domingo, 14 de fevereiro de 2016

Quaresma - Dia 4: Quando Deus fala



“E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo.” (Lucas 2.9-10)

Nosso texto de reflexão de hoje está em Lucas 2, versos 8 a 20, mas foram os versos 9 e 10 que começaram a despertar minha reflexão. Aqueles homens estavam recebendo A GRANDE BOA-NOVA, mas sua primeira reação foi ficar “tomados de grande temor”. A versão King James diz que eles “ficaram apavorados”. E isso me pegou de jeito. Quantas vezes, em nossas vidas, também não é assim? Deus vem falar conosco, vem nos trazer Suas boas-notícias grandiosas, mas, à primeira vista, o que fazemos é nos apavorar. Ficamos cheios de medo.

Fico imaginando como foi para aqueles pastores ver aquela cena: “um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles”. E ainda era de noite! Estavam eles ali, na vida pacata de tomar conta de suas ovelhas, durante a noite, e, de repente, simplesmente aparece um anjo e A GLÓRIA DO SENHOR brilha ao redor deles? Como assim? Eu, provavelmente, teria me apavorado também! Sei lá, somos tão pequenos diante da grandeza de Deus, que presenciar Sua revelação pode parecer motivo para nos enchermos de medo mesmo. Porém, basta uma segunda olhada para percebermos que não há porque temer.

Lembro do texto que fala de quando os discípulos estavam em alto mar, numa certa noite em que Jesus havia ficado para trás para orar, e de repente Jesus vem encontra-los, andando sobre as águas. E eles ficam apavorados, exatamente como nossos pastores, pois pensavam que era um fantasma. E eles eram os discípulos que andavam com Jesus! Porém, passado pouco tempo, eles olham de novo e percebem que eram o Seu Mestre, e percebem que estavam presenciando uma revelação preciosa de Deus.

Às vezes, receber as revelações de Deus, contempla-Lo, ser por Ele visitado em nossos dias pacatos, é algo que pode gerar medo em nós. Ele é tão grande – e nós somos tão pequenos! Seus sonhos são tão grandes, para pessoas tão pouco capazes como nós! Como poderia ser que Ele estivesse se revelando a mim? Poderia ser que o Deus de Israel quisesse se revelar ali, no meio do nada, a simples pastores que cuidavam de suas ovelhas? Seria mesmo Ele? E, então, tememos. Porém, o que precisamos é apenas dar mais uma olhada – e lembrar que esse Grandioso Deus é tão bom, tão cheio de graça e de misericórdia que Ele ESCOLHE amar e se revelar a seres humanos como nós. Não precisamos temer! Que coisa linda o que os anjos disseram aos pastores: “Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria”! É uma boa notícia o que Ele tem para nós – que trará grande alegria para todo o povo. Aleluia!

E o anjo continua: “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura” (v. 11 e 12). E, para nós que já conhecemos a história, pode parecer algo muito simples ouvir isso. Porém, nos coloquemos no lugar daqueles pastores. Todo israelita era ensinado sobre a promessa que Deus fizera do Salvador de Israel, o Messias. Foram séculos e séculos, geração após geração aguardando aquela promessa se cumprir. É como hoje aguardamos o retorno do nosso Cristo. Porém, segundo os teólogos cristãos costumam ensinar, o Messias que os judeus esperavam era o Messias Rei, Poderoso, Revolucionário-Salvador. Então, o anjo diz àqueles pastores que “o sinal” de que o Messias havia chegado era “uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura”. Fico pensando em como isso soou àqueles pastores. Como assim? Numa manjedoura? Ali, naquele fim de mundo, uma criança deitada no local onde os animais comem? Esse era o Messias tão esperado? Será que essa mensagem não pareceu tão louca aos ouvidos daqueles homens, tão contrária às suas próprias expectativas e crenças?

No entanto, eles creram. Contra tudo que eles poderiam ter aprendido e esperado durante toda a sua vida, aqueles pastores creram. E acredito que eles creram porque quando a voz de Deus soa, não há como não reconhece-la. Ela é inconfundível. Aquele anjo, o brilho da glória do Senhor, a multidão de anjos glorificando a Deus... era o Deus de Israel que estava falando! Não sei quanto tempo eles levaram pensando em tudo aquilo, para então crer. Mas, no fim, eles sabiam. E acredito que é assim com a gente também. Tantas vezes, Deus nos fala coisas que nos parecem tão loucas, tão contrárias a tudo o que esperávamos ouvir, tão sem sentido, tão diferente do que achamos saber... e elas até podem gerar dúvida e medo em nossos corações por um tempo, porém, no fim, nós sabemos quando é a voz do nosso Pastor. Suas ovelhas conhecem a Sua voz. Ela é inconfundível. E é isso que nos leva a crer. É nosso Pai falando, podemos confiar.

E, por fim, aqueles homem não pararam simplesmente no “crer”. O crer exige uma resposta. “E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer. Foram apressadamente e acharam Maria e José e a criança deitada na manjedoura” (v. 15 e 16). Eles agiram conforme a sua fé. Eles foram atrás da promessa feita por Deus. E é o que nós também precisamos fazer. Não apenas acreditar nas promessas que Deus tem nos feito, mas nos mover em direção a elas. Às vezes, esse movimento acontece em nossas mentes e corações – mudanças internas que Deus deseja gerar em nós, em nossos sentimentos, em nossas motivações, em nossas fontes de segurança, em nosso caráter, no mais íntimo de nós. Passos que não necessariamente nos levarão a mudanças físicas, geográficas, palpáveis. Porém, algumas vezes, o movimento que precisamos fazer é mesmo com nossos pés – para longe de algo, para outro lugar, para uma nova missão, para o lugar que Ele nos mostrará. Contudo, em qualquer que seja a situação, quando nosso Senhor falar conosco e nos revelar Seus planos, caminhos, sonhos, precisamos CRER e também IR. Partir na direção do que nosso Pai falar. E, então, há de cumprir-se em nós o que se cumpriu nas vidas daqueles pastores: “Voltaram, então, os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado” (v.20). Que assim seja também em nossas vidas. Para a glória de nosso Deus fiel, eternamente. Amém.

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