus discípulos. Vejamos:

- O mundo nos ensina a desejar/lutar por/ viver para ganhar dinheiro – estabilidade e conforto é o objetivo maior da vida de quase todas as pessoas do século XXI, acumular riquezas para “viver bem”. Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (v.20b) e “Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.”. Porque quando nos falta, reconhecemos que precisamos do socorro de Deus – e Ele nos oferece o Seu reino; mas quando nos sobra, nos tornamos independentes e autossuficientes, e não há mais nada que Deus possa nos oferecer, pois sequer precisamos dEle – nosso tesouro e consolação a própria terra pode dar.

- O mundo nos ensina a sempre ir em busca de saciar todos os nossos desejos, não passar privações, não nos negar, estar sempre saciados, independente do preço a pagar. Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos” (v. 21) e “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome” (v.25). Se nossa vida neste mundo é em busca de nossa própria saciedade, as coisas deste mundo nos saciarão – mas, no porvir, teremos fome, pois já fomos saciados. Mas, quando este mundo não pode nos suprir as necessidades, então olhamos para o porvir e ansiamos pela recompensa que um dia poderá chegar – e a ela receberemos.

- O mundo nos ensina a buscar felicidade – Ah! A felicidade! A “deusa” deste mundo moderno. Ela é o centro, ela é o foco, ela é a justificativa para todas as coisas, sua busca é incontestável, sempre justificada, sempre correta, sempre perfeita. Ser feliz é o lema! E, certamente, “o que Deus quer é que as pessoas sejam felizes”, não é? Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir” (v.21b) e “Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar” (v.25b). Porque este mundo vai passar e, com ele, todas as suas “alegrias”. Porque este corpo vai morrer e todos os seus prazeres serão exterminados junto com ele. Acabarão. E aquele cuja felicidade foi construída neste alicerce de areia, chamado “Terra” e que, de tão satisfeitos e “felizes” que estavam com o desfrute dos manjares desta terra, esqueceram que tudo isso pereceria e não olharam além. Porém, aqueles que choram nesta vida, estes acabam por descobrir – ou, pelo menos, desejar – que haja mais além dos sofrimentos presentes, e, por esperarem e desejarem, eles receberão.

- O mundo nos ensina a buscar a aceitação, o lugar de destaque, o reconhecimento, as luzes, o status, o poder, o domínio, o topo – e que nenhum lugar que não seja o primeiro é suficiente. Mas Jesus nos diz: “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas” (v.22,23) e “Ai de vós, quando nos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas” (v.26). Porque quando o desejo do nosso coração é o reconhecimento e o louvor dos homens, facilmente traímos a Deus. Porque o mundo O odeia e, portanto, raramente louvará os Seus caminhos. Mas, quando entendemos que o verdadeiro louvor e o verdadeiro reconhecimento não provém desta vida, que o que recebemos aqui irá passar, então toda a perseguição, todas as injúrias, todas as injustiças, toda a exclusão que vivemos por seguir as verdades do Cristo tornam-se ínfimas, e promessas nos esperam no futuro que há de vir.

- O mundo nos ensina a nos amar primeiro, acima de tudo, e que aquele que não me ama não merece o meu amor; que meu amor é para ser oferecido àquele que faz por merecer e que aquele que quer o meu mal, também não deve contar com o meu bem; que besta é quem faz o bem para quem só paga com o mal. Mas Jesus diz: “amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam” (v.27-28).

- O mundo nos ensina que a “legítima defesa” é sempre legítima, e que não devo considerar mau ou errado qualquer mal que é feito em resposta a um mal recebido, pois “aquilo que alguém planta, deve estar preparado para colher”, portanto, “se alguém me fez mal, deve estar preparado para o mal também!”. Mas Jesus diz: “Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica; dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda” (v.29,30).

- O mundo nos ensina que “cada um recebe aquilo que dá” e “a cada um deve ser dado a paga conforme suas próprias ações”; que primeiro eu preciso me preocupar comigo, e só depois com o outro; e que, se alguma coisa faz mal, que seja ao outro e não a mim – “eu primeiro!”. Mas Jesus diz: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (v.31) e “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga” (v.35a).

- O mundo nos ensina a apontar o dedo para quem pensa diferente de nós, e julgar e condenar, e nos achar melhores do que os outros, e donos da verdade; e que, se alguém cometeu um erro, deve ser exposto e cobrado. Mas Jesus diz: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados” (v.37).

E que palavras pesadas estas são! Para nós, discípulos do Cristo! Que palavras duras! Para muitos de nós, tão acostumados com as filosofias e os ensinos deste mundo, ler todas essas ordens de Jesus, todos esses mandamentos, todos esses padrões tão contraditórios a tudo o que conhecemos como “JUSTIÇA”, é quase revoltante! “Não é justo!”, muitos de nós podemos falar! E, de fato, segundo a justiça deste mundo – egoísta, individualista, hedonista – não é justo! Não é justo que eu sofra por causa do mal que o outro fez! Não é justo que eu leve a carga sozinho, enquanto o outro se aproveita de mim! Não é justo que o outro faça suas besteiras e não seja exposto e condenado! Não é justo que alguém me faça mal e saia impune! Não é justo que eu dê a alguém e essa pessoa não me pague! Não é justo que eu ame e não seja amado em retorno! Não é justo simplesmente deixar pra lá o mal que alguém me fez! Não é justo! Não é justo! Não é justo!

Mas a justiça DE DEUS não é a nossa justiça. A nossa é egoísta, a dEle é Altruísta. E se há Alguém que poderia agir pensando em si mesmo acima dos outros, esse é Deus, totalmente superior a todos nós, seres humanos pecadores. Mas Ele não faz isso. Jesus diz para amarmos até os nossos inimigos porque: “será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.” (v.35b). Ele, O ALTÍSSIMO, resolve exercer justiça em benignidade e misericórdia, e nos chama a viver o SEU PADRÃO também: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai” (v.36).

Se nos tornamos FILHOS DELE, SEGUIDORES DO CRISTO, os ensinos do mundo não são mais para nós. Não é mais o nosso padrão. Não é mais no que devemos acreditar. Não é mais o que devemos buscar. Nosso caminho é o oposto. É a contramão. É o SIM à chamada de Paulo em Romanos 12.2a: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Renovação da mente. Não mais as filosofias e teorias deste mundo, da sociedade. Não dá mais pra ser igual a todo mundo. Renovação da mente. Contramão. Esse é o nosso rumo, a nossa nova direção. E isso dói! Isso vai doer muito, muitas vezes. Pobre, faminto, chorando, injustiçado, perseguido, recebendo tapas, dando sem retorno... não é fácil. Não é um chamado fácil. Mas se há alguém que sabe o que nos levará à VERDADEIRA FELICIDADE, esse é o CRIADOR e CONSUMADOR de todas as coisas. Ele sim sabe o que é ser BEM-AVENTURADO. E o que trará apenas “AI” no final. Ele sabe. E, se Ele nos diz que o caminho das Bem-Aventuranças é a contramão, é nela que devemos andar: “Para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12.2b).


Vamos juntos, na contramão – de mãos dadas, ajudando-nos uns aos outros a não desfalecer. O galardão que nos espera, ao fim deste caminho, certamente será muito melhor do que TUDO o que este mundo pode nos oferecer. Vai vale à pena!

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