“[...] pois será ele entregue aos
gentios, escarnecido, ultrajado e cuspido; e, depois de o açoitarem,
tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará” (Lucas 18.32-33)
Mas o início do texto nos é tão
forte, tão doloroso, tão impactante, que esquecemos do fim. Não estamos
acostumados com a dor e a morte. Deve ser nossa carne e seu apego à matéria
deste mundo, deve ser nossa incapacidade de discernir claramente as coisas
espirituais, mas deve ser também a eternidade para a qual fomos criados e que o
pecado havia roubado de nós, trazendo a morte antes da verdadeira vida. Mas uma
coisa é fato: não nos acostumamos com o sofrimento. Lutamos contra ele.
Corremos dele. Não o aceitamos, não o queremos assumir. Não queremos sofrer!
E foi assim com os discípulos. É
interessante que as profecias a respeito do Messias já falavam que Ele haveria
de sofrer, ser rejeitado, humilhado e morrer. Os discípulos, como bons
israelitas, já as haviam ouvido e deviam sabê-las. Contudo, quando Jesus começa
a falar que Ele havia de passar por todo esse sofrimento, os discípulos não
entendem e não aceitam – a ponto de Pedro falar para Jesus que Ele não deixaria
que essas coisas acontecessem com Jesus. A ponto dos discípulos no caminho de
Emaús ainda encontrarem-se despedaçados e sem esperanças, após a morte do seu Mestre.
Porque a dor nos cega. Os sofrimentos desta vida nos são tão intensos que nos
roubam a esperança e, muitas vezes, a fé. Eles nos são tão pesados que nem
prestamos atenção no que resta, nem atentamos para as promessas que os
acompanham, não conseguimos enxergar além deles. Mas as palavras de Jesus
terminam assim: “mas, ao terceiro dia, ressuscitará” (v.33).
Ah, se nós conseguíssemos parar
para lembrar disso, todas as vezes em que as lutas se tornarem intensas e os
sofrimentos desta vida começarem a nos comprimir e despedaçar. Quando formos
escarnecidos, ultrajados, humilhados, açoitados e mortos... quando estiver
difícil e dolorido... quando não parecer mais haver esperança... se nós lembrássemos
das promessas que acompanham as provações! Se os discípulos tivessem ouvido
aquelas palavras e as entronizado. Quanta dor teria sido poupada. Quanto
desespero teria sido minimizado. Se, simplesmente, lembrássemos.
Vai haver cruz. Vai haver dor.
Vai haver sofrimento. Vai, até mesmo, haver morte. Mas a história não termina
aí. Ainda que, quando pensamos na história de Jesus, quando pensamos na Páscoa,
muitas vezes, mesmo sem querer, parece que encerramos a narração aí. Jesus
sofreu e morreu. Só que a história não termina aí. Não termina em lágrimas. NO
TERCEIRO DIA, ELE RESSUSCITOU! ALELUIA, ALELUIA! A morte NÃO O PODE DETER!
ALELUIA, ALELUIA! E é isso o que nosso Mestre quer nos lembrar: HÁ RESSURREIÇÃO
APÓS A MORTE! Não precisamos temer! ELE JÁ VENCEU A MORTE!
“Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por
esta geração” (Lc. 17.25). Há glória nos aguardando, no Reino de nosso
Mestre! Há ressurreição e vida eterna nos aguardando! Contudo, assim como foi
com Jesus, há um caminho a cumprir antes disso. E nesse caminho haverá dores. E
nós não podemos esquecer disso. Pois, quando esquecemos, quando esperamos que a
glória venha sem o sofrimento, o sofrimento destrói nossas esperanças e nossa
fé. Quando esquecemos que haveremos de padecer e ser rejeitados, assim como
nosso Mestre foi, nos desesperamos desta
vida. Esperamos dela algo que ela não pode nos oferecer. E começamos a achar
que a dor é o fim, é o abandono de Deus, é o último capítulo. Mas ele não é.
Jesus nos falou. Primeiro, era preciso que Ele padecesse. Mas, depois, no fim,
haveria Sua glorificação. E é disso que precisamos lembrar.
“Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a
salvará” (Lc. 17.33). Esses são os caminhos de Deus. Sua sabedoria,
contrária à nossa. E Jesus veio nos deixar o exemplo a seguir. Esses são os
caminhos para nós, como foram para Ele. Assim, que as dores desta vida não nos
roubem a esperança e a fé. Não nos façam desesperar. Quando o céu escurecer,
quando as nuvens surgirem, quando a dor se tornar forte demais, quando formos
desprezados, humilhados, escarnecidos, maltratados, ofendidos, perseguidos...
quando a própria morte parecer chegar... que nosso coração, nossa mente, nossa
alma se lembre que aquele que entrega a sua vida, que a perde, esse é quem a
salvará. Que não tentemos manter nossas vidas a salvo, mas que tenhamos fé
suficiente para perde-la. E que lembremos que após a morte haverá ressurreição.
Após a dor, haverá a glória. Após a luta, haverá o descanso e a recompensa do
Pai. Porque esse é o ensino da Páscoa. A Páscoa que também é nossa – como foi
de Jesus. A Páscoa que é nossa esperança. Vida que vence a morte. Vida que nos
traz descanso. Vida que nos diz para não desesperar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário