Ontem, quarta-feira de cinzas,
uma amiga escreveu um texto sobre o significado e importância desse tempo
chamado de Quaresma – negligenciado no meio protestante. Me fez refletir. E
perceber quanto preciso disso. Tempo de silêncio, de contrição, de reflexão a
respeito do sacrifício feito pelo meu Senhor e Salvador, e de prática das
disciplinas cristãs. Depois ela me marcou numa publicação que divulgava uma
série de vídeos-devocionais que serão lançados, diariamente, durante esse
período da Quaresma, e decidi acompanha-los e utilizá-los para meu tempo
devocional. E aproveitar esse período de reflexão para voltar a registrar aqui,
neste canto que o Pai me deu, alguns pensamentos desta caminhada. A leitura bíblica
se dará no Evangelho de Lucas, e o primeiro dia trata do texto do capítulo 1,
versos 5 a 17.
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“Disse-lhe, porém, o anjo:
Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te
dará à luz um filho, a quem darás o nome de João.” (Lc. 1.13a)
Logo que ouvi, no vídeo
devocional, a leitura desse trecho do texto, pensei em como é bom ouvir algo
desse tipo: “a tua oração foi ouvida”. Mas logo meus pensamentos foram
remetidos a todo o contexto ao redor deste momento. Não tenho certeza se a
oração de Zacarias era para ter um filho. O comentário da minha Bíblia diz que
possivelmente era um pedido pela vinda do Messias. Porém, ao ver as menções de
Lucas a respeito da vida de Zacarias, de que ele e sua esposa não tinham filhos
e eram avançados em dias, e do questionamento de Zacarias ao anjo (“Como
saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias”, v.18), e
sabendo da importância que gerar um filho, deixar um descendente tinha para o
povo judeu, me permito acreditar que sua oração poderia ser por um filho. E foi
sobre esse ponto minha reflexão.
Por quanto tempo Zacarias teria
feito suas orações? Desde quando ele teria começado a pedir uma resposta para seu
Deus? Quanto deve ter sido difícil para ele esperar por essa resposta? Terá ele
desanimado e deixado de acreditar em algum momento? Terá ele tido vontade de
parar de orar por este sonho? Terá ele ficado cansado? Terá ele imaginado que
essa resposta ainda poderia chegar, mesmo já avançado em idade com sua esposa?
Mas a resposta chegou. Depois de
anos e anos de espera, sua resposta chegou. Um dia, um anjo enviado do seu
Senhor veio dizer-lhe que sua oração havia sido ouvida e sua mulher lhe daria
um filho! Posso entender que sua resposta tenha sido de questionamento (v.18). Depois
de tanto tempo! Seria possível que aquilo fosse verdade? E, apesar de já ser
suficientemente maravilhoso saber que ele não morreria sem o seu descendente,
as palavras do anjo não pararam ali, havia mais. Muitos se regozijariam com o
nascimento de seu filho (v.14), ele seria grande diante do Senhor, separado para Deus e
cheio do Espírito Santo já desde o ventre (v.15), converteria muitos dos filhos
de Israel ao Senhor (v.16), iria à frente do Senhor no espírito e poder de
Elias, para cumprir a antiga promessa de converter os corações dos pais aos
filhos e converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar ao
Senhor um povo preparado (v.17). Que palavras mais tremendas eram essas! Como
crer? Aquele homem velho com sua mulher idosa... e promessas tão grandes feitas
a si!
Os longos tempos de espera muitas
vezes amortecem nosso coração. Adormecem nossa fé. Nos tiram as forças para
continuar aguardando com o mesmo fervor. É duro esperar e esperar e ver as
possibilidades esvaindo de suas mãos, enquanto nada sugere a chegada de seu
sonho. E mais ainda quando, como era com Zacarias e Isabel: “Ambos eram justos
diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos
do Senhor” (v.6). Às vezes, dói ouvir a voz do Inimigo de nossas almas nos
dizendo “é esse o pagamento por ser fiel ao seu Deus?”. E, às vezes, quase
acreditamos nisso. Nos perguntamos se realmente vale à pena manter-se fiel
quando a resposta que você tanto espera não vem. Quando já se passaram dez
anos. Quando nunca dá certo. Quando todos recuam e abrem mão. Por que manter-se
fiel?
Mas Zacarias e Isabel
permaneceram. Não porque esperassem uma recompensa de Deus. Provavelmente, nem
esperassem mais. Não de verdade. Tanto que a dúvida assombrou o coração de
Zacarias, assim que sua resposta chegou. Eles permaneceram fiéis porque era
isso que eles eram, era no que criam. Permaneceram por causa de QUEM SEU DEUS
ERA. Não pelas coisas que Ele poderia fazer-lhes. Não havia como voltar atrás,
pois eles conheciam o Deus a quem serviam e sabiam que nenhum outro jeito de
viver satisfaria suas almas sedentas pela glória do seu Deus.
E a resposta poderia nunca ter
vindo. Poderia. Mas ela veio. Já quando parecia ser improvável – na verdade,
impossível. Deus permitiu que todo aquele tempo passasse. Deus permitiu todo
aquele tempo de espera. E só Ele sabe os motivos para isso. Porém, no tempo
certo, para a glória de Seu Nome, a resposta às orações daqueles filhos chegou –
e foi MUITO ALÉM, MUITO MELHOR, MUITO MAIOR do que eles poderiam pedir, pensar
ou imaginar.
Que seja assim conosco. Quando o
tempo passar, quando as orações parecerem perdidas, quando as chances parecerem
esgotadas, quando o cansaço bater e as possibilidades deixarem de existir,
lembremos quem é o nosso Deus. Deus do impossível, Todo-Poderoso. E que,
qualquer que seja a Sua resposta para nossas orações, Seus planos continuam
sendo totalmente bons, e Sua vontade boa, perfeita e agradável. Permaneçamos
fiéis.
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