segunda-feira, 21 de março de 2016

Quaresma – Dia 35 – Não desesperar



“[...] pois será ele entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado e cuspido; e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará” (Lucas 18.32-33)

Mas o início do texto nos é tão forte, tão doloroso, tão impactante, que esquecemos do fim. Não estamos acostumados com a dor e a morte. Deve ser nossa carne e seu apego à matéria deste mundo, deve ser nossa incapacidade de discernir claramente as coisas espirituais, mas deve ser também a eternidade para a qual fomos criados e que o pecado havia roubado de nós, trazendo a morte antes da verdadeira vida. Mas uma coisa é fato: não nos acostumamos com o sofrimento. Lutamos contra ele. Corremos dele. Não o aceitamos, não o queremos assumir. Não queremos sofrer!

E foi assim com os discípulos. É interessante que as profecias a respeito do Messias já falavam que Ele haveria de sofrer, ser rejeitado, humilhado e morrer. Os discípulos, como bons israelitas, já as haviam ouvido e deviam sabê-las. Contudo, quando Jesus começa a falar que Ele havia de passar por todo esse sofrimento, os discípulos não entendem e não aceitam – a ponto de Pedro falar para Jesus que Ele não deixaria que essas coisas acontecessem com Jesus. A ponto dos discípulos no caminho de Emaús ainda encontrarem-se despedaçados e sem esperanças, após a morte do seu Mestre. Porque a dor nos cega. Os sofrimentos desta vida nos são tão intensos que nos roubam a esperança e, muitas vezes, a fé. Eles nos são tão pesados que nem prestamos atenção no que resta, nem atentamos para as promessas que os acompanham, não conseguimos enxergar além deles. Mas as palavras de Jesus terminam assim: “mas, ao terceiro dia, ressuscitará” (v.33).

Ah, se nós conseguíssemos parar para lembrar disso, todas as vezes em que as lutas se tornarem intensas e os sofrimentos desta vida começarem a nos comprimir e despedaçar. Quando formos escarnecidos, ultrajados, humilhados, açoitados e mortos... quando estiver difícil e dolorido... quando não parecer mais haver esperança... se nós lembrássemos das promessas que acompanham as provações! Se os discípulos tivessem ouvido aquelas palavras e as entronizado. Quanta dor teria sido poupada. Quanto desespero teria sido minimizado. Se, simplesmente, lembrássemos.

Vai haver cruz. Vai haver dor. Vai haver sofrimento. Vai, até mesmo, haver morte. Mas a história não termina aí. Ainda que, quando pensamos na história de Jesus, quando pensamos na Páscoa, muitas vezes, mesmo sem querer, parece que encerramos a narração aí. Jesus sofreu e morreu. Só que a história não termina aí. Não termina em lágrimas. NO TERCEIRO DIA, ELE RESSUSCITOU! ALELUIA, ALELUIA! A morte NÃO O PODE DETER! ALELUIA, ALELUIA! E é isso o que nosso Mestre quer nos lembrar: HÁ RESSURREIÇÃO APÓS A MORTE! Não precisamos temer! ELE JÁ VENCEU A MORTE!

Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração” (Lc. 17.25). Há glória nos aguardando, no Reino de nosso Mestre! Há ressurreição e vida eterna nos aguardando! Contudo, assim como foi com Jesus, há um caminho a cumprir antes disso. E nesse caminho haverá dores. E nós não podemos esquecer disso. Pois, quando esquecemos, quando esperamos que a glória venha sem o sofrimento, o sofrimento destrói nossas esperanças e nossa fé. Quando esquecemos que haveremos de padecer e ser rejeitados, assim como nosso Mestre foi,  nos desesperamos desta vida. Esperamos dela algo que ela não pode nos oferecer. E começamos a achar que a dor é o fim, é o abandono de Deus, é o último capítulo. Mas ele não é. Jesus nos falou. Primeiro, era preciso que Ele padecesse. Mas, depois, no fim, haveria Sua glorificação. E é disso que precisamos lembrar.


Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará” (Lc. 17.33). Esses são os caminhos de Deus. Sua sabedoria, contrária à nossa. E Jesus veio nos deixar o exemplo a seguir. Esses são os caminhos para nós, como foram para Ele. Assim, que as dores desta vida não nos roubem a esperança e a fé. Não nos façam desesperar. Quando o céu escurecer, quando as nuvens surgirem, quando a dor se tornar forte demais, quando formos desprezados, humilhados, escarnecidos, maltratados, ofendidos, perseguidos... quando a própria morte parecer chegar... que nosso coração, nossa mente, nossa alma se lembre que aquele que entrega a sua vida, que a perde, esse é quem a salvará. Que não tentemos manter nossas vidas a salvo, mas que tenhamos fé suficiente para perde-la. E que lembremos que após a morte haverá ressurreição. Após a dor, haverá a glória. Após a luta, haverá o descanso e a recompensa do Pai. Porque esse é o ensino da Páscoa. A Páscoa que também é nossa – como foi de Jesus. A Páscoa que é nossa esperança. Vida que vence a morte. Vida que nos traz descanso. Vida que nos diz para não desesperar...

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