“E desceu com eles para Nazaré; e
era-lhes submisso.” (Lucas 2.51a)
É tão bonito ler como foi a vida
humana de Jesus. Seus passos como menino, adolescente, e algumas coisas que
revelam um pouco sobre como foi para o próprio Filho de Deus viver como um ser
humano. Fico pensando em quando Jesus tornou-se consciente de Quem Ele era, de
que Ele era Filho de Deus. Que coisa louca! A Bíblia nos mostra que Deus usou
várias pessoas, desde o nascimento de Jesus, para confirmar a Maria e a José
Quem Jesus era, Sua natureza divina. Porém, fico me perguntando se eles
conversavam sobre isso com Jesus, ou se foi o próprio Deus quem ia revelando
isso a Jesus, por meio de Seu Santo Espírito. Bem, o fato é que, segundo o
texto de Lucas 2.41-52, aos doze anos, Jesus já sabia quem era. E podemos ver
isso no verso 49, quando Ele diz aos seus pais: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu
Pai?”.
Mais uma vez, ao lermos certos
termos com os quais estamos acostumados, enquanto cristãos, como o fato de
chamar Deus de “Pai”, não nos atentamos para o significado de alguns textos
bíblicos. Ninguém chamava Deus de Pai entre o povo de Israel naquele período!
As pessoas sequer podiam pronunciar o Nome de Deus, o Yaweh, o EU SOU. Deus era
temido como um Deus distante, o Todo-Poderoso, o SENHOR, Aquele que revelava-se
apenas aos Sacerdotes e Profetas. E, então, um menino de DOZE ANOS, no meio dos
doutores do Templo (v.46), fala a seus pais que lhe cumpria estar na CASA DE
SEU PAI. É provável que outras pessoas tenham ouvido o diálogo entre José,
Maria e Jesus, porque o texto diz que “Logo
que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse...”
(v.48), quando aconteceu o diálogo. Porém, é igualmente provável que ninguém
tenha entendido o que Ele queria dizer, o que aquilo significava. Nem mesmo
seus pais, que desde Seu nascimento ouviam revelações sobre Quem era aquele
menino, compreenderam: “Não
compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera” (v.50).
E, então, o texto continua
dizendo que Jesus desceu com seus pais para Nazaré, “e era-lhes submisso” (v.51). E foi aqui que meu coração parou e
fiquei a pensar em Jesus, aquele menino de 12 anos que interrogava e respondia
aos doutores do Templo e causava admiração em todos que O ouviam. Ele sabia
quem era. Jesus já sabia que Ele era o Filho de Deus, o próprio Deus. Ele já
sabia que tinha uma missão a cumprir. Tendo sido criado na cultura judaica, e
tendo pais que eram fiéis no cumprimento da Lei de Moisés, como vemos em todo
este capítulo 2 de Lucas, Jesus certamente já conhecia as Escrituras e as
promessas de que Deus enviaria o Messias, o Grande Salvador de Israel. E era
Ele. Ele era grande. Não havia outro como Ele. Ele tinha essa consciência.
Enquanto isso, quem eram os seus
pais? Pessoas humildes, um carpinteiro, uma mãe com muitos filhos, um homem e
uma mulher ainda de uma cidade humilde e discriminada, e esta era a família de
Jesus. Mesmo tendo recebido tantas revelações a respeito da Identidade e missão
de Jesus, Seus pais ainda não haviam entendido. Havia passado 12 anos, Jesus,
um adolescente, já havia entendido, e eles ainda não. E esses eram os seus
pais. Essas eram as AUTORIDADES humanas que Deus havia estabelecido para
cuidar, guiar, orientar aquele Jesus adolescente em sua caminhada.
Jesus, certamente, teria muitos
motivos para olhar para seus pais e questionar a autoridade deles em sua vida,
como pais. Eles tinham tantos defeitos. Eles não entendiam! Ele tinha uma
missão grandiosa a cumprir, e eles estavam preocupados com o fato dele não ter
voltado para casa junto com sua família. Jesus enxergava tão longe, e eles
enxergavam tão pouco. Mas eram SEUS PAIS. E, ainda sabendo que o lugar da Sua
Missão seria ali, na grande Jerusalém, Jesus voltou para a pequena e esquecida Nazaré
com seus pais, para cumprir Seu tempo de espera. E viveu assim até os seus
TRINTA anos. Que coisa linda ver que Ele entendia, e Ele VIVEU, a verdade a
respeito da AUTORIDADE DADA POR DEUS a determinadas pessoas, escolhidas pelo
próprio Deus, para sua vida. Lá na frente, Seus discípulos ensinariam a Igreja
sobre submissão às autoridades estabelecidas, e já com 12 anos, Jesus dava
testemunho de vida a respeito disso. Submissão INCONDICIONAL.
E olhei pra mim. Pensei em nós.
Como é difícil viver isso. Quando aqueles que são autoridades em nossas vidas,
líderes estabelecidos por Deus, não compreendem, quando estamos “lá na frente”
e eles estão “lá atrás” e, por isso, acabam limitando o fluir de alguns de
nossos planos e projetos. Quando Deus revela algo a nossos corações, mas nossos
líderes não entendem e, então, nos seguram. Quando precisamos abrir mão de
nossos sonhos, de nosso tempo, de nossa vontade por causa de uma autoridade que
não entendia. Isso é tão duro! Isso é tão frustrante e revoltante! Não sei se
Jesus chegou a ser tentado com a revolta que bate numa situação como essa – a vontade
de desobedecer, de virar as coisas e ir embora, cuidar da sua própria vida,
sozinho, sem ter mais que dar satisfações a ninguém, a não ser a Deus. Não sei.
Mas em nossos corações, ah, como isso acontece! Às vezes é com nossos pais, às
vezes é com nosso pastor, com um chefe no trabalho, etc. Vontade de fingir que
não foi Deus quem os estabeleceu como autoridades sobre nossas vidas e declarar
independência. Mas não foi o que Jesus fez. E se houve alguém neste mundo que
poderia ter feito isso, que não precisava realmente de NINGUÉM, era Jesus. Ele
era DEUS. Mas não foi o que Ele fez. Ele se submeteu.
Sim, é óbvio que a submissão de
Jesus, ainda que INCONDICIONAL – não dependia de quem eram as pessoas que
haviam recebido autoridade sobre sua vida, de quais qualidades elas tinham - ,
não era uma submissão cega. Houve momentos em que Jesus contrariou as expectativas
de seus pais. Sua permanência em Jerusalém, sem a permissão de seus pais, foi
um desses momentos. Quando Maria, nas bodas de Caná da Galiléia, vai reclamar
com Jesus que o vinho havia acabado, pedindo-lhe para fazer algo, Jesus diz a
ela que o Seu tempo ainda não havia chegado (João 2.3,4). Quando Maria e os
irmãos de Jesus chegam à casa onde Jesus ensinava ao povo, sem conseguir
entrar, e mandam chama-Lo, Jesus não para seu ensino para ir falar com eles,
Ele explica que mais importante que sua mãe e seus irmãos terrenos era cumprir
a Sua missão, e permanece ensinando (Mateus 12.46-50). Então, sim, houve
momentos em que Jesus precisou contrariar as expectativas de seus pais. Porém, a
Bíblia nos diz que Ele era-lhes submisso. Poderíamos ler “(tanto quanto
possível) era-lhes submisso”. Esse era o seu esforço. Essa era sua dedicação.
Honrar os Seus pais, sendo-lhes submisso.
E esse é um grande ensino para
nós. Ainda que afirmemos que somos submissos, estamos sempre esperando a menor
desculpa para acessar a pasta das “exceções” e deixar de seguir as orientações
de nossos pais, ou outras autoridades, quando suas opiniões divergem das
nossas. Queremos que nossa vontade seja feita e, então, se temos convicção de
ser aquela uma revelação de Deus para nossas vidas, deixamos a submissão de
lado. E tentamos tornar esse “tanto quanto for possível” o mais limitado
possível, e o “quando não houver outro jeito”, o mais amplo possível. Não é
fácil ser submisso quando a vontade de nossos líderes diverge da nossa. Quando o
entendimento deles não acompanha o nosso. Até mesmo quando eles não conseguem
enxergar a vontade de Deus da forma como nós enxergamos. Dói muito ter que
abrir mão de algumas convicções para obedecer. Mas Jesus nos deu o exemplo. E
se Ele, sendo DEUS, sabendo tudo o que aconteceria lá na frente, tendo certeza
de que aquela era Sua missão, soube obedecer o tempo de “abrir mão e
submeter-se”, quem somos nós para não fazê-lo?
Que o Espírito Santo nos ensine.
Que possamos crescer “em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos
homens”, assim como acontecia com Jesus (v.52), para compreendermos esse tempo
de “abrir mão e submeter-se” também em nossas vidas, e para termos a confiança,
a fé, a força necessárias para viver a submissão ensinada e cobrada por Deus,
tanto quanto nos for possível. E que, assim, honrando os líderes que Deus
colocou sobre nossas vidas, possamos honrar Àquele que os escolheu, e mostrar a
este mundo que mais importante do que cumprir as nossas vontades, nos é viver
em obediência e louvor a nosso Pai, que está nos céus. Que Ele nos ajude a ser
boas testemunhas. Para Sua glória. Amém.
2 comentários:
Que texto difícil de ler, viu! haha
Que Deus nos ajude a sermos mais submissos em fazer a Sua vontade.
Difícil de escrever também, Pri, você sabe, né? Mas, sim, que Ele nos ajude! E que nossas vidas sejam mais voltadas para a GLÓRIA DELE do que para nossa própria satisfação, não é? Ele nos ajude.
[P.S.: que legal ter você aqui! xD]
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