quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Quaresma - Dia 1: Tempo de Espera



Ontem, quarta-feira de cinzas, uma amiga escreveu um texto sobre o significado e importância desse tempo chamado de Quaresma – negligenciado no meio protestante. Me fez refletir. E perceber quanto preciso disso. Tempo de silêncio, de contrição, de reflexão a respeito do sacrifício feito pelo meu Senhor e Salvador, e de prática das disciplinas cristãs. Depois ela me marcou numa publicação que divulgava uma série de vídeos-devocionais que serão lançados, diariamente, durante esse período da Quaresma, e decidi acompanha-los e utilizá-los para meu tempo devocional. E aproveitar esse período de reflexão para voltar a registrar aqui, neste canto que o Pai me deu, alguns pensamentos desta caminhada. A leitura bíblica se dará no Evangelho de Lucas, e o primeiro dia trata do texto do capítulo 1, versos 5 a 17.

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“Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João.” (Lc. 1.13a)

Logo que ouvi, no vídeo devocional, a leitura desse trecho do texto, pensei em como é bom ouvir algo desse tipo: “a tua oração foi ouvida”. Mas logo meus pensamentos foram remetidos a todo o contexto ao redor deste momento. Não tenho certeza se a oração de Zacarias era para ter um filho. O comentário da minha Bíblia diz que possivelmente era um pedido pela vinda do Messias. Porém, ao ver as menções de Lucas a respeito da vida de Zacarias, de que ele e sua esposa não tinham filhos e eram avançados em dias, e do questionamento de Zacarias ao anjo (“Como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias”, v.18), e sabendo da importância que gerar um filho, deixar um descendente tinha para o povo judeu, me permito acreditar que sua oração poderia ser por um filho. E foi sobre esse ponto minha reflexão.

Por quanto tempo Zacarias teria feito suas orações? Desde quando ele teria começado a pedir uma resposta para seu Deus? Quanto deve ter sido difícil para ele esperar por essa resposta? Terá ele desanimado e deixado de acreditar em algum momento? Terá ele tido vontade de parar de orar por este sonho? Terá ele ficado cansado? Terá ele imaginado que essa resposta ainda poderia chegar, mesmo já avançado em idade com sua esposa?

Mas a resposta chegou. Depois de anos e anos de espera, sua resposta chegou. Um dia, um anjo enviado do seu Senhor veio dizer-lhe que sua oração havia sido ouvida e sua mulher lhe daria um filho! Posso entender que sua resposta tenha sido de questionamento (v.18). Depois de tanto tempo! Seria possível que aquilo fosse verdade? E, apesar de já ser suficientemente maravilhoso saber que ele não morreria sem o seu descendente, as palavras do anjo não pararam ali, havia mais. Muitos se regozijariam com o nascimento de seu filho (v.14), ele seria grande diante do Senhor, separado para Deus e cheio do Espírito Santo já desde o ventre (v.15), converteria muitos dos filhos de Israel ao Senhor (v.16), iria à frente do Senhor no espírito e poder de Elias, para cumprir a antiga promessa de converter os corações dos pais aos filhos e converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar ao Senhor um povo preparado (v.17). Que palavras mais tremendas eram essas! Como crer? Aquele homem velho com sua mulher idosa... e promessas tão grandes feitas a si!

Os longos tempos de espera muitas vezes amortecem nosso coração. Adormecem nossa fé. Nos tiram as forças para continuar aguardando com o mesmo fervor. É duro esperar e esperar e ver as possibilidades esvaindo de suas mãos, enquanto nada sugere a chegada de seu sonho. E mais ainda quando, como era com Zacarias e Isabel: “Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor” (v.6). Às vezes, dói ouvir a voz do Inimigo de nossas almas nos dizendo “é esse o pagamento por ser fiel ao seu Deus?”. E, às vezes, quase acreditamos nisso. Nos perguntamos se realmente vale à pena manter-se fiel quando a resposta que você tanto espera não vem. Quando já se passaram dez anos. Quando nunca dá certo. Quando todos recuam e abrem mão. Por que manter-se fiel?

Mas Zacarias e Isabel permaneceram. Não porque esperassem uma recompensa de Deus. Provavelmente, nem esperassem mais. Não de verdade. Tanto que a dúvida assombrou o coração de Zacarias, assim que sua resposta chegou. Eles permaneceram fiéis porque era isso que eles eram, era no que criam. Permaneceram por causa de QUEM SEU DEUS ERA. Não pelas coisas que Ele poderia fazer-lhes. Não havia como voltar atrás, pois eles conheciam o Deus a quem serviam e sabiam que nenhum outro jeito de viver satisfaria suas almas sedentas pela glória do seu Deus.

E a resposta poderia nunca ter vindo. Poderia. Mas ela veio. Já quando parecia ser improvável – na verdade, impossível. Deus permitiu que todo aquele tempo passasse. Deus permitiu todo aquele tempo de espera. E só Ele sabe os motivos para isso. Porém, no tempo certo, para a glória de Seu Nome, a resposta às orações daqueles filhos chegou – e foi MUITO ALÉM, MUITO MELHOR, MUITO MAIOR do que eles poderiam pedir, pensar ou imaginar.


Que seja assim conosco. Quando o tempo passar, quando as orações parecerem perdidas, quando as chances parecerem esgotadas, quando o cansaço bater e as possibilidades deixarem de existir, lembremos quem é o nosso Deus. Deus do impossível, Todo-Poderoso. E que, qualquer que seja a Sua resposta para nossas orações, Seus planos continuam sendo totalmente bons, e Sua vontade boa, perfeita e agradável. Permaneçamos fiéis.

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