“Aproximavam-se de Jesus todos os
publicanos e pecadores para o ouvir” (Lucas 15.1)
Quem são as pessoas que têm se
aproximado de nós? Quem são as pessoas de quem temos nos aproximado? Porque
esse texto fala muito de quem era Jesus – e de qual era a Sua missão. Mesmo
sendo Santo, mesmo sendo o perfeito Deus, os piores da sociedade (material e
espiritual) sentiam-se atraídos por Jesus. E se aproximavam para ouvi-Lo. Ainda
que Jesus falasse sobre pecado e o condenasse, ainda que Ele falasse sobre a
Santidade do Pai e a necessidade de arrependimento, ainda assim... publicanos,
pecadores, impuros, doentes, marginalizados, excluídos aproximavam-se dEle.
Enquanto isso, os perfeitinhos e santos, os religiosos “filhos de Abraão” cada
vez mais se afastavam dEle.
E nós? Quem são as pessoas que
temos atraído? Será que nossa postura, nossa vida atrai os sujos, os pequenos,
os marginalizados, os PECADORES deste tempo? Ou, ao olhar para nós, eles
enxergam os juízes que só sabem condená-los ou os santos dos quais eles não são
dignos de se aproximar? Porque, infelizmente, é assim que o mundo tem visto,
muitas e muitas vezes, a nós, cristãos. Porque os ensinamos a ver assim. Porque
fomos ensinados a nos manter longe dos pecadores. Não podemos nos misturar com
quem não entende a teologia no mesmo nível que entendemos. Não podemos visitar
igrejas que não sejam 100% santas em suas doutrinas. Não podemos ter amigos
pecadores. Não podemos pisar em solo que não seja santo. Só podemos estar na
companhia dos santos. E foi aí que construímos este muro que nos separa do
mundo real – o mundo que Jesus veio salvar. Sem perceber, fazemos como os
fariseus: “E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe
pecadores e come com eles” (v.2). Fazemos isso com nossos irmãos. Fazemos isso
em nossas igrejas. Perdemos, em nossas vidas, a misericórdia, o amor, a
compaixão que havia em Cristo – e que atraía a Ele os piores pecadores. A
misericórdia, amor e compaixão que ainda há nEle e que é o que continua atraindo
a Ele os pobres desta terra – aqueles que nós rejeitamos.
E o ensino volta para o mesmo
ponto: quando crescemos, Ele diminui. Quando nos achamos bons demais, é então
que estamos mal. Quando consideramos o outro mau demais, é quando nós mesmos
estamos assim. Quando o orgulho tem espaço, o espírito, certamente, não o tem.
Não há espaço para este orgulho que olha as pessoas com superioridade, e a
Presença Salvadora de Jesus. E Jesus vem, então, ensinar isso, por meio de
várias parábolas – A ovelha perdida, a dracma perdida, o filho perdido – para ensinar
uma coisa só: o Reino de Deus é para os perdidos, e não para os santos. Para os
doentes, e não para os sãos. Para os imperfeitos, e não para os perfeitos. Por
um fato simples: diante de Deus, não existem santos, sãos e perfeitos. Somos
todos perdidos, doentes e imperfeitos. Contudo, para fazer parte do Reino dEle,
precisamos nos reconhecer assim – e parar de nos sentir melhores do que os
outros. Não há nada melhor em nós. Nada. Porque tudo que temos de bom é,
puramente, graça de Deus. Em essência, somos exatamente iguais a qualquer
publicano e pecador. E é por isso que Jesus nos recebe.
Termino com uma música que sempre
me confronta demais. É um desafio constante para minha mente orgulhosa e soberba,
para essa carne má que há em mim e que me faz acreditar, vez ou outra, que sou
melhor do que sou – e que me faz desejar estar junto apenas dos santos e
perfeitos. Até que eu paro e me lembro de Jesus – e de quais pessoas Ele
escolheu estar perto. De quais pessoas estavam ao redor dEle. E volto a
compreender onde devem estar os meus olhos e o meu coração. “Sou humano demais
pra compreender...”.
Eu fico tentando compreender
O que nos Teus olhos pôde ver
Aquela mulher na multidão
Que, já condenada, acreditou
Que ainda havia o que fazer
Que ainda restara algum valor
E ao se prender em Teu olhar
Por certo haveria de vencer
E assim fizeste a vida
Retornar aos olhos dela
E quem antes condenava
Se percebe pecador
Teu amor desconcertante
Força que conserta o mundo
Eu confesso não saber compreender
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Este jeito que escolheste de amar quem não merece
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Que aqueles que escolheste e tomaste pela mão
Geralmente eu não os quero do meu lado
Eu fico surpreso ao ver-Te assim
Trocando os santos por Zaqueu
E tantos doutores por Simão
Alguns sacerdotes por Mateus
E, mesmo na cruz, em meio à dor
Um gesto revela quem Tu és
Te tornas amigo do ladrão
Só pra lhe roubar o coração
E assim foste o contrário,
O avesso do avesso
E por mais que eu me esforce
Não sei bem se Te conheço
Tu enxergas o profundo
Eu insisto em ver a margem
Quando vês o coração
Eu vejo a imagem
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Este jeito que escolheste de amar quem não merece
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Que aqueles que escolheste e tomaste pela mão
Geralmente eu não os quero do meu lado
Mas recebemos, em nós, o
Revelador do Coração do Pai. Que Ele nos ensine a ver e a ser como Cristo é.
Até que cheguemos à estatura do Varão Perfeito – Jesus, nosso Senhor. Para
glória e revelação do Seu Nome na terra. Amém.
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