sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Quaresma – Dia 17: Quando Jesus adormece



“Enquanto navegavam, Ele adormeceu...” (Lucas 8.23a)

E abateu-se sobre o lago uma grande tempestade com fortes ventos, de modo que o barco estava sendo inundado, e eles corriam o risco de naufragar” (Lucas 8,23b). E parece que é só nessas horas que Jesus “resolve adormecer”. Não poderia ter escolhido adormecer quando todos estivessem em terra firme, seguros, confortáveis e felizes? Não. Tinha que ser no meio de uma tempestade tal que o barco estava prestes a naufragar.

E é exatamente assim que nos sentimos, muitas e muitas vezes. Olhamos ao redor e tudo é tempestade – nuvens escuras, ventos fortes, a água enchendo o barco e o perigo de todos naufragarem e morrerem. E a pergunta que não cala é: “Onde está Jesus?”. Onde está Deus em nossos momentos mais difíceis, que parece não nos ouvir, que parece ter fechado Seus olhos à tormenta que nos assola, onde Ele está? E parece que estamos lutando sozinhos – e que vamos perder a luta. Então, nos desesperamos e clamamos a Ele, cheios de temor. Por quê?

Porque Ele está testando a nossa fé. “Ora, a fé é a certeza de que haveremos de receber o que esperamos, e a prova daquilo que não podemos ver” (Hebreus 11.1 – BKJ). E não dá pra exercer fé se não estamos esperando nada, porque tudo o que desejamos já recebemos. Não dá pra exercer fé se todas as coisas podem ser contempladas pelos nossos olhos e então não precisamos mais de provas. Não dá pra exercer fé quando tudo está seguro, confortável, alegre e feliz. Não dá pra exercer fé quando nossas forças são suficientes para resolver todos os problemas ao redor. Fé só é vivida quando chegamos ao ponto em que tudo o que temos em mãos tornou-se insuficiente. Aí, só o que nos resta é crer. Fé só é vivida quando a tempestade vem. Ventos, nuvens, trovões, torrentes de água... e não há poder em nós para controlar nada disso. Aí então é quando reconhecemos que precisamos de ajuda – e precisamos crer.

Mas parece tão injusto que, no meio de tanta aflição que os discípulos viviam naquele momento, Jesus estivesse tranquilamente dormindo. Talvez eles tenham se sentido assim. Desamparados. Abandonados. Injustiçados. Como Ele poderia dormir e deixa-los enfrentar aquilo “sozinhos”? Contudo, fico pensando em qual teria sido o desfecho da história se eles tivessem tido , e confiado que, ainda dormindo, Jesus estava naquele barco e, portanto, nada lhes iria acontecer. E acredito que essa história é como a história da pesca desastrosa de Pedro e o milagre da pesca milagrosa. Talvez, novamente, Deus estivesse querendo mostrar àqueles discípulos Quem era Jesus. Talvez eles tivessem vivido mais um milagre poderoso de Jesus ali – e sem que Jesus precisasse dizer nada. Talvez eles tivessem tido a oportunidade de comprovar, mais uma vez, e de maneira indescritível o poderio e soberania de Cristo.

Mas, eles confiaram mais nas circunstâncias do que no seu Senhor. Eles olharam mais para a tempestade do que para a presença do Messias com eles. Aquilo que eles podiam ver tornou-se maior do que o que não se podia ver. Todos aquelas nuvens, chuva, vento, trovões e relâmpagos conseguiram assustá-los tanto, que os fizeram esquecer de Quem estava com eles. Aqueles discípulos estavam vindo de uma caminhada tão profunda com Jesus, ouvindo Suas revelações, vendo os infindáveis milagres que Ele operava, crendo em seu coração que Ele era o Messias. Mas, quando se viram diante de uma tempestade, todas essas lembranças simplesmente desapareceram. Esqueceram tudo o que Jesus já tinha feito e revelado até então. O medo os dominou e roubou a fé.

E não é exatamente assim conosco? Vamos caminhando com Deus, vendo Seu poderoso agir em nossas vidas, com Sua graça infinita e multiforme. Ah, Ele tem feito tanto por nós! Tem nos dado livramentos e nos feito enxergar que era a Sua mão nos livrando; tem nos guardado do mal e nos dado forças nas horas das provações; tem respondido às nossas orações; tem sido paciente e bondoso conosco nas nossas horas más; tem feito muito mais do que poderíamos pedir, pensar ou imaginar... E tudo isso nos encanta tanto, enquanto estamos caminhando ao lado dEle, e enche nosso coração de alegria, confiança e descanso. Mas, quando a tempestade vem, não importa quanto tempo de bonança nós tivemos antes, nós esquecemos. Nosso coração se enche com o que os olhos estão dizendo a ele e, simplesmente, esquece. Inunda-se de temor. E desespera. E toda a alegria, a confiança e o descanso que o nosso Senhor queria nos ensinar se desfaz.

Onde está a vossa fé?”, perguntou Jesus (Lucas 8.25a). Quando os discípulos clamaram por ajuda, Ele levantou-se e ajudou, e repreendeu o mar e os ventos, “e houve perfeita paz” (v.24b – BKJ). Mas, eles poderiam ter experimentado daquela bonança, daquele milagre, sem desespero e temor. Se tivessem fé. Poderiam ter encontrado descanso e paz, mesmo em meio às maiores tempestades. Se tivessem fé. “Onde está a vossa fé?”. É o que Jesus quer que desenvolvamos. Fé nEle. Confiança, mesmo quando não podemos ver. Certeza, mesmo enquanto ainda estamos esperando. Confiança, certeza. Por causa de Quem Ele é. Porque Ele está no barco. E porque Ele nunca abandona os seus. A bonança virá. O barco que tem Jesus não afundará. Não precisamos temer e nos desesperar. Precisamos lembrar. De nossa história com Ele, de tudo o que Ele já fez – porque Ele continua o mesmo e não nos abandonará.

Ele não dorme. Mesmo quando Jesus adormece, Ele não dorme. Ele não se esquece de nós. Nunca. Hora nenhuma. E nenhuma tempestade será grande o suficiente para afundar o barco dEle. Ele está conosco, também podemos adormecer e descansar tranquilos. Mesmo com vento, mesmo com nuvens escuras, mesmo com trovões e relâmpagos, mesmo com o barco a encher de água, estamos seguros, não precisamos temer. Nosso Comandante nunca perde o controle da Sua embarcação. Nele, nós podemos confiar. Basta ter .

Que Ele renove a nossa fé a cada dia e nos ajude a aprender, a lembrar, a não desesperar, a confiar. Para a glória do Seu Nome. Amém.



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