“Também os enviou a pregar o
reino de Deus e a curar os enfermos” (Lucas 9.2)
Que interessante a missão que
Jesus, pela primeira vez no Evangelho de Lucas, dá aos doze: pregar o reino de
Deus e curar os enfermos. Uma falando, outra fazendo. Uma para mudar o entendimento,
outra pra mudar a vida. Uma teórica, outra prática. Uma “espiritual”, outra “física”.
E é fantástico parar para observar isso. Quanto temos sido ensinados a separar “espiritual”
de “material”, e que somente o primeiro constitui nossa missão designada por
Deus. Temos crido que o “espiritual” é o que importa a Deus, e o restante é
apenas acompanhamento. Porém, quando esse texto começa, o texto das instruções
dadas aos doze para o envio que Jesus faria deles, ele diz: “Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes
poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas” (v.1).
E, nos relatos bíblicos, nem sempre as curas ou as libertações de
endemoninhados vêm acompanhadas por salvação. Portanto, a missão dada por Jesus
aos apóstolos, claramente possui não apenas o foco “espiritual” (salvação da condenação
eterna), mas também “material” (da nossa vida aqui nessa terra).
Missão integral. Missão de salvar
o ser humano aqui e agora, e também amanhã, na eternidade. Missão dada por um
Deus que reconhece que nós, seres humanos, possuímos necessidades físicas,
emocionais e espirituais, e que nos olha integralmente – e quer nos libertar
integralmente. Missão dada por um Cristo que, até então, vinha dando o exemplo
de alguém comprometido em salvar o homem em toda a sua existência – em suas
dores físicas tanto quanto em suas dores espirituais. Jesus perdeu tanto tempo
de seu ministério fazendo milagres físicos: curando cegos, surdos, paralíticos,
leprosos e tantas outras doenças, multiplicando comida para saciar fome; e
operando também milagres emocionais: a uma mulher adúltera trazida para ser
apedrejada, a uma mulher rejeitada por ser mulher, samaritana e adúltera, a
publicanos, gentios, pescadores, gente humilde e excluída, pecadores. Se pudéssemos
quantificar, quanto será que, de toda a narração dos evangelhos, estaria
relatando o tempo gasto por Jesus na realização de curas físicas e emocionais,
em comparação com o tempo gasto por ele falando especificamente sobre a
necessidade de libertação espiritual do ser humano? Não sei. Mas sei que os
relatos sobre as ações de cura física e emocional de Jesus foram muitíssimas. E
a missão dada aos doze incluía, antes mesmo de mencionar a pregação, a
realização destas curas. Deus se importa com elas. Elas fazem parte da nossa
missão. Deus olha para o homem em todas as suas necessidades – é nos chama para
também olhar assim, e trabalhar para atender a todas elas.
Outra coisa interessante é que o
verso 2, ao falar da missão dada por Jesus aos doze, usa o termo “pregar o
reino de Deus”, que é um termo muito menos usado do que o tradicional “pregar o
evangelho”, que aparece no verso 6. E, muitas vezes, por nos acostumarmos em
ouvir certos termos, em nossas práticas religiosas, vamos perdendo o verdadeiro
sentido dele. “Pregar o Reino de Deus” e “Pregar o evangelho” são usados, nesse
texto, como sinônimos. Ambos falam da missão dada aos discípulos naquele
momento. E eles, de fato, são sinônimos. Essa é nossa missão. Contudo, quando
falamos de “reino de Deus” costumamos imaginar algo muito maior do que “evangelho”.
Parece que o nosso entendimento a respeito do que é “pregar o evangelho” ficou
tão reduzido a algumas verdades bem objetivas acerca do “plano de salvação”,
que dificilmente falaríamos que pregar o evangelho e pregar o reino de Deus são
a mesma coisas. Mas eles são. Pregar o evangelho é muito mais do que ensinar
algumas verdades a respeito da condição espiritual do ser humano e da salvação
da alma em Cristo. É mais. É proclamar uma realidade em que quem REINA é Jesus.
Como é esta realidade? Qual é o jeito de Deus reinar? E isso começa com a
salvação da alma, mas isso continua em muitas outras coisas – em todo o
processo de santificação, de renovação da mente e do coração do homem, do
aprendizado de um novo jeito de viver. E nós precisamos, urgentemente, dessa
compreensão. Pregar o evangelho não é apenas bater de casa em casa, ensinando
os 4 passos para a salvação. É pregar uma vida em que o REI É JESUS. E isso se
prega com a boca, mas também com a vida – e, muitas vezes, principalmente com a
vida.
Jesus nos envia a uma missão que
inclui o alcance a toda a vida do ser humano: sua mente, por meio do anúncio
das verdades bíblicas; seu espírito, por meio da proclamação do caminho para
salvação em Cristo; e também do corpo e das emoções, por meio de uma
aproximação de preocupação e amor, e das curas que o Senhor realiza por meio de
nós. E continua sendo assim hoje. Chamados para proclamar e também para curar.
Para falar, mas também para tocar, abraçar, aconselhar, orar junto e ser canal
de libertação. Teoria e prática. Mente, corpo, alma e espírito. A missão inclui
tudo isso. E não podemos nos esquecer disso. O Reino de Deus estabelecendo-se
na terra: em todos os aspectos que possam envolver a vida do ser humano.
Termino com uma frase de Aristóteles:
“Onde as necessidades do mundo se cruzam com as suas possibilidades, aí está
sua vocação”. Aí está seu chamado. Quais as necessidades do mundo, das pessoas
ao seu redor, que se cruzam com suas possibilidades de ajuda? Espirituais,
emocionais, físicas... tudo isso é sua missão. Missão integral. E, assim, o
Reino de Jesus se estabelecerá entre nós. Para glória do Nome de Jesus. Amém.
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