“Observando-o, subornaram
emissários que se fingiam de justos para verem se o apanhavam em alguma palavra”
(Lucas 20.20a)
Definitivamente, ao olhar para a
Bíblia, precisamos desenvolver o olhar de identificar em Jesus, e em todas as
coisas que Ele viveu, o exemplo para nossas vidas e todas as coisas que nós
também viveremos.
Estive pensando nesse episódio da
vida de Jesus. Escribas e sacerdotes armando uma cilada para pegar Jesus em um
erro e entrega-Lo às autoridades romanas e destruí-Lo – e em como isso existe
em nossas vidas cristãs também. E eu nem estou falando de como sofremos ciladas
e perseguições injustas em nossos relacionamentos com os descrentes – estou falando
das ciladas que sofremos dentro do próprio meio religioso, originadas daqueles
que deveriam ser defensores da fé junto conosco. E era isso o que Jesus estava
vivendo. Enquanto publicanos e pecadores sentavam ao Seu lado para ouvi-Lo e
aprender com Ele, os líderes religiosos do grupo ao qual Jesus pertencia (os
judeus) armavam armadilhas para derrubar Jesus.
E como é triste viver algo assim.
Tenho certeza que nenhuma decepção nessa vida é maior do que sermos enganados,
ou descobrirmos que estão armando para nosso mal, no meio daqueles em quem mais
confiamos. No meio dos que chamamos de irmãos. No meio dos que nos abraçam. No
meio do que chamamos de “igreja”. Isso é muito duro. Tão duro a ponto de fazer
muitas e muitas pessoas desistirem dessa coisa de “igreja” – de participar de
um grupo e dedicar-se a ele. Porque nos frustramos e nos ferimos, e essas
feridas são mais profundas do que a maioria que podemos experimentar. Assim,
muitos desistem.
Contudo, olhamos pra vida de
Jesus e toda ela era repleta desse tipo de coisas. Do início ao fim de Seu
ministério. Até o dia mais difícil de Sua vida – enganado e abandonado pelos
Seus. Como sempre, nós não paramos para mensurar quanto aquilo era duro pra
Jesus. Aqueles escribas e fariseus e sacerdotes eram, para a religião judaica,
a religião “do povo de Deus”, o grupo dentro do qual Deus determinou que o
Messias fosse trazido ao mundo, como nossos pastores, líderes de ministérios,
mestres da Palavra. Estamos acostumados com o fato desses homens estarem sempre
perseguindo a Jesus, e por isso tendemos a achar que Jesus lidava
tranquilamente com isso, sem nenhum problema – afinal, Jesus sabia o que se
passava no coração deles, né? No entanto, aqueles homens eram os líderes do “Povo
de Deus”, aqueles que deveriam estar ensinando os caminhos de vida ao povo,
aqueles que deveriam ser os exemplos e ajudar o povo a conhecer a Deus e
amá-Lo... mas eles faziam exatamente o contrário. E, certamente, o coração de
Jesus doía por conta disso. Ele era homem como nós.
Mas Jesus não desistiu. Ele não
abandonou os judeus por causa disso. E Ele também não agiu de forma negligente,
não se importando com o que aqueles homens pensavam e faziam, falando o que
quisesse e fazendo o que quisesse, de qualquer forma, independente do resultado
que aquilo teria, principalmente proveniente daqueles que armavam ciladas para
Ele. Não. Jesus identificava as armadilhas, com a ajuda do Pai, e respondia a
elas com sabedoria. Ele não precisava justificar-se àqueles homens pecadores e
maus. Mas, Ele fazia, na medida do possível. Ele não precisava medir Suas
palavras por causa do julgamento daqueles homens, mas Ele o fazia, na medida do
possível.
Nesse episódio, especificamente,
vemos isso. Os emissários enviados perguntam a Jesus se é lícito pagar tributos
a César – porque eles esperavam que Jesus fosse pregar revolução contra Roma ou
algo assim, e então diria que não se deve pagar tributos a César, já que boa
parte desses tributos era cobrado de maneira injusta e opressiva. E Jesus sabia
que aquela pergunta era uma cilada. E Ele poderia nem ter se dado o trabalho de
responder. Mas Ele age com sabedoria, e com sabedoria responde: “Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e
a inscrição? [...] Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”
(v.24-25). E a conclusão da narração é que: “Não puderam apanhá-Lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da
sua resposta, calaram-se” (v.26). E esse versículo 26, pra mim, resume todo
esse ensino.
Não adianta nos enganarmos e
esperarmos que nossa vida cristã seja sempre linda, com pessoas lindas,
honestas e bem intencionadas, que se dedicarão a nos ajudar e ao nosso bem. Não
será assim. Muito mais do que imaginamos, nós encontraremos, dentro do nosso
meio cristão, pessoas más, líderes maus, que procurarão puxar nosso tapete, nos
enganar, nos apanhar em erros para conseguir nosso mal diante de outros... nós
vamos viver isso. Por que posso afirmar isso? Porque Jesus viveu. E Sua vida é
o nosso exemplo – para as coisas boas de se viver, e também para as difíceis.
Porém, a grande questão para nós é como iremos enfrentar essas situações. E
nossa resposta é a mesma: seguindo o exemplo de Jesus. Nós sempre teremos duas
opções na hora de decidir como responder a algo que acontece em nossas vidas.
Contudo, a Palavra de Deus nos chama a escolher o exemplo do Cristo – porque somos
Seus seguidores e imitadores. E como Jesus agia diante dessas situações? Com
sabedoria. Com domínio próprio. Com temor a Deus. Honrando o Nome do Senhor. De
uma forma que se podia dizer a Seu respeito: “Não puderam apanhá-Lo em palavra alguma”. Jesus procedia de forma
que não se tinha do que acusa-Lo. Suas palavras eram medidas, controladas e
baseadas em amor. Ele não pagava mal com mal. Ele pagava mal com bem. E então,
mesmo os seus acusadores, ao Lhe ouvir, saíam “admirados da sua resposta”, e calavam-se. Esse é nosso Jesus. Esse
é nosso modelo. Alguém que poderia ter expressado toda Sua condenação e ódio
por tudo aquilo que aqueles homens faziam, enquanto líderes religiosos do povo,
mas não fazia assim. Respondia equilibradamente e com sabedoria. E era assim
que até mesmo Seus inimigos O admiravam.
Esse é o chamado para nossas
vidas. Que, mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo quando formos enganados,
quando forem armadas armadilhas para nos fazer cair – por aqueles que deveriam
ser nossos irmãos e apoiadores da fé – que nossos olhos possam voltar para
Jesus e lembrar de Sua sabedoria, domínio próprio e de Seu segundo maior mandamento:
amar ao nosso próximo – e amar o nosso inimigo. Jesus viveu assim enquanto
esteve em nosso meio, como homem. E nos convida a viver assim também. A sofrer
as dores com longanimidade. Paciência. E fé em Deus. A não desistir. A
perseverar. Porque nosso caminho é o caminho do amor, da misericórdia, do
perdão, da compaixão, da GRAÇA – o mesmo caminho que Jesus escolheu e viveu. Porque
Ele é o nosso exemplo, e sempre será. Porque as dores que Ele sofreu são e
serão as nossas dores – mas a sabedoria, o amor e o temor a Deus com os quais
Jesus decidiu reagir a essas dores também devem ser os nossos. Quando, na vida
cristã, tivermos que ser expostos às piores ciladas, provenientes daqueles de
quem menos esperávamos, que lembremos do exemplo de Jesus. E o sigamos. De
forma que todos os que nos perseguem possam olhar para nossas vidas e “não
podendo apanhar-nos em palavra alguma diante do povo; admirados da nossa
resposta, calem-se”. Essa é nossa maior arma. E é assim que venceremos. Para a
glória do nosso Pai e do Nome de Jesus. Ele nos ajude. Amém.
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