“Ora, aconteceu que, num daqueles
dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da
Lei, vindos de todas as aldeias da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém” (Lucas
5.17)
E aqui começa uma série de textos
que mostram o conflito entre Jesus e os fariseus e mestres da Lei ou escribas.
De Lucas 5.17 a 6.11, cada narração vem trazendo um confronto entre os feitos
de Jesus e as reações dos religiosos judeus da época. E isso me chamou muita
atenção, pois a tendência é nós lermos os textos separadamente, como se não
houvesse ligação entre eles, como se fossem apenas narrações de histórias.
Porém, parando para analisar mais um pouco, existe um padrão repetitivo entre
eles, e talvez esse seja exatamente o propósito: reforçar uma ideia, para
deixar bem claro aquilo que se gostaria de revelar. Vejamos que padrão é esse.
1) O padrão de Jesus: nesse
trecho das Escrituras, de Lucas 5.17 a 6.11, Jesus faz 6 coisas – cura um paralítico,
perdoando-lhe os pecados; chama para ser Seu discípulo um publicano,
considerado pecador e inimigo dos judeus por cobrar-lhes impostos para dar a
César; vai comer na casa desse publicano, ao lado de um monte de pecadores;
defende seus discípulos, que não obedecem a lei do jejum, como os de João
Batista; colhe espigas e as come num sábado, quando nenhum trabalho era permitido
pela lei judaica; e cura um homem que tinha a mão ressequida, também num
sábado.
2) O padrão dos fariseus: nesse
mesmo trecho, vemos as 5 reações dos fariseus, mestres da Lei e escribas, as
quais eu gostaria de destacar com os versículos referentes:
“E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz
blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Lc. 5.21)
“Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus,
perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” (Lc. 5.30)
“Em seguida, eles [os fariseus e seus escribas] lhes observaram: “Os
discípulos de João jejuam e oram com grande frequência, assim como os
discípulos dos fariseus; no entanto, os teus vivem comendo e bebendo” (Lc. 5.33)
“E alguns dos fariseus lhe disseram: Por que fazeis o que não é lícito
aos sábados?” (Lc. 6.2)
“Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria
uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar” (Lc. 6.7)
E eu queria começar destacando os
comportamentos dos fariseus e escribas. O que eles têm em comum? É incrível!
Eles só estavam preocupados com a LEI! Era só isso o que eles conseguiam
enxergar: regras, normas, leis que precisavam ser mantidas, porque era assim
que deveria ser e essa era a missão deles – os “guardiões da lei”, como
costumavam ser chamados. Os “construtores dos muros” que deveriam proteger as
pessoas do descumprimento da LEI. E eu fiquei tão espantada com o nível de
cegueira dessas pessoas! Não sei se temos como dizer se eles agiam assim por
maldade ou se era simplesmente a cegueira do pecado. No fim, acho que acaba
sendo a mesma coisa. Porém, não acho que era proposital, mas simplesmente
cegueira. Estavam cegos. Fixaram tanto os seus olhos nos DEVERES, nas
REGRAS a serem cumpridas na LEI, que
tornaram-se totalmente incapazes de olhar além, de enxergar A VIDA e o SER
HUMANO que existiam por trás da negra nuvem de normas que eles se dedicavam a
defender. E eu realmente acho que era isso o que Deus queria nos mostrar com
esses 5 ou 6 sucessivos confrontos entre Jesus e esses RELIGIOSOS.
Eu não acredito que devamos olhar
para fariseus e escribas como “as pessoas más” daquele tempo. Não. Eles eram os
líderes da religião judaica – a religião do Povo escolhido por Deus – naquele tempo.
Eram religiosos. E acho que o que eles representam é exatamente isso: aqueles
que são RELIGIOSOS, mas tão religiosos que acabam tornando-se cegos para a vida
que acontece ao seu redor. E, quando olho para nós, mesmo os mais dedicados
entre nós, como eu vejo a facilidade com que podemos nos encaixar nesse modelo
dos fariseus. Quantas vezes temos reproduzido, mesmo sem perceber, a visão dos
fariseus e escribas. Olhamos para “o cisco no olho” do irmão, enquanto
esquecemos a trave em nossos olhos. Estamos tão preocupados procurando erros
teológicos, a falha na igreja fulana de tal, a queda do “irmão”, a oportunidade
para apontar o dedo e expor o erro alheio, nos achamos tão “guardiões da
verdade”, que nos tornamos frios. Ferimos os outros, com a desculpa de “defender
a verdade”, e isso nem nos incomoda mais. Nos achamos tão certos em tudo o que
defendemos, que todo aquele que discordar de nós acaba merecendo ser “desmascarado”
e julgado (e condenado!).
Eu me considero uma seguidora da fé reformada, a fé defendida nos primórdios da Reforma Protestante, a qual acredito ser a fé bíblica. E quanto eu tenho visto esse pecado do farisaísmo, do legalismo, do julgamento frio e sem amor, das discussões sem valor, das briguinhas sem sentido, nesse meio. E não apenas nos outros. Eu também já fui assim. Me sentindo tão dona da verdade, e apontando o dedo ou virando o nariz pra quem fosse diferente. E tenho visto isso se reproduzindo tantas vezes. Valorizamos tanto a “teologia” que esquecemos que existe SERES HUMANOS por trás da teologia. Nos preocupamos mais com a quantidade de água usada para o batismo do que com o ser humano declarando seu compromisso com o Cristo. Nos preocupamos mais com as palavras que devem ser usadas na hora de fazer um apelo (ou com o fato de estar certo ou não fazer um apelo) do que com os seres humanos que levantam-se de seus lugares, desejando conhecer ou seguir o Cristo. Nos preocupamos mais com o nível de “coerência teológica” de uma música que está sendo cantada do que com a aproximação que aquela música pode gerar entre um ser humano e o Cristo. Nos preocupamos tanto em corrigir os outros, que deixamos o AMOR morrer em nós.
Eu me considero uma seguidora da fé reformada, a fé defendida nos primórdios da Reforma Protestante, a qual acredito ser a fé bíblica. E quanto eu tenho visto esse pecado do farisaísmo, do legalismo, do julgamento frio e sem amor, das discussões sem valor, das briguinhas sem sentido, nesse meio. E não apenas nos outros. Eu também já fui assim. Me sentindo tão dona da verdade, e apontando o dedo ou virando o nariz pra quem fosse diferente. E tenho visto isso se reproduzindo tantas vezes. Valorizamos tanto a “teologia” que esquecemos que existe SERES HUMANOS por trás da teologia. Nos preocupamos mais com a quantidade de água usada para o batismo do que com o ser humano declarando seu compromisso com o Cristo. Nos preocupamos mais com as palavras que devem ser usadas na hora de fazer um apelo (ou com o fato de estar certo ou não fazer um apelo) do que com os seres humanos que levantam-se de seus lugares, desejando conhecer ou seguir o Cristo. Nos preocupamos mais com o nível de “coerência teológica” de uma música que está sendo cantada do que com a aproximação que aquela música pode gerar entre um ser humano e o Cristo. Nos preocupamos tanto em corrigir os outros, que deixamos o AMOR morrer em nós.
E, quando olhamos para Jesus, o
que Ele estava fazendo em todas essas situações? Ele estava olhando para
PESSOAS. Estava revelando misericórdia, compaixão, graça, AMOR por um
paralítico e seu grupo de amigos que foram capazes de levanta-lo até um telhado,
para conseguir coloca-lo diante da sua presença; por um publicano, pecador, que
necessitava de uma chance para mudar, e de seus amigos que aceitaram o convite
para também conhece-Lo; por Seus discípulos, que mereciam alegrar-se e celebrar
a Sua presença e que mereciam comer, ainda que fosse em um sábado; e por um
homem que tinha a mão defeituosa. Seres humanos necessitados do Seu amor. E era
isso o que Ele enxergava. Essa era a visão de Jesus. Pessoas e suas histórias
de vida. Era isso o que Ele olhava primeiro. Porque “Os sãos não precisam de
médico, e sim os doentes”. Misericórdia. Que diferença. De uma visão tão pesada
e penosa como a dos fariseus, tão dura, tão cinzenta, nós olhamos para Jesus e
vemos um quadro totalmente diferente – tão suave, tão leve, tão bonito, tão
límpido. E é uma vida assim que Ele nos comprou para viver. Mas isso só é
possível quando nosso caminho também for de graça, misericórdia, compaixão e
AMOR, acima de todas as outras coisas. E é isso o que nós precisamos lembrar.
Jesus não condenou o zelo e
cuidado que os fariseus tinham com a Lei, porque a Lei havia sido dada por Deus
e Deus não se arrepende ou volta atrás. O que Jesus condenava naqueles
religiosos é que eles fixaram de tal forma seus olhos na letra da Lei que
perderam a capacidade de compreender seu real significado. Perderam a essência.
Perderam-se. É óbvio que a busca pelo conhecimento e entendimento teológico
jamais será uma coisa condenável. E a defesa da verdade bíblica também não. Eu
amo teologia e amo conversar sobre assuntos teológicos. Aliás, costumam ser
meus papos preferidos. E isso não é errado. Paulo cita, em 1 Coríntios 12,
diversos dons que o Espírito Santo dá aos salvos, dentre os quais estão a
palavra de sabedoria e a palavra do conhecimento (v.8), e o ofício de mestre
(v.28), que são dons e chamados para o estudo e ensino das Escrituras. Deus nos
capacita e chama para isso. Contudo, após terminar sua exposição acerca da
diversidade de dons, Paulo faz questão de fechar o assunto com um dos meus
textos favoritos na Bíblia: 1 Coríntios 13 – “O amor é o dom supremo”. O último
verso do capítulo 12 diz: “Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons”
(v.31). E o primeiro verso do capítulo 13 diz: “E eu passo a mostrar-vos ainda
um caminho sobremodo excelente”. Então, Paulo passa a falar deste que é O
MELHOR DOM, sem o qual TODOS OS DEMAIS perdem o valor – o AMOR. Sem ele, “serei
como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (v.1), “nada serei” (v.2), “nada
disso me aproveitará” (v.3). Foi o que aconteceu com os escribas e os fariseus.
Tinham a Lei, mas não tinham amor. E, sem amor, de nada adiantará nossa vasta
teologia.
Que Deus nos livre deste
descaminho! Que o Espírito Santo nos convença quando nossa visão estiver como a
dos fariseus e escribas, quando formos mais religiosos do que CRISTÃOS –
seguidores do Cristo - , quando nosso zelo pela “Lei” prejudicar nossa
capacidade de enxergar AS PESSOAS e de amá-las. Deus nos livre disso! Que Ele
nos ensine a ver como Jesus vê. Pessoas, primeiro. Vidas. Seres humanos que
Ele criou segundo Sua imagem e semelhança. E que nada seja maior do que o AMOR –
a Deus e a elas – em todas as nossas motivações. Que possamos ter a visão de
Jesus. Misericórdia, graça, compaixão e AMOR. E que, assim, o Nome do nosso
Salvador possa ser glorificado nesta terra. Por meio de nós. Amém.
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