“Todos lhe davam testemunho, e se
maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios. [...] Que temos
nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo
de Deus!” (Lucas 4.22, 34)
A reflexão de hoje é sobre fé. Fé no Cristo. O que isso
significa? O que significa crer? Aquele crer, aquela fé que é necessário para a
salvação. Significa acreditar na existência de Deus? Significa se agradar dos
ensinos de Jesus? Significa admirar Jesus? Significa saber que Ele era o Filho de
Deus? Como saber se a fé que afirmamos ter é a fé esperada para salvação?
Lendo o texto de Lucas 4.16-44,
percebo dois tipos de vida que, facilmente, seriam caracterizadas como vidas de
fé aos nossos olhos. Primeiro, vejo a multidão. No trecho dos versos 16 a 30,
era uma multidão que já conhecia Jesus. O povo com quem Ele cresceu, em Nazaré.
Jesus havia vivido 30 anos com eles. E, nesse texto, Jesus estava na sinagoga,
lendo os escritos de Isaías e anunciando que era sobre Ele que aquele texto
falava. Certamente não era a primeira vez que Jesus estava na sinagoga lendo as
Escrituras e discutindo-as, visto que aos 12 anos Ele já fazia isso. Aos 30,
quando iniciava Seu ministério, Ele já deveria ter feito isso muitas e muitas
vezes. Aquelas pessoas O conheciam. Fico imaginando quantas coisas aquelas
pessoas ouviram Jesus falar durante esses 30 anos. Quanto elas viram da
santidade dEle em Seu testemunho, O qual, segundo as Escrituras, em tudo foi
tentado, mas não pecou. Que testemunho lindo Jesus deveria ter! E lá estava
Ele, diante daquele povo que O conhecia há tanto tempo, explicando os textos
Sagrados. E o verso 22 diz que “Todos lhe
davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos
lábios”. A versão King James diz: “E
todos exclamavam maravilhas sobre Ele, e estavam admirados com as palavras de
graça que saíam dos seus lábios”. Que lindo! Aquela multidão O admirava e
falava maravilhas sobre Ele! Certamente, isso só poderia ser fé em Jesus,
afinal, elas aceitavam as coisas que Ele falava e as admiravam! No entanto,
quando o texto continua e Jesus continua Sua pregação, passando a anunciar
verdades duras a respeito daquele povo e de Sua missão, palavras não mais “de
graça”, mas de juízo, a reação do povo muda drasticamente: “Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se
encheram de ira” (v.28). E, nos versículos seguintes, aquela mesma multidão
que falava maravilhas a respeito de Jesus há poucos versos, leva-O a um
precipício para mata-Lo. Que mudança drástica na história!
Com que facilidade encontramos
pessoas assim dizendo “crer em Jesus”. Elas se agradam de muitas coisas que
Jesus fala e, por isso, se acham “amigas de Jesus” e, portanto, crentes e
salvas nEle. Afinal, se você não O odeia, é certo que você O ama, não é?
Pessoas que falam coisas boas acerca de Jesus, que admiram Suas palavras.
Porém, apenas enquanto Suas palavras são de graça, são benéficas para suas
próprias vidas. Se houver algum texto nas Escrituras que destoe de suas
próprias convicções, logo se iram e querem levar o Cristo ao precipício e
condená-Lo. Portanto, não, admiração a algumas das coisas que Jesus falou ou
fez ou ensinou não é fé salvadora. Sequer é fé. É apenas interesse.
Logo após, vemos a história da
cura do endemoninhado de Cafarnaum. Num sábado, na sinagoga de Cafarnaum, estava
um homem possesso de demônio, o qual “bradou
em alta voz: Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos?
Bem sei quem és: o Santo de Deus!” (v.34). Essas palavras ditas por
DEMÔNIOS a respeito de Jesus sempre me impactam muito! A gente lê os textos
bíblicos, as histórias acontecendo, Jesus falando claramente, como no texto de
Lucas 4.16-21, em Nazaré, quem Ele era, que as Escrituras falavam sobre Ele,
fazendo milagres, proclamando a Palavra com autoridade, e aquele povo não
entendia. No entanto, aparece um DEMÔNIO na história, e as palavras que ele diz
são reconhecendo o PODER, a AUTORIDADE ESPIRITUAL e A NATUREZA DIVINA E SANTA
de Jesus. Isso é louco! E nós não estamos falando de uma multidão de quaisquer
pessoas. Eram os judeus! Pessoas que cresciam ouvindo sobre o Pacto entre Deus
e Abraão, as promessas de Deus, a vinda do Messias, os milagres operados por
Deus durante toda a história do seu povo. Não eram ignorantes. Mas tão tardos
em compreender. Com os olhos vendados. Até que o próprio demônio proclama QUEM
ELE É: O SANTO DE DEUS! E depois, novamente, no verso 41: “Também de muitos saíam demônios, gritando e dizendo: Tu és o Filho de
Deus!”. Isso mexe muito comigo. Porque, muito comumente, achamos que isso é
a FÉ que se espera de um filho de Deus: confessar que Jesus é o Santo de Deus.
Não é isso o que a gente aprende? Porém, aqui nós vemos seres que fazem essa
confissão mas que, CERTAMENTE, não são filhos de Deus salvos em Cristo! E eu
não sei exatamente se sei explicar isso. Porém, uma coisa eu acredito que seja
central no porquê desta confissão feita pelos demônios, apesar de ser a confissão
esperada de todo crente em Cristo, não ser o suficiente para se descrever uma
fé salvadora.
E voltamos lá à pregação de João
Batista: arrependimento. A fé
salvadora requer arrependimento. É uma via de mão dupla: reconhecer QUEM É
DEUS, mas também reconhecer QUEM SOU EU. Crer convictamente nas palavras do
Cristo que dizem que Ele é o Cordeiro de Deus que veio retirar nossos pecados,
e que Ele é o Verbo que se fez carne, e que Ele é o próprio Deus, vivo desde a
eternidade, pelo qual todas as coisas foram feitas e a Quem todas elas convergirão;
mas também crer convictamente nas palavras do Cristo que dizem que nós somos
totalmente pecadores, nascidos no pecado, escravos do pecado, inimigos de Deus
e necessitados de um Salvador – e de arrependimento de nossa condição caída
para achegarmos-nos a este Salvador. Muitas vezes, pegamos textos isolados para
explicar o que é a salvação e o que é requerido de nós para que sejamos salvos,
e vamos somente até a metade do caminho. Somente “reconhecer que somos maus”
não é o suficiente. Sem a fé na divindade de Cristo, em Sua existência eterna e
Sua santidade que faz dEle o Cordeiro Perfeito e sem máculas, que se dá ao
mundo para remir os pecados do mundo, não há fé salvadora. E somente “crer” na
divindade de Cristo, reconhece-Lo como Deus e reconhecer a suficiência de Seu
sacrifício para salvação do mundo, sem o reconhecimento e o arrependimento do
pecado, não há fé salvadora. Ainda que, se pararmos realmente para pensar, não
há como CRER em Jesus como o próprio Deus, Santo e Perfeito e Todo-Poderoso,
sem tomar como verdade todas as Suas palavras – inclusive a que revela nossa
natureza pecaminosa e escrava do pecado. Portanto, nem toda declaração de que Jesus é o Filho de
Deus é uma CONVICÇÃO, uma CRENÇA na Sua identidade como Filho de Deus. Certamente,
posso falar com tranquilidade, que o que as palavras daqueles demônios
expressavam não poderia ser FÉ. Não era crença. Era CONHECIMENTO. E o próprio
Jesus fala isso: “Ele, porém, os
repreendia para que não falassem, pois sabiam ser ele o Cristo” (v.41b).
Eles sabiam, mas não criam. Conheciam a verdade, mas ela não alcançou suas
mentes e corações a ponto de enraizar-se neles e preenche-los e transformá-los.
Conhecimento que não tornou-se fé.
E essa é outra condição muito
comum de encontrarmos em nossa realidade de “mundo ocidental cristão”. Quantos
já ouviram a história do Cristo. A ouviram durante toda a sua vida, porque
comemoramos a Páscoa, porque comemoramos o Natal, então pergunte às crianças em
geral e elas lhe responderão “quem é Jesus”: “- O filho de Deus”. E uma boa
parte de nossos conhecidos dariam essa resposta facilmente à essa pergunta.
Porque a ouviram tantas e tantas vezes. Foram “catequizados”. Treinados a
repetir. Mesmo sem entender, mesmo sem entronizar. Jesus virou uma fábula. E
todos gostam de contar fábulas, ainda que não acreditem nas histórias que
ocorrem nelas. Esse é o nosso mundo. Mundo de pessoas cheias das respostas
certas a respeito do cristianismo, porém respostas que nunca alcançaram seus
espíritos, suas almas, que nunca lhes foram REVELADAS espiritualmente e,
portanto, que nunca se tornaram fé. Mas elas estão satisfeitas com o
conhecimento que têm. Já lhes é suficiente. Não odeiam a Jesus e sabem que Ele
veio ao mundo, morreu numa cruz por nossos pecados, ressuscitou, foi pro céu e
vai voltar. Pronto. Pra que mais do que isso? Elas sabem. Elas lhe dirão. Mas
nunca creram. E o pior é que, dentro de nossas igrejas, no meio do Povo Salvo
de Deus, também estamos nos tornando satisfeitos com isso. Também já está se
tornando suficiente para nós ouvi-las dizer coisas boas e espirituais sobre
Jesus. E não nos preocupamos mais em saber se realmente há fé. Basta que elas
estejam dentro de nossos templos. Basta que sejam nossas amigas. Basta que
sejam “gente boa”. Isso é o que importa.
Fé. A questão central do
Cristianismo. A fé cristã. Não podemos negligenciar a seriedade do que
ensinamos sobre isso. Não podemos nos conformar com o que o mundo tem se
conformado. Temos em nós o Espírito Santo. Cremos nas verdades espirituais das
Escrituras. E, se não cremos, que também possamos analisar nossa própria fé. É
conhecimento aquilo que chamamos de fé? Ou, de fato, é uma convicção que
alcançou nossas mentes, corações, almas, espíritos, entranhas e tudo que há em
nós, levando-nos a de fato acreditar, mesmo quando não entendemos, que essas
são as únicas e completas verdades desta vida? Analisemos a nós mesmos. E que o
Espírito Santo, Ele que nos ensina todas as verdades do coração do Pai, tenha
liberdade para nos ensinar e gerar fé genuína em nós, e nos usar para levar
outros à verdadeira fé salvadora. Não como as multidões. Não como os demônios.
Fé de discípulos. Fé de seguidores e filhos. Para que o mundo reconheça de Quem
somos filhos e Quem nos salvou. Para que o Nome de Cristo seja glorificado
através de nós. Para que o mundo entenda. Amém.
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