“Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes
vós mesmos de comer.” (Lucas 9.13a)
Ano passado, eu participei de uma
conferência em Manaus, chamada Oxigênio, e lembro que uma das principais frases
que me marcaram naquela conferência foi: “Esse
problema que você está vendo, esse descontentamento que arde em você... talvez
seja um chamado de Deus para você ser parte da resposta”. Isso realmente me
marcou. Porque eu fui praquela conferência com tantas crises, vivenciando
tantos problemas na minha vida cristã, enxergando tantos problemas nessa coisa
de ser igreja e tudo, e todas essas coisas estavam minando minha vida
espiritual, me tornando amarga, triste, desesperançosa. E quando ouvi aquela
frase, ela foi para mim. Esses problemas todos que eu estava enxergando, essas
coisas fora do lugar, sem solução, que estavam ardendo no meu coração... talvez
fosse o próprio Deus que os estava colocando na minha vida – e talvez Ele
estivesse querendo me chamar para ser a resposta que eles precisavam. Porém,
não entendendo a voz de Deus, ao invés de me tornar resposta, eu estava me
tornando reforço – reclamando, murmurando, julgando, condenando. E ao invés de
ajudar a diminuir o problema, eu só o estava aumentando.
E quando eu li esse trecho de
Lucas, me lembrei dessa frase. Nesse contexto, Jesus estava com seus apóstolos,
falando a uma multidão a respeito do Reino de Deus, havia horas. O dia já
estava chegando ao fim, e lá estava Jesus, os apóstolos e a multidão. Sendo
que, já no fim do dia, os discípulos se aproximam de Jesus para pedir a Ele que
mande aquela multidão embora, para voltar às aldeias e campos vizinhos, a fim
de encontrarem abrigo e alimento, pois aquele lugar em que estavam era deserto
(v.12). Uma boa ideia, não é? Os discípulos estavam preocupados com aquelas
pessoas, não queriam que elas ficassem sem abrigo e sem alimento ali, no meio
do deserto. A preocupação deles era genuína e com razão. Como nossas propostas
para resolução dos problemas, muitas vezes, também são prudentes e
justificáveis.
Porém, Jesus, como sempre, enxerga
o mais profundo de nós, de nossas motivações, de nossos pensamentos e
sentimentos mais escondidos. E responde: “Dai-lhes
vós mesmos de comer”. Porque uma preocupação com um problema, uma proposta
de solução que não envolve a MIM é tão fácil de ser oferecida. Por mais “honesta”
que seja minha preocupação e minhas propostas, se eu estou me eximindo da
RESPONSABILIDADE perante aquele problema, é muito provável que eu também vá
ouvir do Senhor Jesus: “Dê você de comer a eles!”. É como se Jesus estivesse falando:
“Você está vendo que existe um problema
que precisa de solução aqui? Por que você está me pedindo para manda-los embora
se virar pra resolver os seus próprios problemas, então? Não é assim que nós
fazemos! Vá você mesmo arrumar uma forma de solucionar o problema deles!”.
Venha você ser a resposta! Venha você ser a solução! Não passe para o outro,
quem quer que ele seja, a responsabilidade de resolver um problema que o Senhor
mostrou A VOCÊ! Porque Deus não nos chama para ser “identificadores de
problemas”, Ele nos chama a ser “solucionadores de problemas”. Era o que Jesus
fazia. É o que Ele nos convoca a fazer.
Estava tão confortável pros
discípulos enxergarem a fome e a falta de abrigo daquela multidão, compostas
por milhares de pessoas, e pedir que Jesus as mandasse embora para resolver
seus problemas. Eles já haviam passado o dia inteiro ali, com aquelas pessoas,
compartilhando com elas o “melhor que eles tinham”, a Palavra de Deus – pronto!
Já não estava suficiente? Eles já tinham oferecido tanto! Mas, para Jesus, não
era o suficiente. Sentar e falar àquelas pessoas, enxergar a dor deles, mas não
envolver-se, não tomar para si, não desejar doar-se pelo outro, era uma missão
muito distante de estar cumprida. Havia homens, mulheres e crianças ali, e o
chamado de Jesus foi: “Venham vocês ser resposta para a dor deles!”.
E o bonito do restante do texto é
que o que aqueles homens tinham para oferecer em obediência ao chamado do
Mestre era tão pouco! “Não temos mais que
cinco pães e dois peixes...”, foi o que eles responderam (v.13b). Mas esse
pouco, que aos olhos dos discípulos não era nada, era o suficiente para Jesus.
Porque o que Jesus espera de nós não é uma quantidade enorme de coisas que
possamos oferecer para resolver os problemas que Ele nos mostra – é que entreguemos
aquilo que temos. Só isso. Deus não espera de você mais do que você tem. Aliás,
Jesus nem precisava daqueles 5 pães e dois peixes! Ele poderia ter feito o
milagre sem eles. No entanto, Ele queria que os discípulos aprendessem a se
oferecer, oferecer tudo o que tinham, por mais ínfimo que aquilo pudesse parecer,
para ajudar a resolver aquele problema. E é assim conosco. Deus não está
preocupado com quantos pães e peixes existem nas nossas mãos, e com quanto o
tamanho de nossa oferta se aproxima do tamanho do problema que somos chamados a
resolver. O que Ele espera de nós é que haja em nós envolvimento tal na resolução
daquela tarefa que Ele nos chama a fazer, a ponto de entregarmos tudo o que
temos – ainda que sejam apenas 5 pães e 2 peixes para alimentar 10 mil pessoas.
É com a nossa entrega – total – que Ele está preocupado. É com nosso ASSUMIR A
RESPONSABILIDADE.
E isso é tão difícil! É tão fácil
enxergar que falta gente pra cuidar dos jovens da igreja – mas é tão difícil se
oferecer pra ser esse alguém. É tão fácil dizer que a igreja não está
arrecadando a oferta que precisava para investir em missões – mas é tão difícil
tomar iniciativa para mobilizar essas ofertas e entregar as suas próprias. É
tão fácil dizer que a igreja deveria evangelizar mais – mas tão difícil tomar a
frente para montar um programa de evangelismo. É tão fácil olhar para a
violência na nossa cidade, e colocar a culpa no governo – mas tão difícil desenvolver
num projeto para redução de violência. É tão fácil condenar a corrupção e a
falta de envolvimento político dos brasileiros – mas tão difícil fazer uma ação
de combate real à corrupção. É tão fácil ver gente com fome e sentir pena – mas
tão difícil ficar sem comer ou sem fazer as unhas para dar de comer a alguém. É
tão fácil se comover com um vídeo que mostra as dificuldades dos campos
missionários ao redor do mundo, e dos povos ainda não alcançados por Cristo –
mas tão difícil ser aqueles que assumem o compromisso de oração, de sustento ou
de doação de toda a sua vida para participar da redução dessas dores. É tão
fácil falar e apontar e criticar e condenar... mas tão difícil tomar para nós a
responsabilidade, e fazer.
Você está enxergando uma multidão
que precisa de abrigo e de comida? Que está correndo o risco de perecer de fome
no deserto? Isso está incomodando o seu coração? Está lhe gerando preocupação?
Deus está lhe chamando para ser a resposta. “Dai-lhes vós mesmos de comer”. É conosco. O que você pode oferecer
para saciar a fome deles? 5 pães e 2 peixes? É tudo o que você tem? Então é o
suficiente. Porque o resultado vem de um Deus TODO-PODEROSO, que transforma
nossas mais ínfimas ofertas num alimento para multidões. Ele não precisa de
nossas “quantidades”. Ele precisa da nossa doação – de vida. Quando nos
levantarmos para ser a resposta, Ele fará o milagre acontecer. Que possamos
aprender, com a ajuda do Espírito Santo, a transformar problemas menos em
reclamações, murmurações, julgamentos, e mais em soluções e respostas. Chamados
para ser resposta. E chamados pelo Mestre. Chamados para ser COMO O MESTRE.
Para a glória dEle, o Único digno, sobre Quem todas as coisas são. Ele nos
ajude. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário