quinta-feira, 3 de março de 2016

Quaresma – Dia 21 – Chamados para ser resposta


“Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer.” (Lucas 9.13a)

Ano passado, eu participei de uma conferência em Manaus, chamada Oxigênio, e lembro que uma das principais frases que me marcaram naquela conferência foi: “Esse problema que você está vendo, esse descontentamento que arde em você... talvez seja um chamado de Deus para você ser parte da resposta”. Isso realmente me marcou. Porque eu fui praquela conferência com tantas crises, vivenciando tantos problemas na minha vida cristã, enxergando tantos problemas nessa coisa de ser igreja e tudo, e todas essas coisas estavam minando minha vida espiritual, me tornando amarga, triste, desesperançosa. E quando ouvi aquela frase, ela foi para mim. Esses problemas todos que eu estava enxergando, essas coisas fora do lugar, sem solução, que estavam ardendo no meu coração... talvez fosse o próprio Deus que os estava colocando na minha vida – e talvez Ele estivesse querendo me chamar para ser a resposta que eles precisavam. Porém, não entendendo a voz de Deus, ao invés de me tornar resposta, eu estava me tornando reforço – reclamando, murmurando, julgando, condenando. E ao invés de ajudar a diminuir o problema, eu só o estava aumentando.

E quando eu li esse trecho de Lucas, me lembrei dessa frase. Nesse contexto, Jesus estava com seus apóstolos, falando a uma multidão a respeito do Reino de Deus, havia horas. O dia já estava chegando ao fim, e lá estava Jesus, os apóstolos e a multidão. Sendo que, já no fim do dia, os discípulos se aproximam de Jesus para pedir a Ele que mande aquela multidão embora, para voltar às aldeias e campos vizinhos, a fim de encontrarem abrigo e alimento, pois aquele lugar em que estavam era deserto (v.12). Uma boa ideia, não é? Os discípulos estavam preocupados com aquelas pessoas, não queriam que elas ficassem sem abrigo e sem alimento ali, no meio do deserto. A preocupação deles era genuína e com razão. Como nossas propostas para resolução dos problemas, muitas vezes, também são prudentes e justificáveis.

Porém, Jesus, como sempre, enxerga o mais profundo de nós, de nossas motivações, de nossos pensamentos e sentimentos mais escondidos. E responde: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Porque uma preocupação com um problema, uma proposta de solução que não envolve a MIM é tão fácil de ser oferecida. Por mais “honesta” que seja minha preocupação e minhas propostas, se eu estou me eximindo da RESPONSABILIDADE perante aquele problema, é muito provável que eu também vá ouvir do Senhor Jesus: “Dê você de comer a eles!”. É como se Jesus estivesse falando: “Você está vendo que existe um problema que precisa de solução aqui? Por que você está me pedindo para manda-los embora se virar pra resolver os seus próprios problemas, então? Não é assim que nós fazemos! Vá você mesmo arrumar uma forma de solucionar o problema deles!”. Venha você ser a resposta! Venha você ser a solução! Não passe para o outro, quem quer que ele seja, a responsabilidade de resolver um problema que o Senhor mostrou A VOCÊ! Porque Deus não nos chama para ser “identificadores de problemas”, Ele nos chama a ser “solucionadores de problemas”. Era o que Jesus fazia. É o que Ele nos convoca a fazer.

Estava tão confortável pros discípulos enxergarem a fome e a falta de abrigo daquela multidão, compostas por milhares de pessoas, e pedir que Jesus as mandasse embora para resolver seus problemas. Eles já haviam passado o dia inteiro ali, com aquelas pessoas, compartilhando com elas o “melhor que eles tinham”, a Palavra de Deus – pronto! Já não estava suficiente? Eles já tinham oferecido tanto! Mas, para Jesus, não era o suficiente. Sentar e falar àquelas pessoas, enxergar a dor deles, mas não envolver-se, não tomar para si, não desejar doar-se pelo outro, era uma missão muito distante de estar cumprida. Havia homens, mulheres e crianças ali, e o chamado de Jesus foi: “Venham vocês ser resposta para a dor deles!”.

E o bonito do restante do texto é que o que aqueles homens tinham para oferecer em obediência ao chamado do Mestre era tão pouco! “Não temos mais que cinco pães e dois peixes...”, foi o que eles responderam (v.13b). Mas esse pouco, que aos olhos dos discípulos não era nada, era o suficiente para Jesus. Porque o que Jesus espera de nós não é uma quantidade enorme de coisas que possamos oferecer para resolver os problemas que Ele nos mostra – é que entreguemos aquilo que temos. Só isso. Deus não espera de você mais do que você tem. Aliás, Jesus nem precisava daqueles 5 pães e dois peixes! Ele poderia ter feito o milagre sem eles. No entanto, Ele queria que os discípulos aprendessem a se oferecer, oferecer tudo o que tinham, por mais ínfimo que aquilo pudesse parecer, para ajudar a resolver aquele problema. E é assim conosco. Deus não está preocupado com quantos pães e peixes existem nas nossas mãos, e com quanto o tamanho de nossa oferta se aproxima do tamanho do problema que somos chamados a resolver. O que Ele espera de nós é que haja em nós envolvimento tal na resolução daquela tarefa que Ele nos chama a fazer, a ponto de entregarmos tudo o que temos – ainda que sejam apenas 5 pães e 2 peixes para alimentar 10 mil pessoas. É com a nossa entrega – total – que Ele está preocupado. É com nosso ASSUMIR A RESPONSABILIDADE.

E isso é tão difícil! É tão fácil enxergar que falta gente pra cuidar dos jovens da igreja – mas é tão difícil se oferecer pra ser esse alguém. É tão fácil dizer que a igreja não está arrecadando a oferta que precisava para investir em missões – mas é tão difícil tomar iniciativa para mobilizar essas ofertas e entregar as suas próprias. É tão fácil dizer que a igreja deveria evangelizar mais – mas tão difícil tomar a frente para montar um programa de evangelismo. É tão fácil olhar para a violência na nossa cidade, e colocar a culpa no governo – mas tão difícil desenvolver num projeto para redução de violência. É tão fácil condenar a corrupção e a falta de envolvimento político dos brasileiros – mas tão difícil fazer uma ação de combate real à corrupção. É tão fácil ver gente com fome e sentir pena – mas tão difícil ficar sem comer ou sem fazer as unhas para dar de comer a alguém. É tão fácil se comover com um vídeo que mostra as dificuldades dos campos missionários ao redor do mundo, e dos povos ainda não alcançados por Cristo – mas tão difícil ser aqueles que assumem o compromisso de oração, de sustento ou de doação de toda a sua vida para participar da redução dessas dores. É tão fácil falar e apontar e criticar e condenar... mas tão difícil tomar para nós a responsabilidade, e fazer.


Você está enxergando uma multidão que precisa de abrigo e de comida? Que está correndo o risco de perecer de fome no deserto? Isso está incomodando o seu coração? Está lhe gerando preocupação? Deus está lhe chamando para ser a resposta. “Dai-lhes vós mesmos de comer”. É conosco. O que você pode oferecer para saciar a fome deles? 5 pães e 2 peixes? É tudo o que você tem? Então é o suficiente. Porque o resultado vem de um Deus TODO-PODEROSO, que transforma nossas mais ínfimas ofertas num alimento para multidões. Ele não precisa de nossas “quantidades”. Ele precisa da nossa doação – de vida. Quando nos levantarmos para ser a resposta, Ele fará o milagre acontecer. Que possamos aprender, com a ajuda do Espírito Santo, a transformar problemas menos em reclamações, murmurações, julgamentos, e mais em soluções e respostas. Chamados para ser resposta. E chamados pelo Mestre. Chamados para ser COMO O MESTRE. Para a glória dEle, o Único digno, sobre Quem todas as coisas são. Ele nos ajude. Amém.

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