“Então, olhando ele para os seus
discípulos, disse-lhes...” (Lucas 6.20)
Que fantástico olhar para a
Bíblia e ver quantas coisas novas ela sempre tem para nos ensinar. O texto de
Lucas 6.20-38 é como o de Lucas 5.17 a 6.11: apesar de dividido em vários
tópicos, é contínuo e está falando a mesma coisa e procurando nos passar o
mesmo ensinamento: os padrões de Deus são opostos aos padrões do mundo. E que oposições
fortes Jesus faz aos padrões do mundo, neste texto, em ensino aos Seus
discípulos. Vejamos:
- O mundo nos ensina a desejar/lutar
por/ viver para ganhar dinheiro – estabilidade e conforto é o objetivo maior da
vida de quase todas as pessoas do século XXI, acumular riquezas para “viver bem”.
Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”
(v.20b) e “Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.”. Porque
quando nos falta, reconhecemos que precisamos do socorro de Deus – e Ele nos
oferece o Seu reino; mas quando nos sobra, nos tornamos independentes e autossuficientes,
e não há mais nada que Deus possa nos oferecer, pois sequer precisamos dEle –
nosso tesouro e consolação a própria terra pode dar.
- O mundo nos ensina a sempre ir
em busca de saciar todos os nossos desejos, não passar privações, não nos
negar, estar sempre saciados, independente do preço a pagar. Mas Jesus diz: “Bem-aventurados
vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos” (v. 21) e “Ai de vós, os
que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome” (v.25). Se nossa vida neste
mundo é em busca de nossa própria saciedade, as coisas deste mundo nos saciarão
– mas, no porvir, teremos fome, pois já fomos saciados. Mas, quando este mundo
não pode nos suprir as necessidades, então olhamos para o porvir e ansiamos pela
recompensa que um dia poderá chegar – e a ela receberemos.
- O mundo nos ensina a buscar
felicidade – Ah! A felicidade! A “deusa” deste mundo moderno. Ela é o centro,
ela é o foco, ela é a justificativa para todas as coisas, sua busca é
incontestável, sempre justificada, sempre correta, sempre perfeita. Ser feliz é
o lema! E, certamente, “o que Deus quer é que as pessoas sejam felizes”, não é?
Mas Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir”
(v.21b) e “Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar”
(v.25b). Porque este mundo vai passar e, com ele, todas as suas “alegrias”.
Porque este corpo vai morrer e todos os seus prazeres serão exterminados junto
com ele. Acabarão. E aquele cuja felicidade foi construída neste alicerce de
areia, chamado “Terra” e que, de tão satisfeitos e “felizes” que estavam com o
desfrute dos manjares desta terra, esqueceram que tudo isso pereceria e não
olharam além. Porém, aqueles que choram nesta vida, estes acabam por descobrir –
ou, pelo menos, desejar – que haja mais além dos sofrimentos presentes, e, por
esperarem e desejarem, eles receberão.
- O mundo nos ensina a buscar a
aceitação, o lugar de destaque, o reconhecimento, as luzes, o status, o poder,
o domínio, o topo – e que nenhum lugar que não seja o primeiro é suficiente.
Mas Jesus nos diz: “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando
vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como
indigno, por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai,
porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais
com os profetas” (v.22,23) e “Ai de vós, quando nos louvarem! Porque assim
procederam seus pais com os falsos profetas” (v.26). Porque quando o desejo do
nosso coração é o reconhecimento e o louvor dos homens, facilmente traímos a
Deus. Porque o mundo O odeia e, portanto, raramente louvará os Seus caminhos.
Mas, quando entendemos que o verdadeiro louvor e o verdadeiro reconhecimento
não provém desta vida, que o que recebemos aqui irá passar, então toda a
perseguição, todas as injúrias, todas as injustiças, toda a exclusão que
vivemos por seguir as verdades do Cristo tornam-se ínfimas, e promessas nos
esperam no futuro que há de vir.
- O mundo nos ensina a nos amar
primeiro, acima de tudo, e que aquele que não me ama não merece o meu amor; que
meu amor é para ser oferecido àquele que faz por merecer e que aquele que quer
o meu mal, também não deve contar com o meu bem; que besta é quem faz o bem
para quem só paga com o mal. Mas Jesus diz: “amai os vossos inimigos, fazei o
bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos
caluniam” (v.27-28).
- O mundo nos ensina que a “legítima
defesa” é sempre legítima, e que não devo considerar mau ou errado qualquer mal
que é feito em resposta a um mal recebido, pois “aquilo que alguém planta, deve
estar preparado para colher”, portanto, “se alguém me fez mal, deve estar
preparado para o mal também!”. Mas Jesus diz: “Ao que te bate numa face,
oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a
túnica; dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em
demanda” (v.29,30).
- O mundo nos ensina que “cada um
recebe aquilo que dá” e “a cada um deve ser dado a paga conforme suas próprias
ações”; que primeiro eu preciso me preocupar comigo, e só depois com o outro; e
que, se alguma coisa faz mal, que seja ao outro e não a mim – “eu primeiro!”.
Mas Jesus diz: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também
a eles” (v.31) e “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem
esperar nenhuma paga” (v.35a).
- O mundo nos ensina a apontar o
dedo para quem pensa diferente de nós, e julgar e condenar, e nos achar
melhores do que os outros, e donos da verdade; e que, se alguém cometeu um
erro, deve ser exposto e cobrado. Mas Jesus diz: “Não julgueis e não sereis
julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados”
(v.37).
E que palavras pesadas estas são!
Para nós, discípulos do Cristo! Que palavras duras! Para muitos de nós, tão
acostumados com as filosofias e os ensinos deste mundo, ler todas essas ordens
de Jesus, todos esses mandamentos, todos esses padrões tão contraditórios a
tudo o que conhecemos como “JUSTIÇA”, é quase revoltante! “Não é justo!”, muitos
de nós podemos falar! E, de fato, segundo a justiça deste mundo – egoísta,
individualista, hedonista – não é justo! Não é justo que eu sofra por causa do
mal que o outro fez! Não é justo que eu leve a carga sozinho, enquanto o outro
se aproveita de mim! Não é justo que o outro faça suas besteiras e não seja
exposto e condenado! Não é justo que alguém me faça mal e saia impune! Não é
justo que eu dê a alguém e essa pessoa não me pague! Não é justo que eu ame e
não seja amado em retorno! Não é justo simplesmente deixar pra lá o mal que
alguém me fez! Não é justo! Não é justo! Não é justo!
Mas a justiça DE DEUS não é a
nossa justiça. A nossa é egoísta, a dEle é Altruísta. E se há Alguém que
poderia agir pensando em si mesmo acima dos outros, esse é Deus, totalmente
superior a todos nós, seres humanos pecadores. Mas Ele não faz isso. Jesus diz para
amarmos até os nossos inimigos porque: “será grande o vosso galardão, e sereis filhos
do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.” (v.35b).
Ele, O ALTÍSSIMO, resolve exercer justiça em benignidade e misericórdia, e nos
chama a viver o SEU PADRÃO também: “Sede misericordiosos, como também é
misericordioso vosso Pai” (v.36).
Se nos tornamos FILHOS DELE,
SEGUIDORES DO CRISTO, os ensinos do mundo não são mais para nós. Não é mais o
nosso padrão. Não é mais no que devemos acreditar. Não é mais o que devemos
buscar. Nosso caminho é o oposto. É a contramão. É o SIM à chamada de Paulo em
Romanos 12.2a: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente”. Renovação da mente. Não mais as filosofias e teorias
deste mundo, da sociedade. Não dá mais pra ser igual a todo mundo. Renovação da
mente. Contramão. Esse é o nosso rumo, a nossa nova direção. E isso dói! Isso
vai doer muito, muitas vezes. Pobre, faminto, chorando, injustiçado,
perseguido, recebendo tapas, dando sem retorno... não é fácil. Não é um chamado
fácil. Mas se há alguém que sabe o que nos levará à VERDADEIRA FELICIDADE, esse
é o CRIADOR e CONSUMADOR de todas as coisas. Ele sim sabe o que é ser
BEM-AVENTURADO. E o que trará apenas “AI” no final. Ele sabe. E, se Ele nos diz
que o caminho das Bem-Aventuranças é a contramão, é nela que devemos andar: “Para
que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm.
12.2b).
Vamos juntos, na contramão – de mãos
dadas, ajudando-nos uns aos outros a não desfalecer. O galardão que nos espera,
ao fim deste caminho, certamente será muito melhor do que TUDO o que este mundo
pode nos oferecer. Vai vale à pena!
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