quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Quaresma - Dia 2: Deus escolhe os humildes



“Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou a humildade da sua serva” (Lucas 1.46-48 – versão ARA)

“Então declarou Maria: “Engrandece minha alma ao Senhor, e o meu espírito se regozija em Deus, meu Salvador, pois contemplou a insignificância da sua serva”" (Lucas 1.46-48a – versão King James Atualizada)

A segunda devocional de Quaresma está no texto de Lucas 1.46-55, o “Magnificat”, ou o Cântico de Maria. E este texto, por si só, é tremendo, belíssimo. Porém, é a vida que há por trás destas palavras que me faz refletir. A menina Maria. Me comove pensar em quem era esta menina, quando o anjo Gabriel lhe apareceu para anunciar que ela conceberia e seria a mãe do Messias. Tento me colocar no lugar dela.

A tradição histórica costuma defender que Maria teria cerca de 14 anos quando ficou grávida de Jesus. Era o tempo em que as meninas costumavam casar em Israel, naquela época. Tão nova. E com tanta fé! A Bíblia não fala da história dela, não fala quem foram os seus pais, não diz, como disse sobre Zacarias e Isabel, nada sobre seu andar com Deus e sua fidelidade a Ele. Porém, quando olhamos para a narração da reação dela à visita do anjo de seu Senhor, que coisa bonita de se ver! Tão nova! Como ela pôde simplesmente responder: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (v.38)? Maria sabia quem era Deus. Ele era o seu Senhor. Ela cria nEle, ela O temia. Não lhe era um desconhecido. Ela sabia que, apesar daquele anúncio lhe ter parecido absurdo no início, pois como uma virgem poderia conceber um filho?, ela sabia que nada era impossível ao seu Deus. Ela O conhecia. Fico pensando em quanto Maria teria ouvido falar a respeito do Messias que viria, esperado por todo o seu povo por séculos e séculos... quantas histórias ela teria ouvido a respeito de como Ele seria e como Ele nasceria, e como Seu reino seria grandioso e Ele seria o libertador de Israel, e Seu reino não teria fim. Ela deve ter ouvido falar muito sobre isso. E, como todos os verdadeiros israelitas, aguardado ansiosamente a vinda do Seu Rei – ainda mais no tempo de opressão que o seu povo vivia sob o domínio de Roma.

Mas, então, ela ouve as palavras: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.” (v.31-33). Era sobre o esperado Messias que o anjo falava! Só poderia ser! Essas eram as promessas a respeito dEle. Teria Maria entendido isso de imediato? Não teria ela lembrado de que, sendo Ele o futuro Rei de Israel, todos esperavam que Ele nascesse de uma grande família israelita, dos reconhecidos dentre o seu povo, dos de linhagem importante? Mas ela era uma simples jovem de Nazaré. Nazaré! E lembrei do que Natanael (aquele que Jesus chamou de “um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!”, em João 1.47) falou em João 1.46: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”. Não teria sido isso o que Maria ouviu durante toda a sua vida? Desprezada, rejeitada, excluída, sem perspectivas diante da humildade de sua origem. Quantas coisas Maria teria precisado enfrentar por ser uma de Nazaré? Que lugar esquecido seria aquele? Mas um anjo lhe apareceu, da parte do seu Deus, e ela creu em suas palavras – contra todas as palavras que todos os outros haviam dito em toda a sua vida. Que fé! Que entrega admirável! Isso só é possível quando se conhece ao Todo-Poderoso Deus!

E é assim que Maria canta, com tanto júbilo:

“A minha alma engrandece ao Senhor,
E o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador,
Porque contemplou a humildade da sua serva.
Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada,
Porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome.
A sua misericórdia vai de geração em geração, sobre os que o temem.
Agiu com o seu braço valorosamente;
Dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos.
Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.
Amparou a Israel, seu servo,
a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão
e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais”

Maria sabia quem era: humilde (v.48 e 52b), serva (v.48), dentre os famintos (v.53). E ela sabia quem era o seu Deus: Salvador (v.47), Poderoso (v.49), Santo (v.49), Misericordioso (v. 50, 54), Fiel (v.55). Ela, pequena; Ele, Grande. E, por isso, havia humildade em seu coração. E, então, ela reconhece, humildemente, que é aos humildes que Deus escolhe, e por isso O exalta. Ele poderia ter exaltado os grandes, mas Ele rejeita aqueles que alimentam pensamentos soberbos em seus corações (v.51), Ele derruba do trono aqueles que se acham poderosos (v.52), e enche de bens aos que se sabem famintos e necessitados, enquanto despede de mãos vazias aqueles que se acham ricos (v.53). Esse é o nosso Deus! E foi exatamente o que o próprio Jesus falou, conforme nos diz Lucas 10.21: “Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”.

Que estas palavras, as de Maria e as de Jesus, ressoem em nossas mentes e corações. Não há espaço para soberba no coração do verdadeiro filho de Deus. Somente aos pequeninos, aos que se sabem e reconhecem humildes, servos, pobres, necessitados de um Salvador, o Senhor se revelará. Que não nos achemos maiores do que somos. Que não olhemos nosso próximo como inferior a nós mesmos. Que, ao olhar para nós mesmos, possamos voltar nossos olhos para DEUS: e, diante de Sua grandeza, reconhecer nossa pequenez. E que, apesar de enxergar nossa pequenez, não desacreditemos das grandes coisas que Ele pode fazer através de nossas vidas neste mundo: por causa de quão grande Ele é!


Que possamos dizer como Maria, mesmo sabendo quem nós somos: “Aqui está a serva do Senhor: que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Amém.

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