sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 17: Quando Jesus adormece



“Enquanto navegavam, Ele adormeceu...” (Lucas 8.23a)

E abateu-se sobre o lago uma grande tempestade com fortes ventos, de modo que o barco estava sendo inundado, e eles corriam o risco de naufragar” (Lucas 8,23b). E parece que é só nessas horas que Jesus “resolve adormecer”. Não poderia ter escolhido adormecer quando todos estivessem em terra firme, seguros, confortáveis e felizes? Não. Tinha que ser no meio de uma tempestade tal que o barco estava prestes a naufragar.

E é exatamente assim que nos sentimos, muitas e muitas vezes. Olhamos ao redor e tudo é tempestade – nuvens escuras, ventos fortes, a água enchendo o barco e o perigo de todos naufragarem e morrerem. E a pergunta que não cala é: “Onde está Jesus?”. Onde está Deus em nossos momentos mais difíceis, que parece não nos ouvir, que parece ter fechado Seus olhos à tormenta que nos assola, onde Ele está? E parece que estamos lutando sozinhos – e que vamos perder a luta. Então, nos desesperamos e clamamos a Ele, cheios de temor. Por quê?

Porque Ele está testando a nossa fé. “Ora, a fé é a certeza de que haveremos de receber o que esperamos, e a prova daquilo que não podemos ver” (Hebreus 11.1 – BKJ). E não dá pra exercer fé se não estamos esperando nada, porque tudo o que desejamos já recebemos. Não dá pra exercer fé se todas as coisas podem ser contempladas pelos nossos olhos e então não precisamos mais de provas. Não dá pra exercer fé quando tudo está seguro, confortável, alegre e feliz. Não dá pra exercer fé quando nossas forças são suficientes para resolver todos os problemas ao redor. Fé só é vivida quando chegamos ao ponto em que tudo o que temos em mãos tornou-se insuficiente. Aí, só o que nos resta é crer. Fé só é vivida quando a tempestade vem. Ventos, nuvens, trovões, torrentes de água... e não há poder em nós para controlar nada disso. Aí então é quando reconhecemos que precisamos de ajuda – e precisamos crer.

Mas parece tão injusto que, no meio de tanta aflição que os discípulos viviam naquele momento, Jesus estivesse tranquilamente dormindo. Talvez eles tenham se sentido assim. Desamparados. Abandonados. Injustiçados. Como Ele poderia dormir e deixa-los enfrentar aquilo “sozinhos”? Contudo, fico pensando em qual teria sido o desfecho da história se eles tivessem tido , e confiado que, ainda dormindo, Jesus estava naquele barco e, portanto, nada lhes iria acontecer. E acredito que essa história é como a história da pesca desastrosa de Pedro e o milagre da pesca milagrosa. Talvez, novamente, Deus estivesse querendo mostrar àqueles discípulos Quem era Jesus. Talvez eles tivessem vivido mais um milagre poderoso de Jesus ali – e sem que Jesus precisasse dizer nada. Talvez eles tivessem tido a oportunidade de comprovar, mais uma vez, e de maneira indescritível o poderio e soberania de Cristo.

Mas, eles confiaram mais nas circunstâncias do que no seu Senhor. Eles olharam mais para a tempestade do que para a presença do Messias com eles. Aquilo que eles podiam ver tornou-se maior do que o que não se podia ver. Todos aquelas nuvens, chuva, vento, trovões e relâmpagos conseguiram assustá-los tanto, que os fizeram esquecer de Quem estava com eles. Aqueles discípulos estavam vindo de uma caminhada tão profunda com Jesus, ouvindo Suas revelações, vendo os infindáveis milagres que Ele operava, crendo em seu coração que Ele era o Messias. Mas, quando se viram diante de uma tempestade, todas essas lembranças simplesmente desapareceram. Esqueceram tudo o que Jesus já tinha feito e revelado até então. O medo os dominou e roubou a fé.

E não é exatamente assim conosco? Vamos caminhando com Deus, vendo Seu poderoso agir em nossas vidas, com Sua graça infinita e multiforme. Ah, Ele tem feito tanto por nós! Tem nos dado livramentos e nos feito enxergar que era a Sua mão nos livrando; tem nos guardado do mal e nos dado forças nas horas das provações; tem respondido às nossas orações; tem sido paciente e bondoso conosco nas nossas horas más; tem feito muito mais do que poderíamos pedir, pensar ou imaginar... E tudo isso nos encanta tanto, enquanto estamos caminhando ao lado dEle, e enche nosso coração de alegria, confiança e descanso. Mas, quando a tempestade vem, não importa quanto tempo de bonança nós tivemos antes, nós esquecemos. Nosso coração se enche com o que os olhos estão dizendo a ele e, simplesmente, esquece. Inunda-se de temor. E desespera. E toda a alegria, a confiança e o descanso que o nosso Senhor queria nos ensinar se desfaz.

Onde está a vossa fé?”, perguntou Jesus (Lucas 8.25a). Quando os discípulos clamaram por ajuda, Ele levantou-se e ajudou, e repreendeu o mar e os ventos, “e houve perfeita paz” (v.24b – BKJ). Mas, eles poderiam ter experimentado daquela bonança, daquele milagre, sem desespero e temor. Se tivessem fé. Poderiam ter encontrado descanso e paz, mesmo em meio às maiores tempestades. Se tivessem fé. “Onde está a vossa fé?”. É o que Jesus quer que desenvolvamos. Fé nEle. Confiança, mesmo quando não podemos ver. Certeza, mesmo enquanto ainda estamos esperando. Confiança, certeza. Por causa de Quem Ele é. Porque Ele está no barco. E porque Ele nunca abandona os seus. A bonança virá. O barco que tem Jesus não afundará. Não precisamos temer e nos desesperar. Precisamos lembrar. De nossa história com Ele, de tudo o que Ele já fez – porque Ele continua o mesmo e não nos abandonará.

Ele não dorme. Mesmo quando Jesus adormece, Ele não dorme. Ele não se esquece de nós. Nunca. Hora nenhuma. E nenhuma tempestade será grande o suficiente para afundar o barco dEle. Ele está conosco, também podemos adormecer e descansar tranquilos. Mesmo com vento, mesmo com nuvens escuras, mesmo com trovões e relâmpagos, mesmo com o barco a encher de água, estamos seguros, não precisamos temer. Nosso Comandante nunca perde o controle da Sua embarcação. Nele, nós podemos confiar. Basta ter .

Que Ele renove a nossa fé a cada dia e nos ajude a aprender, a lembrar, a não desesperar, a confiar. Para a glória do Seu Nome. Amém.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 16: Chamados para ser agricultores



"O semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram.
Parte dela caiu sobre pedras e, quando germinou, as plantas secaram, porque não havia umidade.
Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram com ela e sufocaram as plantas.
Outra ainda caiu em boa terra. Cresceu e deu boa colheita, a cem por um". Tendo dito isso, exclamou: "Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça! ".

"Este é o significado da parábola: A semente é a palavra de Deus.
As que caíram à beira do caminho são os que ouvem, e então vem o diabo e tira a palavra dos seus corações, para que não creiam e não sejam salvos.
As que caíram sobre as pedras são os que recebem a palavra com alegria quando a ouvem, mas não têm raiz. Crêem durante algum tempo, mas desistem na hora da provação.
As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem.
Mas as que caíram em boa terra são os que, com coração bom e generoso, ouvem a palavra, a retêm e dão fruto, com perseverança".

(Lucas 8: 5-8, 11-15)

E se nós estivéssemos lá no caminho, e ajudássemos aquela semente que caiu à sua beirada a alcançar a terra profunda, onde as aves não a pudessem alcançar? E se estivéssemos lá ao lado daquele em cuja vida a semente foi lançada, intercedendo e colocando-nos na brecha para que o diabo não roubasse dele as Palavras de vida e salvação?

E se nós retirássemos as pedras e fôssemos os regadores que umedecem a terra, para que aquela semente não morresse pela sua secura? E se déssemos àquela terra as condições adequadas para possibilitar que a semente ali lançada criasse raízes? E se, na hora da provação, fossemos o braço e o abraço, o sustento, a palavra consoladora para aqueles em cuja vida as Palavras de vida e salvação foram lançadas, ajudando-os a crescer mesmo durante as provações?

E se arrancássemos os espinhos antes mesmo que aquela semente começasse a crescer, para que eles não a sufocassem? E se fôssemos aqueles que estariam ajudando aquele em cujo coração as Palavras de vida e salvação foram semeadas a compreender as vãs filosofias deste mundo e suas falsas promessas de felicidade, ensinando-lhe o caminho da verdadeira felicidade, caminhando com ele neste caminho, para que os cuidados, riquezas e prazeres deste mundo não lhe soassem tão atraentes assim?

O crescimento vem de Deus, é verdade (1 Coríntios 3.6). Mas nós podemos cuidar da terra e prepara-la para receber a semente. Podemos ser, como Paulo e Apolo, aqueles que plantam e regam. Os agricultores, que dão seu melhor para ajudar a terra a estar preparada para que as sementes lançadas sobre elas dêem muitos frutos. Ajudar a terra a chegar no nível de ser chamada de “boa terra”. Não, isso não garante que as sementes frutificarão. O frutificar é com Deus. Mas, ainda assim, somos chamados a cuidar da terra.

Cada um de nós já passou pelo momento em que o diabo veio roubar de nós as palavras enviadas por Deus aos nossos corações; em que as provações foram tão duras que o coração tornou-se seco e carente de água; em que os espinhos cresceram junto com nossa semente e os prazeres deste mundo atraíram nossos olhos, colocando em risco a vida das promessas de Deus para nós... e nós sabemos o quanto é duro enfrentar tudo isso sozinho. Como a solidão na caminhada cristã é dolorosa. Pela graça e misericórdia de Deus, nossas sementes não morreram, porque Ele intercedeu por nós. Porém, ainda assim, como desejamos ter tido o auxílio de irmãos na fé cuidadosos e amorosos ao nosso lado. Ou, quando os tivemos, como percebemos o valor de ter um verdadeiro irmão em Cristo combatendo esses combates conosco.

E nós também somos chamados a esta missão. Ser estas respostas aos nossos irmãos que sofrem, que estão fracos, que estão atraídos pelo brilho deste mundo, que estão passando por provações, que estão sendo atacados pelo inimigo... e nós somos aqueles que podem oferecer o ombro, os ouvidos, os conselhos, os consolos – mãos, pés, voz de Deus neste mundo. Talvez, mesmo sendo tudo isso, a semente não permaneça viva. Talvez não dê os resultados que gostaríamos que desse. O crescimento vem de Deus. Mas, ainda assim, devemos plantar e regar. Fazer nossa parte. Cuidar da terra – em amor.

Há tantos de nossos irmãos, ao redor deste mundo, lutando tão duras batalhas sozinhos. Irmãos e irmãs que conheceram verdadeiramente o Senhor Jesus, e que fazem parte da Igreja Perseguida de nossos dias – que desejam ter um companheiro de fé ao lado, que desejam aprender mais das Sagradas Escrituras, que desejam crescer na fé e no conhecimento do Filho de Deus. Homens e mulheres que tem sido abandonados por suas famílias, excluídos de suas comunidades, discriminados, perseguidos, maltratados, assassinados... pessoas que têm passado pelas mais intensas dores, por amor a Cristo – coisas que sequer podemos imaginar. E, sim, eles permanecerão fiéis, porque o Senhor que eles amam os sustentará. Mas, ainda assim, como lhes teria sido menos duro enfrentar isso ao lado de algum irmão na fé. Como teria sido menos duro NOS TER por perto. Saber que não estão sós. Ter a quem dar as mãos. Ter com quem compartilhar as lágrimas e os risos. Ter com quem andar. Sentir-se amado.

E se nós fôssemos essa resposta?


Chamados para ser agricultores. No mundo todo. Onde houver terra precisando de cuidados. Onde houver batalhas sendo enfrentadas. Onde houver dor. Onde houver solidão. Aonde o Senhor da Seara quiser nos enviar. E que Ele nos envie. Para a glória do Seu Nome e a salvação dos perdidos. Amém. Amém.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 15: Quebrando os Paradigmas Religiosos



“Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Lucas 7.9b)

A reflexão do vídeo devocional de hoje da Cidade Viva Pb (que você pode ver aqui), sobre esse trecho do Evangelho de Lucas, contando a história da cura do servo do centurião, já traz uma boa análise a respeito do assunto. Mas eu gostaria de avaliar um pouco mais o contexto por detrás desse evento vivenciado por Jesus e o significado destas palavras que Jesus pronunciou a respeito daquele centurião.

Primeiro, vamos lembrar algumas coisas sobre os judeus. Durante toda a história do povo de Israel, narrada no Antigo Testamento, os judeus foram O POVO separado de Deus. Eles eram únicos. Os únicos. Não havia mistura. Inclusive, em todo o percurso histórico deles, o grande mandamento de Deus era para que eles não se misturassem com os outros povos e não adotassem as práticas deles. Então, em todo o Antigo Testamento, vemos o povo de Israel sendo ensinado a manter-se separado dos demais, pois eles eram um povo especial – O POVO DE DEUS. E então, sabemos pelos estudos históricos, que os judeus acabaram desenvolvendo uma verdadeira inimizade contra todos aqueles que não eram judeus – como os samaritanos e os “gentios” de forma geral, entre os quais encontravam-se os publicanos e centuriões, que além de não serem judeus ainda trabalhavam para Roma na opressão de Roma sobre Israel. Então, essas pessoas eram consideradas inimigas – enquanto que os judeus achavam-se especiais, pois ELES ERAM “O Povo da Aliança” e, portanto, O Povo de Deus. Portanto, o sentimento de superioridade era algo comum a praticamente todos os judeus. Eles cresceram aprendendo a enxergar a vida dessa forma.

Aí nós chegamos neste texto, lembrando de uma segunda coisa: todo o texto que antecede esse fato, que se estende desde Lucas 5.17 até Lucas 6.49, como já discutimos anteriormente, está condenando as práticas e as vidas dos LÍDERES RELIGIOSOS do povo israelita. Aqueles que se sentiam os mais nobres judeus, “protetores da Lei”, estavam sendo desmascarados por Jesus e combatidos por ele – os fariseus e os escribas. Eles eram os maiorais dentro da religião judaica. E Jesus vinha enfrentando e denunciando várias de suas mentiras religiosas. E, logo após terminar de expor Seu confronto com os líderes religiosos do “Povo escolhido de Deus”, Lucas narra o encontro de Jesus com o Centurião Romano – um GENTIO, um (quase) INIMIGO de Israel. É verdade que aquele centurião tinha a amizade dos anciãos dos judeus, como diz o verso 5, era considerado “amigo do povo” e “digno” de receber o favor de Jesus, inclusive tendo construído a sinagoga de Cafarnaum. No entanto, ele continuava sendo gentio, e eu posso quase ter certeza que aqueles judeus, por mais que o considerassem amigo, não o consideravam como um igual. Ele ainda era gentio e ainda era romano.

E então, depois de ter reprovado tão duramente os escribas e fariseus diante de Seus discípulos, aquele centurião se comporta com tamanha fé, e Lucas registra que: “admirou-se Jesus dele” (v.9a). Que coisa linda de se dizer a respeito de alguém! Uma pessoa que conquistou a admiração do MESSIAS. Depois das palavras de tanta frustração e decepção de Jesus em relação AOS DO SEU POVO, Ele encontra aquele gentio e sente ADMIRAÇÃO por ele. E não apenas admira-se, mas declara aos Seus discípulos e aos que estavam reunidos ali: “Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (v.9b). E eu fiquei pensando: que afronta estas palavras foram para os judeus ali reunidos! E que quebra de paradigmas! Porque, aqueles homens, tão acostumados a se sentirem superiores aos outros simplesmente por serem “os descendentes de Abraão”, são não apenas comparados a um centurião romano, mas considerados inferiores a ele – e não em qualquer coisa, mas na coisa que mais os definia como “especiais” – FÉ.

E penso que havia propósito nessa sequência de fatos. Jesus estava preparando os Seus discípulos. Seus discípulos precisavam daquela renovação da mente que Paulo menciona em Romanos 12.2. Eles haviam sido criados com tantos paradigmas religiosos, e tantos deles errados, resultando numa mentalidade tão diferente do que todas as revelações de Deus significavam, que eles precisavam aprender tudo de novo. Afinal, foi isso o que Jesus veio fazer, não é? Revelar o real significado da Lei. Todo o entendimento religioso que aquele povo havia adquirido até ali estava incompleto, e só em Jesus era possível compreender o sentido pleno. E era o que Jesus estava começando a fazer – transformar os Seus seguidores. Expô-los aos grandes erros de seu PRÓPRIO POVO – humilhá-los, diminuí-los, para que eles pudessem desenvolver a humildade e a compaixão necessárias para um discípulo Seu. Para que Eles pudessem compreender e também desenvolver o Seu Próprio Caráter. O caráter de Deus. E, para isso, eles precisavam diminuir, “baixar a bola”. E é o que está acontecendo aqui. Eles não apenas foram expostos às mentiras existentes na vida religiosa de seu próprio povo, mas também foram forçados a escutar Deus elogiando um “DE FORA DOS SEUS”, e considera-lo superior aos “escolhidos”.

E como Deus precisa fazer isso conosco! Oh, Senhor, quantas vezes temos nos achado superiores às pessoas que estão “fora do nosso círculo” – sejam pessoas de denominações cristãs diferentes da nossa, ou mesmo pessoas que são novas na fé, que estão conhecendo a Jesus agora – em contraste conosco, que conhecemos a Cristo “há tanto tempo”. E olhamos com menosprezo para nosso próximo, e com orgulho para nós mesmos. “Nós já conhecemos as grandes doutrinas teológicas” ou “nós fazemos parte da denominação mais bíblica”, e etc. E é quando Jesus precisa nos fazer passar por essas experiências que Seus discípulos passaram – de “baixar nossa bola”. Fazer um milagre na vida daquele irmãozinho tão simples, que conhece tão pouco ainda, mas que tem TANTA FÉ! Aquele irmão que talvez nem saiba explicar direitinho o plano de salvação ou a história da igreja, ou que talvez nem entenda direito essa coisa de ser Protestante, nunca estudo a Reforma, sabe o básico da Bíblia, mas SEU CORAÇÃO ESTÁ EM DEUS. Ele CRÊ. Ele sabe. Ele tem FÉ. Aquela fé que muitas vezes, por nosso excesso de paradigmas e de raciocínios, nos falta. A fé simples. A fé que diz: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz” (v. 6-8). Tão diferente de tudo que se falou sobre os escribas e fariseus. Fé humilde. Fé sincera. A fé, o coração, a vida que aqueles discípulos precisavam aprender – a vida que nós precisamos aprender.

Quantos paradigmas existiam na mentalidade religiosa daquele povo, mesmo daqueles discípulos. Verdades que lhes foram ensinadas no decorrer de anos e anos. E que criaram raízes. E que não eram questionadas. E Jesus vem acabar com tudo isso. Ele vem questionar. Ele vem mostrar que estava errado. Ele vem reconstruir e revelar o verdadeiro sentido de todas as coisas. É o que Ele quer fazer conosco. Quebrar nossos “pré-conceitos”. Questionar nossos paradigmas. Nos levar a refletir acerca de nossas próprias vidas, antes de nos acharmos superiores a quem quer que seja. Nos mostrar que o que causa a Sua admiração é tão diferente do que causa a nossa. E que é com as coisas que despertam a SUA ADMIRAÇÃO que nós devemos nos preocupar. Seus critérios. Seus padrões. E não os nossos. Não os da religião. E que o Seu jeito de avaliar tem a ver com simplicidade, humildade, compaixão, fé sincera, confiança, entrega. A partir destas coisas vem a verdadeira religião.


Que Ele nos ensine. Amém.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 14: Autoanálise



“Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão” (Lucas 6.42)

Poxa, fiquei muito feliz hoje, após fazer minha leitura bíblica e a reflexão dessa noite, por descobrir que o vídeo da Cidade Viva Pb estava falando exatamente sobre o mesmo assunto: a necessidade da autoanálise. Glórias a Deus!

O trecho bíblico sobre o qual eu gostaria de refletir hoje está em Lucas 6.39-49. É interessante que eu pensei, quando terminou o tópico “O juízo temerário é proibido”, de Lucas 6.37-38, que havia terminada a exposição de Jesus a respeito dos padrões dos fariseus e escribas, e a Sua oposição a eles, porque no versículo 39 Jesus começa a contar uma parábola, sobre o cego que guia outro cego. Porém, ao começar a ler, vi que Jesus continua falando sobre a mesma coisa: agora por meio de parábolas (do guia cego, da árvore e seus frutos e dos dois fundamentos), Jesus continua falando sobre os erros cometidos pelos fariseus e escribas, e tentando ensinar Seus discípulos a não os cometerem também. E o principal pecado que Jesus combate aqui é a HIPOCRISIA: um cego que, achando-se superior aos outros, guia outros cegos; uma árvore que não dá frutos; um homem que ouve os ensinos de Cristo mas não os pratica – e, seja o cego, a árvore sem frutos ou o conhecedor que não pratica, sentem-se no direito ou na posição de criticar os outros. E Jesus nos mostra que nosso caminho deve ser muito diferente: nosso esforço deve ser, primeiro, para criticar A NÓS MESMOS.

O texto começa falando sobre um homem que, mesmo tendo uma trave em seus olhos, está preocupado em tirar o argueiro do olho do outro. A versão King James coloca assim: “Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão e não percebes o tronco que está no teu próprio olho?” (v.41). Que diferença existe entre um CISCO e um TRONCO! Um grão de POEIRA e o TRONCO DE UMA ÁRVORE! Como é possível que alguém possa enxergar um cisco mas não enxergar um tronco? Não foi à toa que Jesus usou essa comparação. Ele queria falar de alguém que estava tão focado em olhar pra vida alheia, procurando os defeitos dos outros com tanto afinco, que foi capaz de enxergar o menor desvio do irmão; mas, tendo perdido tão completamente o hábito ou a capacidade de olhar e analisar sua própria vida, era capaz de ter um tronco inteiro em seus olhos sem percebê-lo. E esses eram os fariseus e escribas. Eles eram os guias cegos e os homens com o tronco nos olhos. Tão dedicados a julgar o cumprimento da lei pelos outros, que tornaram-se insensíveis ao pecado em suas próprias vidas, incapazes de se autoanalisar. E Jesus os chama de HIPÓCRITAS! Homens tão cheios de pecados, muito maiores do que os pecados do irmão, mas ainda assim incapazes de se autoavaliar e autocondenar, mas tão apressados em condenar o mínimo pecado do outro. E quantas vezes NÓS não temos sido assim? Como o Sérgio Queiroz diz no vídeo: tão apressados em julgar o outro e tão lentos em julgar a nós mesmos. Achamos inaceitável o pecado do nosso irmão, mas aceitamos com tanta facilidade nossos próprios pecados. Identificamos com tanta facilidade a área em que o outro está fraco e caindo, mas temos tanta dificuldade em identificar a área em que NÓS estamos fracos e caindo. E a ordem de Jesus é: SE AUTOANALISE! OLHE PARA SUA VIDA PRIMEIRO! JULGUE A SI MESMO ANTES DE JULGAR O OUTRO! E isso coloca um peso, uma responsabilidade enorme no fato de julgarmos alguém. Porque o que Jesus está dizendo é: antes de julgar o erro do seu irmão, CORRIJA O SEU! TIRE A TRAVE DO SEU PRÓPRIO OLHO ANTES DE QUERER TIRAR O CISCO DO OLHO DO SEU IRMÃO! “Retira, antes de tudo, a trave do teu olho e, só assim, verás com nitidez para tirar o cisco que está no olho de teu irmão” (v. 42b – BKJ). É muito interessante perceber que Jesus não estava condenando a tentativa do homem de tirar o cisco do olho do irmão. Não! Tanto que o texto termina dizendo “verás com nitidez para tirar o cisco que está no olho do teu irmão”. O cisco é para ser tirado. Esse esforço não é errado. O que Jesus está condenando aqui é o fato de que aquele que queria tirar o cisco do olho do outro não tinha cuidado NEM MESMO DO SEU PRÓPRIO OLHO! É a HIPOCRISIA de julgar o outro, enquanto você tem problemas muito maiores em sua própria vida que você ainda não se dedicou a resolver. E isso é muito sério! Jesus chama essas pessoas de HIPÓCRITAS – como os fariseus e escribas!

E o texto continua nos explicando COMO FAZER MINHA AUTOANÁLISE. Como eu devo me avaliar? E a resposta está nos versos 43 e 44a: “Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto”. E depois: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (v.45). E finalmente: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica [...] é semelhante a um homem que, edificando uma casa [...] lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente [...] não a pôde abalar, por ter sido bem construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou...” (v.46-49)

Como nós devemos nos autoavaliar? Observando nossos FRUTOS! Não a beleza das folhas ou das flores. Não quão belos nós parecemos. Não o que aparentamos aos outros. Mas nossos FRUTOS! Qual tem sido o RESULTADO de nossas vidas? Qual tem sido o tesouro que temos tirado de nosso baú e oferecido às pessoas em nossa vida? O que tem saído de nossas bocas? Porque os frutos revelam a identidade da árvore; os tesouros que oferecemos revelam a condição do nosso baú; as palavras que saem de nossas bocas revelam a condição do nosso coração! É pelo que FAZEMOS que devemos nos autoanalisar – NÃO PELO QUE FALAMOS! De nada adianta chamar Jesus de Senhor, fazer lindas orações, como faziam os fariseus e os escribas, ter as palavras certas, se não FAZEMOS aquilo que falamos, se não VIVEMOS! De nada adianta OUVIR as palavras de Jesus, CONHECER Seus ensinos, ter a maior gama possível de conhecimento e estudos, se não PRATICAMOS tudo isso! De nada vale! Seremos considerados como o homem que construiu uma casa na areia, sem construir o alicerce, enganando-se a si mesmo, com uma linda casa, mas que será destruída pela enchente! Mas Jesus nos chama para o AUTOCONHECIMENTO, para uma vida consciente de que precisa de um alicerce firme, que resiste à enchente  - o JULGAMENTO DE DEUS – e esse alicerce é a PRÁTICA da Palavra, e não apenas o seu conhecimento.

Isso é tão sério! Que responsabilidade! Porque nós podemos enganar aos homens com nossas boas aparências e nossas palavras certinhas. Homens se satisfazem com aparências. Aliás, normalmente é somente com isso que eles estão preocupados. Nosso exterior. Mas, como Deus diz a Samuel em 1 Samuel 16.7: “Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque eu o rejeitei; porque o SENHOR não vê como o homem vê. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração”. Nós nos contentamos com a aparência. Nos deixamos convencer por ela. Olhamos para um pregador cheio de conhecimento da Palavra e com uma pregação maravilhosa e isso é o suficiente para o considerarmos um grande homem de Deus. Olhamos para alguém que realiza muitas atividades religiosas e exerce muitos cargos de confiança na igreja, e rapidamente nos convencemos do quanto aquela pessoa é espiritual. Mas Deus não julga assim, tão superficialmente. Ele olha além. Ele olha nosso coração – e o que provém dele para as nossas vidas. Não só as nossas vidas “eclesiásticas”, mas nossas 24 horas de vida. 7 dias na semana. Todos os dias do ano. A cada minuto. Que frutos temos dado em TODA A NOSSA VIDA? Que tesouros temos tirado de nosso baú? Quanto daquilo que ouvimos e falamos tem se tornado prática em nossas vidas? É muito mais profundo. É muito mais sério. É uma análise vital para qualquer seguidor do Cristo.


Que o Senhor nos dê o discernimento e a sabedoria espirituais para realizarmos nossa autoanálise. Que o Espírito Santo nos ajude a ser mais rígidos com nosso próprio pecado, a trata-lo como tratamos o pecado alheio, com o mesmo nível de julgamento. Que sejamos lentos em julgar aos outros e rápidos em julgar a nós mesmos. Porque, conforme fala o texto de ontem, de Lucas 6.38: “porque a medida que usares para medir o teu próximo, essa mesma será usada para vos medir” (BKJ). Deus nos ajude a enxergar o que há em nossos olhos – sejam troncos ou ciscos. Ele nos ajude a ver. A reconhecer que frutos temos dado em nossas vidas; que tesouros existem em nossos baús; o que está guardado em nossos corações. E, tendo identificado o fruto mau, o tesouro mau e as palavras más, Ele gere em nos verdadeiro arrependimento e nos conduza à transformação. Que Ele nos ensine a ser mais misericordiosos com os outros, e mais realistas em relação a nós mesmos. Menos orgulhosos. Ele nos quebrante. Ele nos humilhe. Para que Ele mesmo possa crescer em nós. Para que nossa vida seja aroma agradável às Suas narinas – e testemunho fiel de Sua Santidade a este mundo. Ele nos ajude. Amém.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 13: Na contramão do mundo



“Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes...” (Lucas 6.20)

Que fantástico olhar para a Bíblia e ver quantas coisas novas ela sempre tem para nos ensinar. O texto de Lucas 6.20-38 é como o de Lucas 5.17 a 6.11: apesar de dividido em vários tópicos, é contínuo e está falando a mesma coisa e procurando nos passar o mesmo ensinamento: os padrões de Deus são opostos aos padrões do mundo. E que oposições fortes Jesus faz aos padrões do mundo, neste texto, em ensino aos Seus discípulos. Vejamos:

- O mundo nos ensina a desejar/lutar por/ viver para ganhar dinheiro – estabilidade e conforto é o objetivo maior da vida de quase todas as pessoas do século XXI, acumular riquezas para “viver bem”. Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (v.20b) e “Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.”. Porque quando nos falta, reconhecemos que precisamos do socorro de Deus – e Ele nos oferece o Seu reino; mas quando nos sobra, nos tornamos independentes e autossuficientes, e não há mais nada que Deus possa nos oferecer, pois sequer precisamos dEle – nosso tesouro e consolação a própria terra pode dar.

- O mundo nos ensina a sempre ir em busca de saciar todos os nossos desejos, não passar privações, não nos negar, estar sempre saciados, independente do preço a pagar. Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos” (v. 21) e “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome” (v.25). Se nossa vida neste mundo é em busca de nossa própria saciedade, as coisas deste mundo nos saciarão – mas, no porvir, teremos fome, pois já fomos saciados. Mas, quando este mundo não pode nos suprir as necessidades, então olhamos para o porvir e ansiamos pela recompensa que um dia poderá chegar – e a ela receberemos.

- O mundo nos ensina a buscar felicidade – Ah! A felicidade! A “deusa” deste mundo moderno. Ela é o centro, ela é o foco, ela é a justificativa para todas as coisas, sua busca é incontestável, sempre justificada, sempre correta, sempre perfeita. Ser feliz é o lema! E, certamente, “o que Deus quer é que as pessoas sejam felizes”, não é? Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir” (v.21b) e “Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar” (v.25b). Porque este mundo vai passar e, com ele, todas as suas “alegrias”. Porque este corpo vai morrer e todos os seus prazeres serão exterminados junto com ele. Acabarão. E aquele cuja felicidade foi construída neste alicerce de areia, chamado “Terra” e que, de tão satisfeitos e “felizes” que estavam com o desfrute dos manjares desta terra, esqueceram que tudo isso pereceria e não olharam além. Porém, aqueles que choram nesta vida, estes acabam por descobrir – ou, pelo menos, desejar – que haja mais além dos sofrimentos presentes, e, por esperarem e desejarem, eles receberão.

- O mundo nos ensina a buscar a aceitação, o lugar de destaque, o reconhecimento, as luzes, o status, o poder, o domínio, o topo – e que nenhum lugar que não seja o primeiro é suficiente. Mas Jesus nos diz: “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas” (v.22,23) e “Ai de vós, quando nos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas” (v.26). Porque quando o desejo do nosso coração é o reconhecimento e o louvor dos homens, facilmente traímos a Deus. Porque o mundo O odeia e, portanto, raramente louvará os Seus caminhos. Mas, quando entendemos que o verdadeiro louvor e o verdadeiro reconhecimento não provém desta vida, que o que recebemos aqui irá passar, então toda a perseguição, todas as injúrias, todas as injustiças, toda a exclusão que vivemos por seguir as verdades do Cristo tornam-se ínfimas, e promessas nos esperam no futuro que há de vir.

- O mundo nos ensina a nos amar primeiro, acima de tudo, e que aquele que não me ama não merece o meu amor; que meu amor é para ser oferecido àquele que faz por merecer e que aquele que quer o meu mal, também não deve contar com o meu bem; que besta é quem faz o bem para quem só paga com o mal. Mas Jesus diz: “amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam” (v.27-28).

- O mundo nos ensina que a “legítima defesa” é sempre legítima, e que não devo considerar mau ou errado qualquer mal que é feito em resposta a um mal recebido, pois “aquilo que alguém planta, deve estar preparado para colher”, portanto, “se alguém me fez mal, deve estar preparado para o mal também!”. Mas Jesus diz: “Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica; dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda” (v.29,30).

- O mundo nos ensina que “cada um recebe aquilo que dá” e “a cada um deve ser dado a paga conforme suas próprias ações”; que primeiro eu preciso me preocupar comigo, e só depois com o outro; e que, se alguma coisa faz mal, que seja ao outro e não a mim – “eu primeiro!”. Mas Jesus diz: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (v.31) e “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga” (v.35a).

- O mundo nos ensina a apontar o dedo para quem pensa diferente de nós, e julgar e condenar, e nos achar melhores do que os outros, e donos da verdade; e que, se alguém cometeu um erro, deve ser exposto e cobrado. Mas Jesus diz: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados” (v.37).

E que palavras pesadas estas são! Para nós, discípulos do Cristo! Que palavras duras! Para muitos de nós, tão acostumados com as filosofias e os ensinos deste mundo, ler todas essas ordens de Jesus, todos esses mandamentos, todos esses padrões tão contraditórios a tudo o que conhecemos como “JUSTIÇA”, é quase revoltante! “Não é justo!”, muitos de nós podemos falar! E, de fato, segundo a justiça deste mundo – egoísta, individualista, hedonista – não é justo! Não é justo que eu sofra por causa do mal que o outro fez! Não é justo que eu leve a carga sozinho, enquanto o outro se aproveita de mim! Não é justo que o outro faça suas besteiras e não seja exposto e condenado! Não é justo que alguém me faça mal e saia impune! Não é justo que eu dê a alguém e essa pessoa não me pague! Não é justo que eu ame e não seja amado em retorno! Não é justo simplesmente deixar pra lá o mal que alguém me fez! Não é justo! Não é justo! Não é justo!

Mas a justiça DE DEUS não é a nossa justiça. A nossa é egoísta, a dEle é Altruísta. E se há Alguém que poderia agir pensando em si mesmo acima dos outros, esse é Deus, totalmente superior a todos nós, seres humanos pecadores. Mas Ele não faz isso. Jesus diz para amarmos até os nossos inimigos porque: “será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.” (v.35b). Ele, O ALTÍSSIMO, resolve exercer justiça em benignidade e misericórdia, e nos chama a viver o SEU PADRÃO também: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai” (v.36).

Se nos tornamos FILHOS DELE, SEGUIDORES DO CRISTO, os ensinos do mundo não são mais para nós. Não é mais o nosso padrão. Não é mais no que devemos acreditar. Não é mais o que devemos buscar. Nosso caminho é o oposto. É a contramão. É o SIM à chamada de Paulo em Romanos 12.2a: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Renovação da mente. Não mais as filosofias e teorias deste mundo, da sociedade. Não dá mais pra ser igual a todo mundo. Renovação da mente. Contramão. Esse é o nosso rumo, a nossa nova direção. E isso dói! Isso vai doer muito, muitas vezes. Pobre, faminto, chorando, injustiçado, perseguido, recebendo tapas, dando sem retorno... não é fácil. Não é um chamado fácil. Mas se há alguém que sabe o que nos levará à VERDADEIRA FELICIDADE, esse é o CRIADOR e CONSUMADOR de todas as coisas. Ele sim sabe o que é ser BEM-AVENTURADO. E o que trará apenas “AI” no final. Ele sabe. E, se Ele nos diz que o caminho das Bem-Aventuranças é a contramão, é nela que devemos andar: “Para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12.2b).


Vamos juntos, na contramão – de mãos dadas, ajudando-nos uns aos outros a não desfalecer. O galardão que nos espera, ao fim deste caminho, certamente será muito melhor do que TUDO o que este mundo pode nos oferecer. Vai vale à pena!

Reflexões sobre casamento...


Hoje tive a maravilhosa oportunidade de sentar à mesa com minha vó e ouvi-la contando histórias e histórias dela com meu avô e dos meus pais, e as tantas coisas que eles passaram para que estejamos hoje vivendo as coisas que estamos. E fiquei aqui pensando nos casamentos de antigamente e nos casamentos de hoje, e como antes os casamentos duravam tanto tempo e hoje se desfazem tão rapidamente. E refletindo sobre essa nossa geração que foi (é) tão protegida dos conflitos, tão poupada, tão mimada, tão acostumada a ter tudo com facilidade e a não precisar pagar o preço e sofrer pra conseguir seus objetivos... e na gerações passadas, que conseguiram tudo com tanta luta, batalhas e verdadeiras histórias de superação.

Como hoje, nessa teoria do "o que importa é ser feliz", todos dizem aos jovens que só devem casar quando a vida estiver totalmente estabilizada, quando não houver risco nenhum, quando já houver uma linda casa com 6 cômodos preparada para recebe-los, quando ambos já tiverem empregos estáveis e que paguem muito bem, enfim, quando todas as possibilidades de dificuldades houverem sido sanadas, os jovens se casam nessas condições mas, por nunca terem precisado construir nada juntos, sofrer pagando o preço juntos, dar o suor juntos, conquistar o sofrido pão de cada dia juntos, não aprenderam a ser uma equipe e, ao segundo ou terceiro sinal de dificuldade, pulam fora do barco.

Aí escuto histórias de casais que enfrentaram tantas dificuldades para construir sua primeira casinha, de madeira, num terreno afastado de tudo e sem nem ter vizinhos; que precisaram correr atrás de empregos, que primeiro foram temporários e depois foram estabilizando; que deram duro para criar os seus filhos, levando-os por longos períodos na garupa de uma bicicleta pra poderem estudar, costurando algumas folhas para que eles tivessem cadernos, reformando as roupas para que elas durassem mais um pouco, e precisando se privar de tantas coisas para que eles tivessem oportunidades... e ainda assim os filhos aprenderam a valorizar o pouco, a não reclamar, a correr atrás; e os pais aprenderam a enfrentar os temporais e descobriram esse jeito de relacionar-se por fidelidade e companheirismo. Descobriram-se uma equipe. E continuam até hoje.

E eu fico aqui, pensando e pensando, tentando entender essa época em que minha própria história está sendo construída, e como construi-la, no desejo de que ela possa se parecer mais com as que escuto meus pais e meus avós contarem do que com as que vejo ao meu redor. E tentando assimilar tantas lições quantas forem possíveis, pois um dia meus filhos estarão enfrentando seus próprios tempos, e como eu temo por como estes tempos hão de ser. Mas tenho esperanças. E espero poder estar preparada para vive-los e ajuda-los a viver. Que Deus me ajude. Que Deus nos ajude. 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 12: A visão dos fariseus e a visão de Jesus


“Ora, aconteceu que, num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da Lei, vindos de todas as aldeias da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém” (Lucas 5.17)

E aqui começa uma série de textos que mostram o conflito entre Jesus e os fariseus e mestres da Lei ou escribas. De Lucas 5.17 a 6.11, cada narração vem trazendo um confronto entre os feitos de Jesus e as reações dos religiosos judeus da época. E isso me chamou muita atenção, pois a tendência é nós lermos os textos separadamente, como se não houvesse ligação entre eles, como se fossem apenas narrações de histórias. Porém, parando para analisar mais um pouco, existe um padrão repetitivo entre eles, e talvez esse seja exatamente o propósito: reforçar uma ideia, para deixar bem claro aquilo que se gostaria de revelar. Vejamos que padrão é esse.

1) O padrão de Jesus: nesse trecho das Escrituras, de Lucas 5.17 a 6.11, Jesus faz 6 coisas – cura um paralítico, perdoando-lhe os pecados; chama para ser Seu discípulo um publicano, considerado pecador e inimigo dos judeus por cobrar-lhes impostos para dar a César; vai comer na casa desse publicano, ao lado de um monte de pecadores; defende seus discípulos, que não obedecem a lei do jejum, como os de João Batista; colhe espigas e as come num sábado, quando nenhum trabalho era permitido pela lei judaica; e cura um homem que tinha a mão ressequida, também num sábado.

2) O padrão dos fariseus: nesse mesmo trecho, vemos as 5 reações dos fariseus, mestres da Lei e escribas, as quais eu gostaria de destacar com os versículos referentes:

“E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Lc. 5.21)

“Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” (Lc. 5.30)

“Em seguida, eles [os fariseus e seus escribas] lhes observaram: “Os discípulos de João jejuam e oram com grande frequência, assim como os discípulos dos fariseus; no entanto, os teus vivem comendo e bebendo” (Lc. 5.33)

“E alguns dos fariseus lhe disseram: Por que fazeis o que não é lícito aos sábados?” (Lc. 6.2)

“Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar” (Lc. 6.7)

E eu queria começar destacando os comportamentos dos fariseus e escribas. O que eles têm em comum? É incrível! Eles só estavam preocupados com a LEI! Era só isso o que eles conseguiam enxergar: regras, normas, leis que precisavam ser mantidas, porque era assim que deveria ser e essa era a missão deles – os “guardiões da lei”, como costumavam ser chamados. Os “construtores dos muros” que deveriam proteger as pessoas do descumprimento da LEI. E eu fiquei tão espantada com o nível de cegueira dessas pessoas! Não sei se temos como dizer se eles agiam assim por maldade ou se era simplesmente a cegueira do pecado. No fim, acho que acaba sendo a mesma coisa. Porém, não acho que era proposital, mas simplesmente cegueira. Estavam cegos. Fixaram tanto os seus olhos nos DEVERES, nas REGRAS  a serem cumpridas na LEI, que tornaram-se totalmente incapazes de olhar além, de enxergar A VIDA e o SER HUMANO que existiam por trás da negra nuvem de normas que eles se dedicavam a defender. E eu realmente acho que era isso o que Deus queria nos mostrar com esses 5 ou 6 sucessivos confrontos entre Jesus e esses RELIGIOSOS.

Eu não acredito que devamos olhar para fariseus e escribas como “as pessoas más” daquele tempo. Não. Eles eram os líderes da religião judaica – a religião do Povo escolhido por Deus – naquele tempo. Eram religiosos. E acho que o que eles representam é exatamente isso: aqueles que são RELIGIOSOS, mas tão religiosos que acabam tornando-se cegos para a vida que acontece ao seu redor. E, quando olho para nós, mesmo os mais dedicados entre nós, como eu vejo a facilidade com que podemos nos encaixar nesse modelo dos fariseus. Quantas vezes temos reproduzido, mesmo sem perceber, a visão dos fariseus e escribas. Olhamos para “o cisco no olho” do irmão, enquanto esquecemos a trave em nossos olhos. Estamos tão preocupados procurando erros teológicos, a falha na igreja fulana de tal, a queda do “irmão”, a oportunidade para apontar o dedo e expor o erro alheio, nos achamos tão “guardiões da verdade”, que nos tornamos frios. Ferimos os outros, com a desculpa de “defender a verdade”, e isso nem nos incomoda mais. Nos achamos tão certos em tudo o que defendemos, que todo aquele que discordar de nós acaba merecendo ser “desmascarado” e julgado (e condenado!).

Eu me considero uma seguidora da fé reformada, a fé defendida nos primórdios da Reforma Protestante, a qual acredito ser a fé bíblica. E quanto eu tenho visto esse pecado do farisaísmo, do legalismo, do julgamento frio e sem amor, das discussões sem valor, das briguinhas sem sentido, nesse meio. E não apenas nos outros. Eu também já fui assim. Me sentindo tão dona da verdade, e apontando o dedo ou virando o nariz pra quem fosse diferente. E tenho visto isso se reproduzindo tantas vezes. Valorizamos tanto a “teologia” que esquecemos que existe SERES HUMANOS por trás da teologia. Nos preocupamos mais com a quantidade de água usada para o batismo do que com o ser humano declarando seu compromisso com o Cristo. Nos preocupamos mais com as palavras que devem ser usadas na hora de fazer um apelo (ou com o fato de estar certo ou não fazer um apelo) do que com os seres humanos que levantam-se de seus lugares, desejando conhecer ou seguir o Cristo. Nos preocupamos mais com o nível de “coerência teológica” de uma música que está sendo cantada do que com a aproximação que aquela música pode gerar entre um ser humano e o Cristo. Nos preocupamos tanto em corrigir os outros, que deixamos o AMOR morrer em nós.

E, quando olhamos para Jesus, o que Ele estava fazendo em todas essas situações? Ele estava olhando para PESSOAS. Estava revelando misericórdia, compaixão, graça, AMOR por um paralítico e seu grupo de amigos que foram capazes de levanta-lo até um telhado, para conseguir coloca-lo diante da sua presença; por um publicano, pecador, que necessitava de uma chance para mudar, e de seus amigos que aceitaram o convite para também conhece-Lo; por Seus discípulos, que mereciam alegrar-se e celebrar a Sua presença e que mereciam comer, ainda que fosse em um sábado; e por um homem que tinha a mão defeituosa. Seres humanos necessitados do Seu amor. E era isso o que Ele enxergava. Essa era a visão de Jesus. Pessoas e suas histórias de vida. Era isso o que Ele olhava primeiro. Porque “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes”. Misericórdia. Que diferença. De uma visão tão pesada e penosa como a dos fariseus, tão dura, tão cinzenta, nós olhamos para Jesus e vemos um quadro totalmente diferente – tão suave, tão leve, tão bonito, tão límpido. E é uma vida assim que Ele nos comprou para viver. Mas isso só é possível quando nosso caminho também for de graça, misericórdia, compaixão e AMOR, acima de todas as outras coisas. E é isso o que nós precisamos lembrar.

Jesus não condenou o zelo e cuidado que os fariseus tinham com a Lei, porque a Lei havia sido dada por Deus e Deus não se arrepende ou volta atrás. O que Jesus condenava naqueles religiosos é que eles fixaram de tal forma seus olhos na letra da Lei que perderam a capacidade de compreender seu real significado. Perderam a essência. Perderam-se. É óbvio que a busca pelo conhecimento e entendimento teológico jamais será uma coisa condenável. E a defesa da verdade bíblica também não. Eu amo teologia e amo conversar sobre assuntos teológicos. Aliás, costumam ser meus papos preferidos. E isso não é errado. Paulo cita, em 1 Coríntios 12, diversos dons que o Espírito Santo dá aos salvos, dentre os quais estão a palavra de sabedoria e a palavra do conhecimento (v.8), e o ofício de mestre (v.28), que são dons e chamados para o estudo e ensino das Escrituras. Deus nos capacita e chama para isso. Contudo, após terminar sua exposição acerca da diversidade de dons, Paulo faz questão de fechar o assunto com um dos meus textos favoritos na Bíblia: 1 Coríntios 13 – “O amor é o dom supremo”. O último verso do capítulo 12 diz: “Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons” (v.31). E o primeiro verso do capítulo 13 diz: “E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente”. Então, Paulo passa a falar deste que é O MELHOR DOM, sem o qual TODOS OS DEMAIS perdem o valor – o AMOR. Sem ele, “serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (v.1), “nada serei” (v.2), “nada disso me aproveitará” (v.3). Foi o que aconteceu com os escribas e os fariseus. Tinham a Lei, mas não tinham amor. E, sem amor, de nada adiantará nossa vasta teologia.


Que Deus nos livre deste descaminho! Que o Espírito Santo nos convença quando nossa visão estiver como a dos fariseus e escribas, quando formos mais religiosos do que CRISTÃOS – seguidores do Cristo - , quando nosso zelo pela “Lei” prejudicar nossa capacidade de enxergar AS PESSOAS e de amá-las. Deus nos livre disso! Que Ele nos ensine a ver como Jesus vê. Pessoas, primeiro. Vidas. Seres humanos que Ele criou segundo Sua imagem e semelhança. E que nada seja maior do que o AMOR – a Deus e a elas – em todas as nossas motivações. Que possamos ter a visão de Jesus. Misericórdia, graça, compaixão e AMOR. E que, assim, o Nome do nosso Salvador possa ser glorificado nesta terra. Por meio de nós. Amém.


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 11: Necessária solidão



“Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava” (Lucas 5.16)

Eis uma coisa que eu tenho dificuldade. Retirar-me. Parar. Como falei no post passado, eu realmente tenho dificuldade de parar, desligar tudo e estar só. Estou sempre envolvida com tantas coisas, tantos projetos, tantos planos e sonhos e atividades, sempre inventando algo novo pra fazer, sempre me comprometendo com mais coisas do que dou conta. E essa sou eu. E aí, leio este versículo. Jesus, o Messias, com a SUA missão, retirando-se para a solidão.

O interessante desse trecho é que, imediatamente antes dele, temos a descrição de como era a vida de Jesus: “Porém o que se dizia a seu respeito cada vez mais se divulgava, e grandes multidões afluíam para o ouvirem e serem curadas de suas enfermidades” (v.15). Imagino como era: multidões vindas de todas as partes, todo tempo O cercando para que Ele também as curasse, ou para ouvir o que Ele tinha a falar, ou para conseguir pão ou algum outro benefício. Mas o fato é que, tendo ouvido falar de tudo o que Jesus andava fazendo, multidões estavam todo tempo procurando pelo Mestre. E cuidar daquelas pessoas que estavam perdidas como ovelhas sem pastor fazia parte de Sua missão. Uma missão tão grande e tão pesada a cumprir. E Ele havia sido enviado “para evangelizar os pobres [...] proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc. 4.18-19). Quanto trabalho havia para ser feito, quantas coisas a realizar, quanta demanda, interminável. Mas, no meio de todo aquele alvoroço e de toda aquela multidão esperando para ser atendida pelo Mestre, Ele simplesmente “retirava-se para lugares solitários e orava”. Ah, como precisamos aprender com Ele!

Como mencionei, rapidamente, no primeiro post desse tempo de Quaresma, no primeiro dia de quaresma, li alguns textos publicados por amigos a respeito do sentido desse período e de como temos, enquanto evangélicos, negligenciado seu valor – tempo de contrição, de reservar-se, de solidão, de silêncio e cinzas, tempo de reflexão no significado da Páscoa, o sacrifício de Cristo para libertação de Seu povo, que está chegando. E, depois de lê-los, minha linda Priscila Teixeira publicou um vídeo convidando para devocionais diárias, por meio de vídeos, para estudar o livro de Lucas durante esse período da Quaresma. E Deus falou comigo. Era exatamente do que eu precisava. Poucos dias antes disso, eu conversava com uma amiga sobre a dificuldade que eu tenho de reservar um tempo diariamente para minha vida devocional – para meditar na Palavra, para orar, para estar com Deus. Essa, com certeza, é minha maior dificuldade em minha vida espiritual. Eu estou sempre “ligada”, e “desligar” das coisas desse mundo, da sua correria, para saber aproveitar o valor da Palavra e da oração eram coisas tão difíceis. E isso sempre me doeu tanto, sempre me frustrou tanto, porque eu sabia que não deveria ser assim e que essa prática espiritual, do tempo a sós com Deus, era necessária para minha saúde espiritual. Mas, mesmo assim, eu não conseguia. Cansaço, preguiça, dificuldade de concentração, um amigo puxando assunto no bate-papo até de madrugada, uma coisa pra resolver para o outro dia... e sempre ficava pra “amanhã”. Então, esse convite para as devocionais de Quaresma eram exatamente o que eu precisava. E resolvi aceitar.

Mas eu sabia que precisaria de estímulos, de mais do que “vontade” para ser transformada e passar a VIVER meu tempo devocional do jeito certo. E foi então que entendi que precisaria de duas coisas mais nesse período especial de consagração: jejuar e escrever. Eu nem sei a última vez que eu havia jejuado. Não tenho nem ideia. Mas, foram pouquíssimas vezes em que jejuei. Até pedi ajuda a um pastor amigo meu para tentar entender como devemos viver essa disciplina espiritual. Ele não me respondeu, mas tô aqui tentando viver. E, no início, meu desejo de jejuar era realmente por reconhecer que eu precisava (e preciso) de ajuda para me manter fiel nesse propósito, para me consagrar de forma mais intensa e para tornar esse tempo devocional uma prioridade em minha vida. Mas eu não tinha ideia quantas outras coisas eu enxergaria como benefício do meu tempo de jejum. Acabei descobrindo que um dos grandes problemas, ou uma das grandes desculpas, para eu não ter meu tempo devocional (no período da noite, como gosto de fazer), era chegar do trabalho “morta de fome e de cansaço”, ir direto atrás da janta, que virava uma desculpa (juntamente com o cansaço) para sentar na frente da TV, começar a assistir um filme que se prolongava até altas horas e, finalmente, quando eu chegava no quarto, não havia energia para mais nada. As energias que haviam sobrado, depois de um dia de trabalho, haviam sido gastas comendo e vendo TV e, depois, só dormir. Então, além de jejuar (nesse período da noite), resolvi também dar um tempo da TV (sem falar em desligar as redes sociais – outro enorme problema – é claro!). E como isso tem dado certo! Nossa! Como tem ficado cada vez mais claro pra mim quanto essas coisas eram impedimentos pra eu investir em minha vida com Deus, pois eram prioridades no lugar do meu tempo devocional.

E, além disso, escrever. Ah! Eu acho que voltar a escrever foi uma das melhores coisas que me aconteceu ultimamente. Todo esse tempo de Quaresma, com suas muitas experiências devocionais, na verdade. Mas é um tempo que está MUITO atrelado ao meu retorno ao MV. Fiz um compromisso com Deus, para esse tempo de Quaresma, de, todos os dias, escrever alguma reflexão a respeito do meu tempo de leitura da Palavra. E que diferença isso tem feito! Porque é uma cobrança de mim para mim mesma. Preciso escrever e, se eu não escrever, eu não tenho como fingir que escrevi. Se eu pular um dia, vai ficar faltando um texto, não vai dar pra esconder. Se eu não ler a Bíblia, só eu vou saber. Mas, se eu não escrever, todo mundo que acompanha o blog vai saber! Aí, nem que seja pelo meu orgulho, eu me cobro. E como essa prática tem me abençoado! Eu não lembro há quanto tempo eu não tenho recebido iluminação da Palavra e sido edificada por ela da forma que tem sido nesses 11 dias! Há quanto tempo eu não conseguia ouvir os ensinos de Deus em Sua Palavra. Como se ela estivesse encoberta, calada. Eu tentava e tentava, mas não fluía. E agora, aqui estou eu, aprendendo tantas coisas nas Sagradas Escrituras que nem consigo mais acompanhar os vídeos-devocionais, porque eles têm pulado vários trechos do evangelho de Lucas e eu quero poder analisar cada trecho e ver o que Deus quer me ensinar ou lembrar em cada pedacinho. E tô começando a achar que, do jeito que as coisas andam, 40 dias não serão suficientes para estudar todo o livro de Lucas – ou eu vou precisar começar a escolher as ideias para registrar! rs.


Que dias maravilhosos têm sido! Que alegria em meu coração por ver Deus revivendo esse espaço, meu querido Mulheres Virtuosas, meu cantinho onde Deus já me permitiu registrar tantas coisas que Ele já fez em minha vida, e que eu achava que nunca mais voltaria a ter vida novamente. E aqui estamos. Há tanto tempo eu não tinha inspiração – ou qualquer outra coisa – para sentar e escrever. E que alegria meu coração sente, todas as noites, quando pego meu computador para registrar esses pensamentos e aprendizados que o Senhor tem colocado aqui. Que paz e consolo Ele tem me trazido por meio de tudo isso. Num período de minha vida em que eu já estava quase acostumada com nuvens e lutas que insistiam em permanecer e nublar minha estrada, Deus, finalmente, tem me dado a Sua paz. E é aqui, na solidão do meu quarto, apenas eu e Ele, no silêncio, na pausa, na calmaria que tudo isso tem acontecido. Solidão necessária. Como eu precisava dela! Como eu precisava reconhecer que preciso dela! Meus dias têm sido diferentes. Minha mente, meu coração, meu espírito têm sentido isso. Quantas vezes tenho ouvido pregadores falando sobre a importância desse tempo a sós com Deus, mas eu achava que dava pra viver sem ele. E, quem sabe, todas as nuvens e lutas que Deus mandou nestes últimos tempos, não tinham como propósito me encaminhar até aqui. Nesse exato ponto da história. Me fazer perceber a insondável diferença que faz ter esse tempo precioso de estar só com Ele em cada dia da minha vida. E eu quero continuar aprendendo. Sei que ainda tô longe demais do alvo. Apenas começando a engatinhar. E já está sendo tão bom. Mas quero mais. Quero ser como Jesus. E, como Ele, saber retirar-me das multidões, todos os dias, para meu lugar de solidão. Essa necessária solidão que me leva pra mais perto do meu Pai. E que ela possa existir nas vidas de cada um de vocês. E que sejamos cada dia mais parecidos com o nosso Mestre. Para glória de nosso Senhor e o bem de nossas almas. Que seja assim. Amém e amém.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 10: Quando Deus nos frustra



“Ao que replicou Simão: Mestre, tendo trabalhado durante a noite toda, não pegamos nada...” (Lucas 5.5)

Eu gostei muitíssimo do vídeo devocional do Dia 8, desse tempo de Quaresma da Cidade Viva Pb, sobre esse texto da experiência da “pesca maravilhosa” de Simão com Jesus. “Diante de Deus não há especialistas”. Eu me identifiquei tanto com ele. E me identifico muito com Simão nessa história. O Simão pescador experiente que havia se esforçado tanto para cumprir sua missão, sem êxito, e tudo o que Jesus faz a partir disso. Eu sou tão assim. Me acho tão esperta, sempre bolando os planos perfeitos para resolver todos os problemas e chegar em todas as soluções. Digo que é minha personalidade “Cebolinha”. Mas, repetidamente, tenho visto todos os meus “planos infalíveis” falindo. Tenho feito tudo “tão certinho”, tenho me preparado, tenho me esforçado, tenho seguido todos os passos... mas não tem dado certo. Tenho buscado me tornar uma mulher virtuosa, alguém que vá ser uma boa esposa e mãe, uma boa administradora do lar, uma boa auxiliadora, tenho estado nos ambientes certos, nas companhias de bons jovens cristãos, tentando aproveitar as oportunidades para conhecer rapazes do coração de Deus, mas continuo solteira. Tenho estado envolvida em tudo que é coisa que diz respeito ao chamado ministerial transcultural, participado de conferências, recebido convites para capacitação, lido coisas, ajudado em tudo que posso, procurado fechar os ciclos abertos para estar disponível para o “ide” de Deus, mas continuo aqui na minha Jerusalém. Tenho feito tudo que se deveria fazer para que desse certo. Mas os peixes desapareceram. Foi o que aconteceu com Pedro. A Nova Versão Internacional da Bíblia diz: “Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada”. Esse era Pedro. Essa sou eu. A frustração de ver seus maiores esforços sem nenhum resultado.

E aí, a história continua, como sabemos. Jesus havia falado para Pedro fazer o que ele tinha passado a noite toda tentando fazer. E Pedro pode ter pensado: não vai adiantar, Mestre! Eu já passei a noite inteira jogando essa rede aí e não veio nada! Fico imaginando quão cansado e quão frustrado Pedro estaria naquele momento, depois de uma noite inteira tentando pescar, sem resultado nenhum. E, no meio de seu cansaço e de sua frustração, depois de Jesus ficar segurando o seu barco por um tempão, para ficar conversando com a multidão que havia se aglomerado ali (v.3), Jesus diz pra Pedro e seus companheiros jogarem a rede novamente. E é quando Pedro fala a Ele sobre sua noite frustrante. Mas ele conclui: “Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes” (v.5b). Que coisa linda! Isso é fé. A fé que falávamos ontem. Provavelmente, Pedro nem entendia porque Jesus estava dando aquela ordem. Não fazia nenhum sentido. Talvez, ele nem acreditasse que aquilo daria certo. Mas, ele acreditava em Jesus. Ele confiava no Mestre. E, por causa disso, por causa dAquele que havia dado a ordem, ele obedeceria. Fé. E Pedro viveu o milagre da pesca maravilhosa.

E haveria tanta coisa pra falar a partir dessa história, além do que já foi falado. Contudo, é sobre os tempos de frustração que eu gostaria de falar hoje. Quando Deus nos frustra. E foi Deus quem frustrou a pesca de Pedro naquele dia. Pedro era pescador experiente, ele sabia como e onde deveria pescar. Ele provavelmente fez as coisas certas, como deveriam ser feitas para que a pesca desse certo. Foi Deus quem fez dar errado naquela noite. E sabemos que foi porque não cai uma folha de uma árvore sem o controle do Poderoso Deus, não é? Naquele dia, Deus escolheu frustrar os planos de Pedro. E a parte bonita disso é que, por mais mau que pudesse parecer um Deus escolhendo frustrar os planos de um filho Seu, havia um grande propósito por trás daquela frustração. Deus queria que Pedro vivenciasse aquele milagre. Jesus queria revelar-se a Pedro naquela noite. Mas, para isso, era necessário que os planos de Pedro tivessem dado errado. Foi necessário que Pedro estivesse cansado e frustrado naquele dia. Sem isso, não teria sido escrito que “à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros” (v.9). E esta pesca maravilhosa era apenas uma preparação para uma pesca ainda maior e melhor para a qual Jesus convidaria Simão, logo após: “Então Jesus disse a Simão: "Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”” (v.10). E tudo isso só foi possível em função da experiência frustrante de pesca daquele discípulo.

E nós precisamos lembrar disso. Quantas vezes nossos esforços tem sido frustrados. Quantas vezes estamos fazendo tudo certo, mas não alcançamos os resultados que gostaríamos. Damos nosso melhor para ser os filhos perfeitos, mas nossos pais nunca estão satisfeitos. Nos esforçamos para honrar nossos líderes e ajudar em nossas igrejas, mas eles nunca estão satisfeitos conosco. Estudamos para alcançar um sonho que Deus tem colocado em nosso coração, mas não passamos. Enfim. Temos dado nosso melhor, mas não tem dado certo. E isso é tão cansativo. Isso é tão duro, é tão decepcionante, é tão cheio de sofrimentos. Ficamos cansados, como Pedro estava depois daquela noite inteira tentando fazer aquela pesca dar certo. E é quando chegamos nesse estágio, em que não temos mais nada pra fazer a não ser sentar na areia daquela praia onde estávamos jogando as nossas redes, e parar, que Deus quer revelar-se a nós. Nossos recursos acabaram. Nossa esperteza, nossa inteligência, nosso carisma, nossa força, nosso tudo. Não temos mais o que fazer. E é nessa hora que Jesus se aproxima pra nos mostrar Quem Ele é e nos permitir viver Seus milagres.

Eu tenho uma dificuldade muito grande de parar. Simplesmente parar. Ficar sem fazer coisas. Quando não estou fazendo planos e estipulando metas e traçando mapas e me esforçando para fazer cada meta dar certo no tempo estipulado, me sinto perdida. Quase fracassando. Me agonia. É tão estranho. Porque sinto minhas mãos vazias. Como eu posso simplesmente não fazer nada? Mas tenho aprendido, pela força dessas frustrações que Deus tem me concedido, que há “tempo de estar calado e tempo de falar” (Eclesiastes 3.7b). Tempo de trabalhar e tempo de deixar Deus trabalhar. Que, enquanto todos os meus planos dão certo, sou convencida de que o sucesso dependeu de minhas capacidades. Mas quando, apesar da minha falta de capacidades, vejo o sucesso acontecer, então me lembro que é Deus quem faz a semente dar frutos. Marta e Maria. Minha eterna batalha para aquietar essa Marta que há em mim. Sempre tão atarefada, cheia de coisas para fazer para agradar ao Mestre. Enquanto há momentos em que só o que devemos é sentar aos Seus pés para escutá-Lo. E é interessante pensar que, antes de Jesus operar o milagre da pesca maravilhosa, Ele entrou no barco de Pedro e falou à multidão. E Pedro precisou ficar ali, parado, escutando-O. E só então, depois disso, o milagre aconteceu.


Haverá tempos de frustração em nossas vidas. Frustrações enviadas por Deus. E glórias a Ele por elas! Porque elas são manifestação de Sua graça e misericórdia, de Sua bondade para conosco. Dos esforços de um Pai que quer revelar-Se a Seus filhos e, para isso, muitas vezes precisa dizer Não. Mas seus “nãos” são cheios de amor. E, se tivermos os olhos e corações atentos à voz do Seu Espírito, perceberemos que, por mais que doa ouvir esses “nãos”, eles sempre vêm acompanhados das revelações do nosso Pai. Que é nessas horas, quando fomos humilhados e forçados a perceber que não somos suficientemente capazes, não somos suficientemente bons, não temos qualidades suficientes e que não temos as condições necessárias para fazer o plano dar certo, que o milagre pode ser experimentado por nós. Não há espaço para dois comandantes em nossas vidas. Ou somos nós no controle, ou é nosso Senhor. E que seja Ele. Que seja Ele! Que Ele nos tire do trono quando quisermos toma-lo para nós. Que Ele nos humilhe quando começarmos a achar que somos mais do que somos. Que Ele nos diga “Não”. Que Ele nos frustre. Mas que Ele cresça e nós diminuamos. Porque somente assim poderemos viver a plenitude de vida que Jesus veio nos oferecer. A partir daquela pesca desastrosa – comandada por Pedro, Jesus o fez viver a pesca maravilhosa – comandada por Jesus, e depois convidou aquele pobre homem pecador para tornar-se PESCADOR DE VIDAS. Aleluia! Eu desejo todas as frustrações oriundas de Deus, se este for o caminho para tornar-me aquilo que Ele deseja que eu seja. E que seja para a Sua glória – e não a minha! Que Ele cresça. Para sempre. Amém.

Um pouco de poesia: Doce coração...


Ah, coração!
Coração Bobo, coração
Coração mole, coração
Para com essa mania de passarinho, coração
Pois tuas asas, coração,
São pequenas demais para tanto querer voar...

Para com essa mania de menino
Todo todo, coração                  
Traquino e peralta, coração
Pois todo o chão deste mundo
Ainda é pequeno para tanto viajar...

Fica calmo, coração!
Dia desses bate uma brisa, coração
E levanta as folhas todas do chão
E faz surgir primavera junto com verão
Vida toda de emoção
Recheada com a razão que só tu queres ter, coração...

Dia desses tu percebes
Que há esperança para ti, coração
Porque todo esse mundão
É só porta para um ainda maior
E que nos grandes mistérios da vida
É que se fazem os nós
Os laços desses belos sonhos teus...

Brilha, coração!
Sempre brilha, coração!
E dança, canta, corre, faz festança de balão
Dá piruetas, ponta-cabeça, bate forte, coração
Porque tua origem, coração
Vem de longe, mui longe...

Olha pra cima, coração!
Pro amor que te espera, coração!
E que sempre te esperou
Ah, belo amor que te cuida, bom menino
Que te guarda e te segura,
Que te ensinou a bailar...
Pois o mesmo que te nina, coração
É quem te faz descansar
É quem guia teus passos, coração
Nessa dura e longa, bela e confusa, louca e incrível jornada de amar...