“Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o
meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou a humildade da
sua serva” (Lucas 1.46-48 – versão ARA)
“Então declarou Maria: “Engrandece minha alma ao Senhor, e o
meu espírito se regozija em Deus, meu Salvador, pois contemplou a
insignificância da sua serva”" (Lucas 1.46-48a – versão King James Atualizada)
A segunda devocional de Quaresma está no texto de Lucas
1.46-55, o “Magnificat”, ou o Cântico de Maria. E este texto, por si só, é tremendo,
belíssimo. Porém, é a vida que há por trás destas palavras que me faz refletir.
A menina Maria. Me comove pensar em quem era esta menina, quando o anjo Gabriel
lhe apareceu para anunciar que ela conceberia e seria a mãe do Messias. Tento
me colocar no lugar dela.
A tradição histórica costuma defender que Maria teria cerca
de 14 anos quando ficou grávida de Jesus. Era o tempo em que as meninas
costumavam casar em Israel, naquela época. Tão nova. E com tanta fé! A Bíblia
não fala da história dela, não fala quem foram os seus pais, não diz, como
disse sobre Zacarias e Isabel, nada sobre seu andar com Deus e sua fidelidade a
Ele. Porém, quando olhamos para a narração da reação dela à visita do anjo de
seu Senhor, que coisa bonita de se ver! Tão nova! Como ela pôde simplesmente
responder: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua
palavra” (v.38)? Maria sabia quem era Deus. Ele era o seu Senhor. Ela cria
nEle, ela O temia. Não lhe era um desconhecido. Ela sabia que, apesar daquele
anúncio lhe ter parecido absurdo no início, pois como uma virgem poderia
conceber um filho?, ela sabia que nada era impossível ao seu Deus. Ela O conhecia.
Fico pensando em quanto Maria teria ouvido falar a respeito do Messias que
viria, esperado por todo o seu povo por séculos e séculos... quantas histórias
ela teria ouvido a respeito de como Ele seria e como Ele nasceria, e como Seu
reino seria grandioso e Ele seria o libertador de Israel, e Seu reino não teria
fim. Ela deve ter ouvido falar muito sobre isso. E, como todos os verdadeiros
israelitas, aguardado ansiosamente a vinda do Seu Rei – ainda mais no tempo de
opressão que o seu povo vivia sob o domínio de Roma.
Mas, então, ela ouve as palavras: “Eis que conceberás e
darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e
será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu
pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá
fim.” (v.31-33). Era sobre o esperado Messias que o anjo falava! Só poderia
ser! Essas eram as promessas a respeito dEle. Teria Maria entendido isso de
imediato? Não teria ela lembrado de que, sendo Ele o futuro Rei de Israel,
todos esperavam que Ele nascesse de uma grande família israelita, dos
reconhecidos dentre o seu povo, dos de linhagem importante? Mas ela era uma
simples jovem de Nazaré. Nazaré! E lembrei do que Natanael (aquele que Jesus
chamou de “um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!”, em João 1.47) falou
em João 1.46: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”. Não teria sido isso o
que Maria ouviu durante toda a sua vida? Desprezada, rejeitada, excluída, sem
perspectivas diante da humildade de sua origem. Quantas coisas Maria teria
precisado enfrentar por ser uma de Nazaré? Que lugar esquecido seria aquele?
Mas um anjo lhe apareceu, da parte do seu Deus, e ela creu em suas palavras –
contra todas as palavras que todos os outros haviam dito em toda a sua vida.
Que fé! Que entrega admirável! Isso só é possível quando se conhece ao
Todo-Poderoso Deus!
E é assim que Maria canta, com tanto júbilo:
“A minha alma engrandece ao Senhor,
E o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador,
Porque contemplou a humildade da sua serva.
Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão
bem-aventurada,
Porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome.
A sua misericórdia vai de geração em geração, sobre os que o
temem.
Agiu com o seu braço valorosamente;
Dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos
soberbos.
Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.
Amparou a Israel, seu servo,
a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão
e de sua descendência, para sempre, como prometera aos
nossos pais”
Maria sabia quem era: humilde (v.48 e 52b), serva (v.48),
dentre os famintos (v.53). E ela sabia quem era o seu Deus: Salvador (v.47),
Poderoso (v.49), Santo (v.49), Misericordioso (v. 50, 54), Fiel (v.55). Ela,
pequena; Ele, Grande. E, por isso, havia humildade em seu coração. E, então,
ela reconhece, humildemente, que é aos humildes que Deus escolhe, e por isso O
exalta. Ele poderia ter exaltado os grandes, mas Ele rejeita aqueles que
alimentam pensamentos soberbos em seus corações (v.51), Ele derruba do trono
aqueles que se acham poderosos (v.52), e enche de bens aos que se sabem
famintos e necessitados, enquanto despede de mãos vazias aqueles que se acham
ricos (v.53). Esse é o nosso Deus! E foi exatamente o que o próprio Jesus
falou, conforme nos diz Lucas 10.21: “Naquela hora, exultou Jesus no Espírito
Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque
ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”.
Que estas palavras, as de Maria e as de Jesus, ressoem em
nossas mentes e corações. Não há espaço para soberba no coração do verdadeiro
filho de Deus. Somente aos pequeninos, aos que se sabem e reconhecem humildes,
servos, pobres, necessitados de um Salvador, o Senhor se revelará. Que não nos
achemos maiores do que somos. Que não olhemos nosso próximo como inferior a nós
mesmos. Que, ao olhar para nós mesmos, possamos voltar nossos olhos para DEUS:
e, diante de Sua grandeza, reconhecer nossa pequenez. E que, apesar de enxergar
nossa pequenez, não desacreditemos das grandes coisas que Ele pode fazer
através de nossas vidas neste mundo: por causa de quão grande Ele é!
Que possamos dizer como Maria, mesmo sabendo quem nós somos:
“Aqui está a serva do Senhor: que se cumpra em mim conforme a tua palavra”.
Amém.
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